11 DE SETEMBRO, TODAS AS PALAVRAS

11 DE SETEMBRO, TODAS AS PALAVRAS

Maria Teoro Ângelo

Todas as palavras foram ditas sobre o atentado terrorista contra os Estados Unidos. Falou-se sobre a violência, sobre a angústia diante da morte, sobre o perigo de toda espécie de radicalismo, sobre o fanatismo religioso, sobre a insegurança do mundo e uma possível guerra nuclear.

Todas as palavras foram gastas nos jornais, nas revistas, no rádio, na televisão, na internet sobre a fortaleza norte-americana, agora tida e vista como vulnerável, atingível, tocada e destruída. E o perigo da guerra biológica e as previsões de Nostradamus e a cultura violenta que os americanos exportam para o mundo através dos filmes e dos jogos de computador.

Todas as palavras para reviver o grito dos inocentes através dos celulares, das janelas em fogo, despencando para a fuga , soterrados pelo colosso em chamas, encarando a face da morte sem perdão que avançou sobre eles com suas garras ígneas e ferozes.

Todas as palavras ocuparam todos os espaços: as igrejas, as escolas, os bares, o trabalho, as esquinas como reflexão sobre o fato que nos pegou de surpresa naquela manhã de setembro. As consequências econômicas no mundo, este mesmo mundo que agora é alvo potencial de qualquer coisa semelhante ao horror que vimos e revimos tantas vezes.

Todas as palavras foram usadas para lembrar Davi e Golias, a prepotência americana e a ironia do ataque iniciado com facas de cozinha. A possível volta do macarthismo que caçará ,desta vez, não os amigos do comunismo, mas os simpatizantes do mundo árabe e da religião islâmica.

Todas as palavras foram proferidas, num primeiro momento, para conter ou suscitar a sede de vingança contra o inimigo invisível, suposto, suspeito, que não se define em fronteiras geográficas, mas é formado por minorias suicidas, bombas humanas espalhadas por todos os cantos. Depois a guerra declarada ao Afeganistão, a caça ao mentor, sua captura e morte e a insegurança pela certeza de que outros suspeitos também invisíveis continuam andando por aí.

Todas as palavras para lembrar Hiroshima e Nagasaki e todas as guerras e todas as barbáries cometidas desde que o mundo é mundo. O teocentrismo, pensamento medieval que ainda existe, o horror à modernidade, o jeito de pensar que choca o ocidente, o direito de matar em nome de um deus, as cenas que não queríamos ver e vimos e revimos e revimos.

Todas as palavras foram gritadas querendo a reparação do mal. As pessoas assumindo posições críticas ou depondo como testemunhas oculares do acontecimento. Lembrou-

-se de Jonathan Swift, escritor inglês, que odiava a humanidade como um todo e que tão bem soube ironizá-la em “As Viagens de Gulliver” onde mostra as tolices que desencadeiam uma guerra. Falou-se sobre o interesse econômico por trás dos conflitos, a vingança dos humilhados. Falou-se sobre o certo e o errado, o bem e o mal.

Todas as palavras deverão continuar a serem ditas para mostrar que a morte de seres humanos não justifica nenhuma causa, seja de que lado for. Todas as palavras para evitar o preconceito que pode advir cada vez mais forte e cruel contra os estrangeiros e contra as religiões.

Todas as palavras deverão ser pronunciadas pelos líderes mundiais para proclamar a paz. Todas as palavras para que se formem modelos mais efetivos na cabeça das crianças. Todas as palavras para que a luta pela preservação do planeta não seja um paradoxo diante da luta para destruí-lo. Que os homens vivam como irmãos. Que Deus é um só e a Terra é o único lugar que temos para viver. Que sobre um povo, uma cultura, uma religião não pese a responsabilidade pela ação de alguns de seus integrantes.

Que todas as palavras sirvam para melhorar o mundo, que não nos calemos diante da injustiça e da violência, atributos inerentes aos seres humanos e que levam a toda sorte de desgraças.

Nota do autor: ( Texto publicado em 01 de outubro de 2001 e revisado em 11 de setembro de 2011)