“O PODER GERA ATÉ ORGASMOS”

Li por aí, nem me recordo mais em que revista ou jornal, uma frase atribuída a Ulysses Guimarães: “O poder gera até orgasmos”. E quem for voyeur, aproveite o momento para assistir a orgasmos múltiplos, aqueles dos candidatos eleitos. Verdadeiramente um delírio difícil de alcançar a dois.

A propósito das eleições e do debate sobre a corrupção, é simplesmente insuportável receber tantos e-mails. Como aguentar a cantilena que diz ser Dilma uma ex-guerrilheira, que besteira. O perdão existe. Por mim, você está perdoada, Dilma. Eu quero é ver uma mulher na cadeira maior da nação, dê no que der. Por outro lado, se Serra for o vencedor, a ele sejam dados todos os louros da vitória. E que a sua gestão seja tão boa que o brasileiro venha a repetir o trava-línguas: “Eu nunca vi um serrote serrar como este serrote serra”.

Que antipatia esses outros textos veiculados por e-mails que demonstram sentir saudades da ditadura. Acredito que tais tipos de saudosos nasceram pós Figueiredo. Dá até vontade de ver o exército nas ruas e que comece sua ação justamente nesses saudosistas. De minha parte, dou graças a Deus de haver passado aquele período quando de tudo se tinha medo, de quando temíamos espiões disfarçados nas salas da faculdade. De todos os olhos verdes e de todos os ouvidos ensurdecidos de sonhar com rajadas de metralhadoras.

Àquela época a cidade de Aracaju, aliás, todo o Estado de Sergipe, ainda cheirava à província. Longe de tudo, alheia a quase tudo. A tecnologia ainda demoraria a chegar, Mas ainda assim, precisei passar por um departamento policial para liberar um pequeno texto, um simples diálogo sobre Santos Dumont que eu deveria apresentar com meus alunos em evento escolar comemorativo ao “inventor” do avião. Pior, tive meu magrelo braço apertado por um alto oficial do exército, em plena Rua João Pessoa. Isto já disse em uma crônica, a cena completa.

Li Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. Se você que me lê ainda não conhece esta obra, eu a recomendo como uma importante e inesquecível leitura. Bom ler também sobre o que acontecia nos famosos porões do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), no Rio de Janeiro.

“Anos de chumbo” inesquecíveis para muitos brasileiros, inclusive para os oficiais do Exército, pois são seres humanos e nem todos concordavam com o que acontecia. Muitos alunos fardados eu tive, inclusive poetas e músicos.

Gente intransigente, intolerante está por toda parte e não apenas entre os militares. Vale lembrar, entretanto, respeitosamente, como é conveniente, que as Forças Armadas são as Forças Armadas. E elas que me perdoem, pois o resultado daquele momento, para mim, é um temor maior do que se deve ter à ira divina.

A respeito da corrupção de que tanto falam e que a mim não compete afirmar ou negar, e nem me postar em cima do muro, fico também me perguntando o que está acontecendo e que estranhamento seria esse. A corrupção nasceu junto com a humanidade e, segundo muitos estudiosos, encontra-se registrada na Bíblia.Muitos são os estudos que mostram a ancianidade da corupção. No Brasil, ela começou durante o período da colonização. Atravessou todas as etapas do processo civilizatório. A burguesia nadou em berço esplêndido, formou filhos nas melhores instituições e acumulou um patrimônio fabuloso. Até já ouvi por aqui se falar de um senhor “feudal” que a cada filha que se casava, dava-lhe como presente um engenho.

Por que o Brasil ficou miserável? Por que deixou aumentar a delinquência? Por que sucateou a escola pública? E mais, e mais. Pergunto por perguntar, este assunto já está batido.

Sim, voltando à corrupção, ela existe e jamais deixará de existir. Como dizia meu professor de Língua Portuguesa na Universidade, “Onde tem gente, tem safadeza”.

Gostaria de saber qual seria a melhor forma de governo, mesmo ainda acreditando que, com ou sem defeitos, é a Democracia. Também creio que “o coração tem razões que a própria razão desconhece” e que “a voz do povo é a voz de Deus”. E, como já disse um filósofo, “Todo homem quer ser Deus”, pois arrematando com Ulysses, tenha-se a certeza: “O poder gera até orgasmos”. E corrupção. "Podem me prender, /podem me bater, /mas eu não mudo de opinião /e daqui do morro eu não saio, não".