“PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE”... TIRIRICA

A mídia está prenhe de artigos sobre Tiririca, candidato eleito com muito mais que expressiva votação. Vale notar que esses votos não são do Nordeste, historicamente culpabilizado por situações que alguns metidos a entendidos consideram ridículas.

Ridículo mesmo é não se olhar para tal fato sem o pensamento se voltar para cada área do conhecimento humano. Desde a Estatística, que apura quantidades, índices e percentuais até a Sociologia. Isto sem deixar de lado a História, a Psicologia, o Direito e a Ciência Política. Vale, inclusive, a Literatura. E todas as outras artes, pois que temos agora o ultraje à arte dramática tendo em vista que o candidato exerce a nobre função de palhaço.

"Brasil, mostra a tua cara!" Quanta incoerência! Fala-se tanto de direitos, de cidadania, de exclusão social, de constrangimento. Mas como? Que sentido faz isto no momento em que alguns profissionais da mídia ridicularizam um ser humano por ser analfabeto? Alguém já pensou quanto seria cruel e desumano, além de ético e imoral, se um professor fizesse o mesmo com seus alunos? Em que buraco enfiariam a cabeça a Pedagogia, a Didática e a Psicopedagogia? O que pensa a Justiça de um massacre desses contra um ser humano? Será que uma pessoa não sabe ler apenas porque escolheu não saber? Quanto estudo é este que existe pelas academias cujo resultado seria o de achincalhar um indivíduo sabendo-se que cultura é tudo o que o ser humano produz? E Tiririca produz!

Tiririca produz arte e anima crianças, jovens e adultos. Torna a vida divertida e suportável. Tiririca é a face que os brasileiros historicamente tentam esconder.

Por tanta falta de coerência entre a teoria e a prática, a vida real e a imaginada, é que vale a pena inserir a este texto, e a propósito de Tiririca, parte da letra de Cidadão, da autoria de Lúcio Barbosa:

Cidadão

Composição: Lucio Barbosa

(...)

Tá vendo aquele colégio moço?

Eu também trabalhei lá

Lá eu quase me arrebento

Pus a massa fiz cimento

Ajudei a rebocar

Minha filha inocente

Vem pra mim toda contente

Pai vou me matricular

Mas me diz um cidadão

Criança de pé no chão

Aqui não pode estudar

Esta dor doeu mais forte

(...)

Ser deputado não é ser vestibulando. E é bem melhor não se tocar neste assunto de vestibulares. Tão bons dizem ser e a cada dia temos mais profissionais de pouca qualidade e desempenho sofrível em suas áreas de formação.

Cultura e letramento são independentes de inteligência. Isto é, alguém pode saber ler e escrever e não ser tão inteligente assim, a área educacional bem sabe disto. Tantos sabem ler e escrever e não dão provas de inteligência. Pior ainda, não se comportam de forma ética, moral e digna. A Justiça bem sabe de tantos casos de pessoas de alto nível de formação e até portadores de graus elevados de formação intelectual, mas que se comportaram de forma indigna, imoral, antiética e nada inteligente. Temos até Juiz de Direito que cometeu crime passional.

“Demorou, mas finalmente aconteceu. Pela primeira vez, um palhaço verdadeiramente assumido foi eleito deputado federal. Ao contrário de muitos que vestem outras fantasias, Tiririca pediu votos tal como é, sem subterfúgios. Quem dera se todos os políticos tivessem a mesma postura e revelassem antes das eleições o que são realmente. Evitariam as costumeiras decepções”. Foi o que afirmou Giovani Allievi, jornalista, secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Aracaju (1994-96), editor do Correio de Sergipe (2002-05) e do Caderno "Memórias de Sergipe”, assessor de Imprensa em sete campanhas eleitorais, titular da coluna "Bastidores" do Correio de Sergipe.

Outra declaração a ser lida e relida, refletida, é a de Rogério Schimitt, consultor político, com doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Foi professor da Universidade de São Paulo (USP), da PUC-SP e da Fesp-SP. Publicou o livro Partidos políticos do Brasil: 1945-2000 (Jorge Zahar Editor, 2000) e co-organizou a coletânea Partidos e coligações eleitorais no Brasil (Unesp/Fundação Konrad Adenauer, 2005):

“Nesse tempo todo, o Tiririca foi objeto de inúmeras reportagens jornalísticas, editoriais e colunas de opinião. Quase sempre, o tom dessas matérias era negativo. Em alguns casos, a própria candidatura do Tiririca foi apresentada como uma desmoralização da democracia. Em outros casos, o voto no Tiririca foi reduzido a um simples voto de protesto. Essas análises sempre me incomodaram. Algumas vezes, pelo seu indisfarçável viés elitista e/ou autoritário. Outras vezes, pela total falta de comprovação empírica das hipóteses levantadas”.

Para exemplificar o que pensa um profissional do Direito, escolhemos a palavra de Ailton Elisiario de Sousa, advogado e Presidente da Academia de Letras de Campina Grande:

“Os adversários de Tiririca buscaram impugnar sua candidatura sob o argumento de ofensa à democracia. Promotores de Justiça, por sua vez, alegam ser Tiririca analfabeto, a quem a lei veda registro de candidatura. O juiz eleitoral Aloisio Sérgio Rezende Silveira rejeitou pedido do promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes para fazer um teste de leitura e escrita com o candidato, por não ter vislumbrado qualquer causa de inelegibilidade na sua candidatura".

E ainda disse que:

"Em sua decisão, o juiz afirmou que, a lei "não exige que os candidatos possuam mediano ou elevado grau de instrução, mas apenas que tenham noções rudimentares da linguagem pátria, tanto que é preceito do próprio Estado democrático de Direito a pluralidade/diversidade, buscando-se evitar, inclusive, a formação de um elitismo no corpo dos membros dos poderes legislativo e executivo." Agora, o mesmo juiz recebe denúncia sob o argumento de falsidade ideológica produzido por "artificialismo gráfico" em carta apresentada pelo candidato eleito para provar que é alfabetizado”.

Tiririca não é protesto, é fotografia e, parece que sapos que se querem ver príncipes, não aprovam o olhar do fotógrafo.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS

http://www.infonet.com.br/giovaniallievi/ler.asp?id=104620&titulo=giovaniallievi

http://www.valtervieira.com.br/artigos/75/Em+defesa+do+Tiririca

http://www.artigonal.com/politica-artigos/tiririca-e-a-judicializacao-eleitoral-3409210.html