Populismo e Aquecimento Global Provocando Grandes Catástrofes

A questão do aquecimento global alcançou contornos dramáticos com a publicação do relatório Stern no Reino Unido em 2006. Economistas de todo o mundo consideram que as empresas não podem mais desprezar os impactos ambientais no planejamento de seus empreendimentos. A prova cientifica de cataclismos iminentes neste século são irrefutáveis e há grande preocupação com o desenvolvimento de técnicas para utilização de energia limpa.

O aquecimento global está afetando seriamente a economia do planeta. O derretimento de geleiras provocará graves inundações afetando o abastecimento de água e a agricultura na Índia, na China e parte da América do Sul. As áreas costeiras, onde uma em cada vinte pessoas vive no planeta, serão seriamente afetadas, a começar pelos países mais pobres cujas economias serão muito prejudicadas. Mesmo os mais ricos não sairão imunes, como no Sul da Europa, pelas dificuldades com a água, nos Estados Unidos, com o aumento da velocidade dos furacões, e no Reino Unido, com as inundações.

No Brasil, recentes catástrofes com mortes e inundações em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas e São Paulo confirmam o desarranjo climático provocado pelo aquecimento global e pela falta de planejamento urbano. Encostas são ocupadas irregularmente por falta de fiscalização adequada e por interesses políticos escusos que, na busca pelo voto, fecham os olhos dos administradores públicos para a ocupação ilegal, inclusive estimulando-as, como acontece em vários trechos da Serra do Mar no Estado de São Paulo. Os políticos aparecem depois das catástrofes para prestar “ajuda humanitária”, quando deveriam ter planejado e prevenido as ocupações irregulares por todo o país.

Para se evitar as catástrofes serão necessários investimentos da ordem de 1% do PIB mundial para reduzir as concentrações de gás carbônico para cerca de quinhentas partes por milhão (500ppm) através da redução da procura por mercadorias e serviços que produzem emissões intensas, aumento da eficácia, diminuição drástica do desmatamento e mudanças para tecnologias de baixo carbono na produção de energia, transportes e aquecimento.

A transição para a nova economia de baixo carbono é impostergável apesar da grave crise econômica que se está atravessando com tendência a cortes nos gastos e protecionismo para os mercados internos que dificultam a meta de redução de 80% até 2050.

No caso do Brasil, grande parte das emissões é devida ao desmatamento na Amazônia que precisa ser contido. Além disso, o modelo de transporte rodoviário utilizando diesel de baixa qualidade precisa ser alterado. A Petrobrás distribui no Brasil um diesel com alto teor de enxofre que é cancerígeno e exporta o diesel limpo, desatendendo determinações do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o que caracteriza um conflito entre governo, desenvolvimento e proteção do meio ambiente.

O aproveitamento do potencial eólico no Nordeste onde há muito vento em época de seca precisa ser estimulado através de investimentos em pesquisas para que se tenha o modelo dinâmico dos ventos, pois faltam conhecimentos e a incerteza implica altos custos para aproveitar essa energia abundante no Nordeste e no Sul.

Falta no país uma política de incentivos para que as empresas se ajustem ao baixo carbono, pois os principais incentivos vão para o alto carbono. Governo, empresas e a sociedade civil terão de se unir para a gestão impostergável de uma nova economia de baixo de carbono.

Fala-se muito em preparar para as gerações futuras um mundo melhor, menos poluído, sustentável. Mas é necessário também preparar uma geração futura melhor, menos agressiva, mais consciente, menos consumista, o que poderá ser realizado através de um efetivo choque cultural e educacional que, para muitos, sequer foi iniciado.

Nagib Anderáos Neto

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