"O Brasil não é para principiantes" (Tom Jobim)

A presidente Dilma Rousseff acaba de falar, após reunião com governadores e prefeitos das capitais, da necessária e obrigatória ação conjunta no intuito de melhorar os serviços públicos no Brasil. Finalmente, a presidente abriu um buraquinho na “caixa de pandora”. Ainda é pouco e muito pouco, mas como ela diz, “escutei as vozes da rua”. Sábia, a senhora defendeu a república e ações participativas. Tratou de deixar a coisa meio didática e delineou cinco pontos:

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(1) estabilidade fiscal (o que não é mais que a obrigação);

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(2) uma reforma política com a proposição de um plebiscito para uma Constituinte com fim exclusivo de tratar desse assunto (espero que fique por aqui mesmo. Uma PEC seria interessante também);

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(3) Recursos e ações exclusivas para o SUS (óbvio e claro como a lua cheia. A dengue e outras falácias do SUS já mostraram a necessidade de maiores investimentos neste campo);

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(4) plano para o transporte público, com o anúncio de desoneração de PIS e COFINS para o diesel e para a energia que move veículos da rede de transporte (já deveria ter feito isso antes, cumpre perguntar por que não o fez. Empresários do setor de transportes são crias políticas e mandam e desmandam no executivo);

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(5) ações para a educação com destinação de 100% dos recursos do pré-sal para o setor (só acredito vendo, pois as escolas públicas já estão um lixo há anos e esperar o pré-sal para solucionar o caos da educação pública é desejar manter o povo na ignorância em que se encontra). As propostas de escolas de tempo integral e outras práticas que ela disse são velhas e morreram com as políticas vigentes. Vamos ver.

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De todo modo, quem achou que as mobilizações não dariam em nada caiu do cavalo. Ela pode estar ganhando tempo e respondendo anseios e apelos internacionais (A Fifa tem um poder enorme). Muitas das propostas são de longo prazo e “em longo prazo o povo já morreu”.

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Neste sentido, ela pode estar esperando o cansaço da população e o remédio da violência que se alastrou pela e através da polícia no Brasil. O fato é que boa parte da população ainda permanece no espaço público e ainda se encontra indignada com os gastos da COPA (sem falar da falta de transparência) e desejam muito mais. Desejam porque podem. Desejam porque querem. Desejam porque merecem. Desejam porque o Brasil tem o que oferecer. Se nada mudar, restam as eleições. Pena que o povo tem memória curta.

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PS1: É obrigação e dever dos governadores a revelação do estrago que fizeram e ainda vão fazer no campo da segurança pública (a repressão anda solta e não por acaso falaram em golpe). Muita gente apanhou, se machucou e duas pessoas morreram nesta brincadeira de pega ladrão da polícia. É necessário que cada caso seja apurado e que o Ministério Público responsabilize os funcionários que saíram do controle.

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PS2: Não creio que as mobilizações vão parar. Também não acho que vão muito mais longe. Muitas reivindicações que tocam o judiciário e o legislativo precisam de ampla discussão. O congresso ainda está calado e poucos se atreveram a dizer algo. De duas uma: (1) ou o legislativo se escondeu entre o medo e a esperança da coisa ficar feia para o executivo ou (2) aposta no hiper poder do executivo que tende a tomar as dores e a liderar as mudanças que deveriam ter nascido no congresso.

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Detalhe: O judiciário ainda é campo minado e é uma instituição para poucos. Passou da hora de saber os rumos do mensalão e de outras falcatruas que andam paradas nos recursos daqueles que ainda teimam em furtar o país.