ELEMENTOS DE PSIQUIATRIA

---"De POETA, MÉDICO e LOUCO, todos nós temos um pouco." Não sou médico, mas recolhi por acaso elementos úteis a muitos estudiosos. Transcrição sem perigo de erro.

---Mudanças profundas na MEDICINA a partir da segunda metade do século XIX. A PSIQUIATRIA contribuiu muito nestas evoluções, com avanços em que a psicofarmaterapia modificou a dramaticidade das doenças mentais: pesquisas biológicas e estudo sobre moléculas diferenciadas, ajustando-se a necessidades individuais, mistério das trocas neuro-hormonais... Idem as descobertas da PSICANÁLISE em relação à personalidade e ao comportamento humano. ----- Na PSICOTERAPIA, diversas formas de abordagem permitem aproximação do indivíduo com ele mesmo ou o outro. Ora, o homem é inegavelmente social e sua inserção no grupo a que pertence tem ação bilateral: mesmo único-indivisível, sofre influências e influencia o outro, em processo dinâmico. O termo 'psicossomático' reflete a interdependência dos fatores psíquicos e somáticos na manifestação das doenças. Incluído também o fator social, saúde e doença determinados por fatores biológicos, psicológicos e sociais, nenhum médico deve se limitar a parte apenas clínica e sim considerar no paciente a totalidade, observando sua relação com familiares, que influi na evolução da doença e na eficácia do tratamento. ----- Contudo, há questões que transcendem a análise científica, como por exemplo a relação mente/corpo e os vários modelos conceituais da relação paciente/médico. Ainda um grande grupo de médicos exclui os fatores psicológicos e sociais, em atitude radical e fechada, fundamentados apenas nas alterações biológicas. Pela OMS, 30% dos doentes apresentam problemas de psiquiatria; na mesma proporção, os que exageram em 'necessidades' psiquiátricas... - ambas as posturas fragmentam a doença. ----- O organismo extrai do meio ambiente as condições boas para sua conservação e desenvolvimento e ao mesmo tempo sofre influências desestabilizadoras. Há uma complexa organização de mecanismos defensivos, o organismo podendo adaptar-se e enfrentar a má influência do meio. Do fracasso da HOMEOSTASE, equilíbrio, surge a disfunção orgânica, a doença, no geral combinação complexa de diversos fatores - elementos patogênicos do meio agredindo elementos sensibilizadores e debilitando as defesas do organismo. O ideal seria para todo médico o cnhecimento das informações e relativa PSICOLOGIA, a fim de manter a homeostase a nível psíquico; mecanismos de defesa são encontrados em todos os indivíduos, de acordo com a sua personalidade.

1-LIBIDO - Origem latina: vontade, desejo. Termo eleito por FREUD exprime a pulsão inata biológica para o prazer sexual, também responsável pela motivação de certas características da vida adulta. Expressão tirada da teoria da afetividade - energia considerada como uma grandeza quantitativa de pulsões a tudo o que se entende sob o nome de amor. Pulsão sexual no limite psicossomático, libido é o aspecto psíquico - ruptura entre a pulsão sexual (somático) e a libido (psíquico); onde a tensão não pode ser psiquicamente utilizada, faz aparecer a angústia. ----- 2-REPRESSÃO - Quando ocorre proibição de satisfazer a energia da libido, ligada a pulsão, a libido deverá ser utilizada, caso contrário o indivíduo pode recorrer ao mecanismo de retirar do consciente o afeto ou a representação ligada à pulsão, produzindo desprazer. Para FREUD, repressão é um mecanismo consciente em que se faz desaparecer uma ideia ou aspecto desagradável, colocando num nível que ele chamou de pré-consciente. As motivações morais desempenham um papel importante na repressão, especialmente contra os impulsos sexuais: se o material reprimido alcançar o nível consciente, ocorre a depressão. ----- 3-DESLOCAMENTO - Ocorre quando o afeto (energia da libido vinculada à pulsão) se separa do objeto ou representação que o originou e passa para outra representação que se mantém unidas por uma cadeia de associações inconscientes. A conversão, por exemplo, seria um afeto deslocado para o plano somático (prazer genital deslocado para outra zona corporal); fobia, passagem da angústia decorrente de um conflito intrapsíquico para um objeto externo no qual a angústia ficaria circunscrita; pensamentos ou atos compulsivos do obsessivo, vividos com ansiedade que seria muito mais intensa sem o deslocamento da energia do objeto originári. ----- 4-REGRESSÃO - Para FREUD, retorno a uma etapa anterior da organização psíquica, período em geral onde não houve satisfação da libido: recurso para evitar situação de insatisfação ou ansiedade, gerada pela dificuldade em lidar com um conflito. Em vez de entender-aceitar-resolver um desejo inadmissível e, assim, permitir o desenvolvimento gradual do aparelho psíquico, o indivíduo busca uma via lateral para a satisfação da libido, insitindo em permanecer na fase da organização que lhe foi mais satisfatória, isto é, o retorno a uma gratificação da vida mental evita o sofrimento da situação desagradável e o confronto com o "perigo"; dificulta, porém, o desenvolvimento normal do amadurecimento emocional, imprimindo a concepção 'progressão = sofrimento'. O histérico dependente, por exemplo, adota um aspecto de infantilismo. ----- 5-ISOLAMENTO - Mecanismo de defesa contra a pulsão inicial em que sistematicamente separa-se um pensamento ou uma ação do contexto afetivo real; suprime-se a possibilidade do contato, que seria o objeto final do investimento afetivo em relação ao objeto. O isolamento é processo típico da neurose obsessiva, em que é rompida a conexão entre os pensamentos ou entre os comportamentos de um mesmo idivíduo. ----- 6-INTROJEÇÃO - Termo introduzido por SANDOR FERENCZI, depois adotado por FREUD, que significa um processo ativo em que o indivíduo passa de fora para dentro objetos e qualidades inerentes a estes objetos. Essa passagem para dentro é limitada ao ego do indivíduo, isto é, o objeto internalizado é localizado numa instância do aparelho psíquico, no ego, tornando-se a parte integrante da psiquê em desenvolvimento. A introjeção é um dos mecanismos que participa na aceitação ou na rejeição final do objto externo, "bem" ou "mal", dependendo ser fonte de prazer ou desprazer. ----- 7-PROJEÇÃO - Mecanismo pelo qual o indivíduo atribui a outros as emoções, qualidades, desejos e atitudes que desconhece em si próprio ou lhe são indesejáveis; assim, recusa o desagradável, tira-o de seu interior e o localiza no exterior, desta forma defende-se da pulsão interna angustiante e extremamente inquietante, reconhece no outro o que desconhece em si, rejeita o que não quer ser. A projeção pode estar presente na paranoia, onde as representações lançadas para o exterior retornam sob forma de recriminação; o afeto é incorporado por um objeto, passando este objeto a ser um perseguidor; presente também na fobia, em que a causa dos afetos encontra-se no mundo exterior, onde a reação à ameaça externa se concretiza nas fugas fóbicas. FREUD fala do "ciúme projetivo" (diferente do ciúme 'normal' e do delírio paranoico), o indivíduo defende-se de seus desejos em relação a uma terceira pessoa, impondo-se ao cônjuge, deslocando do seu inconsciente para o outro seus sentimentos inaceitáveis. Para FREUD, existe o aspecto "normal" do mecanismo de projeção, encontrado na superstição e na mitologia, às quais pelo desconhecimento do mundo psíquico e das forças da natureza, atribuem-se os desejos inconscientes e uma realidade suprassensível a seres de outro mundo. ----- 8-ANULAÇÃO (RETROATIVA) - Mecanismo de defesa do ego em que o indivíduo tenta apagar ou reparar pensamentos, atos ou gestos, com o objetivo de tornar "irrealizada" uma situação já passada. Neste processo, recorre-se a pensamentos ou comportamentos de significados opostos ou comportamento repetido, poém o seu significado é compreendido ao inverso; naanulação, suprimi-se a realidade como se o tempo fosse reversível. Para FREUD, representa o conflito entre dois movimentos opostos, com intensidade quase igual, seria em última análise ambivalência amor/ódio no conflito interpulsional. Característica da neurose obsessiva onde a compulsão toma uma configuração mágica em que a sua realização visa à anulação do passado. ----- 9-FORMAÇÃO REATIVA - Adoção de uma atitude exatamente oposta ao desejo reprimido, significando uma reação defensiva contra o desejo, de uma oposição à realização dele. Encobre-se uma pulsão contra a qual o consciente se defende. É considerada, pois, o elemento consciente de força igual e de direção oposta ao investimento que é inconsciente. Pode estar presente no obsessivo, que adquire traços de caráter com tendências rígidas, moralistas, compulsivas. Em geral, estas tendências consituem defesa bem sucedida em relação à representação sexual inconsciente e a sua recriminação. Pode ser vista na histeria, mas sem generalização do obsessivo, limitada a relações afetivas, como por exemplo a mãe que superprotege os filhos como defesa ao ódio inconsciente por eles. FREUD atribui também à formação reativa importante papel na estruturação do superego, instância do psiquismo indispensável à formação dos padrões pessoais e sociais (consciência moral, auto-observação, formação de ideais). ----- 10-IDENTIFICAÇÃO - Processo inconsciente em que um indivíduo elege um objeto (uma pessoa) ou objetos parciais (características ou partes da pessoa) e os assimila; toma o outro para si e se transforma total ou parcialmente, não sendo o imitador de outro, mas a expressão de elementos comuns que permanecem no inconsciente. Através do mecanismo de identificação, a criança construirá um modelo interno adequado, pautando a construção de sua personalidade em função de uma série de identificações, a princípio baseadas a relação com o pai e com a mãe, ambos objetos de amor e rivalidade. ----- 11-SUBLIMAÇÃO - Transformação das pulsões sexuais em atividades, sem qualquer relação aparente com a sexualidade, especialmente as de maior valor social. Para FREUD, sob o ponto de vista econômico e dinâmico, a pulsão sexual é desviada de seu alvo originário para outro, em perder a intensidade; aparentemente, determinadas atividades não manifestam intenção sexual, como criação artística e investigação intelectual. Sobre o narcisismo, FREUD considera que na sublimação a energia do ego é "dessexualizada" e deslocada para atividades não sexuais; admite também a hipótese de que a sublimação não seja apenas relativa a pulsões sexuais, mas também a pulsões agressivas. ----- 12-NEGAÇÃO OU DENEGAÇÃO - Termos usados por FREUD, ambos com o significado de negar: recusa da percepção de um acontecimento que pertença ao indivíduo. É o processo pelo qual o indivíduo defende-se de desejos, pensamentos ou sentimentos negando que lhes pertençam. É também o momento em que um desejo inconsciente recalcado reaparece sem que o seu conteúdo representativo atinja a consciência. ----- 13-INTELECTUALIZAÇÃO - Processo em que o indivíduo manifesta emoções e conflitos de forma discursiva, mantendo afetos à distância e neutros. O termo é entendido principalmente como resistência ao tratamento, os mecanismos descritos podendo ser considerados neuróticos, não sendo porém patrimônio exclusivo destas perturbações.

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FONTE:

Velha apostila encontrada numa livraria-sebo, sem identificações.

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 06/03/2018
Código do texto: T6272551
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