Fazer política

Wilson Correia

Aristóteles entendia que “o homem é um animal político” e que “a política é a arte de governar os povos”, objetivando “criar a amizade entre membros da cidade". Mas Epicuro, contrariando Aristóteles, sentenciou: “O homem não é, por natureza, nem sociável nem possuidor de modos doces”.

Sob uma e outra perspectiva, porém, parece que a política tem mesmo como finalidade principal evitar e guerra e estabelecer a paz entre os humanos. Nessa linha, argumenta Comte-Sponville:

“Quantas injustiças em toda parte! Quantos horrores, em quase toda parte! No entanto, é o interesse de nós todos, a paz tem de advir ou se perpetuar, a solidariedade tem de se organizar ou se desenvolver: elas não são dadas de saída, mas sempre a fazer, a refazer, a preservar, a fortalecer... É para isso que servem os partidos, os sindicatos, as eleições. É para isso que servem os Estados. É para isso que serve a política” (Dicionário Filosófico).

E a busca da coesão social pela via da concórdia (amizade elementar) que é nossa tarefa primordial quando o assunto é política, pois, naturalmente, não somos totalmente sociais, como quis Aristóteles. E esse se torna um desafio momentoso sempre que eleições estão se desenvolvendo.

A crença na razão humana, ainda que seja ela apenas o fiapo frágil em cada um de nós, assegura-nos que não é possível fazer política tendo-a como aquela prática que impulsione, dissemine e execute ações belicosas, guerreiras, insanas e inumanas já no processo de embate pelo alcance do poder.

Se a política é a arte de governar os povos rumo à coesão imprescindível de que a sociedade necessita para bem desfrutar o bem comum, a coisa pública, transformar o processo eleitoral em pleito irrigado por rixas, litígios e desavenças é, já, de saída, demonstrar-se inapto para a conquista e para o exercício do poder.

Por esses motivos, em uma campanha eleitoral, o que deve prevalecer é o debate sobre a cidade, o país e a sociedade. É isso o que veta a discussão sobre pessoas, nas quais é sempre problemático encontrar alguém que esteja autorizado a “jogar a primeira pedra”. Quem vive de jogar pedras nos outros deveria, antes, apedrejar-se a si próprio.

Faz política de elevado nível aquele candidato que evita e desautoriza qualquer ação que vise a vilipendiar o semelhante. Faz política de qualidade o candidato que, pensando na cidade que deseja governar, dá-se a buscar ideias inovadoras, propostas programáticas engrandecedoras e planos de ação que melhor funcionem em prol da paz, da concórdia e do progresso sadio do corpo político soberano em meio ao qual vive.

É aí que entra a educação, em geral, e a educação política, em particular. Temos produzido ao longo da história bons entendimentos sobre como fazer isso de maneira construtiva. Basta, para tanto, que tenhamos boa vontade para colocá-los em prática.