Por que não me posiciono favorável à greve dos caminhoneiros

Desde que começou a greve dos caminhoneiros, pedem-nos posicionamento, mas confesso que muitas vezes desconfio dela. Não dos trabalhadores honestos que reivindicam melhorias em suas condições trabalhistas, mas de quem possa estar por trás dessas ações. Antes de me julgarem mal ou contra o povo, no entanto, leiam o restante do texto para entender o que me leva a posicionar-me assim, desconfiado.

Em primeiro lugar, tenho muita dificuldade em entender a pauta, que pede a queda dos valores cobrados sobre o óleo diesel, a redução do pedágio e uma padronização estatal/federal dos valores sobre a fretagem. Nunca me foram familiares esses assuntos, com exceção do preço abusivo do pedágio no Paraná, que em Santa Catarina, por exemplo, não passa de 20% do valor cobrado em nosso estado. O que me intriga é que lançam essa responsabilidade ao governo federal, o que não confere. Portanto, de quem estão cobrando essa pauta? Tem que se haver coerência nesse sentido. Ou, pode-se pensar que há um propósito de ataque contra o governo, e não um pedido de justiça para os trabalhadores verdadeiramente.

O óleo diesel e a fretagem foram discorridos assim pelo governo federal: congelamento do valor do combustível por seis meses, mas não redução do valor, e proposição de criação de uma tabela para o preço do frete: “Os grevistas queriam a redução no preço do diesel, mas o Planalto acenou com o represamento do preço por seis meses – uma promessa que, dada a situação da Petrobras, talvez não seja conveniente para a empresa, representando a volta do uso político da estratégia de preços da estatal. Os caminhoneiros ainda pediram (e Rossetto concordou) um ano de carência para o pagamento de financiamentos para a aquisição de caminhões em contratos firmados por meio de programas da União – um benefício que, em si mesmo, pode não ser ruim, mas que teria de ser considerado à luz da situação global das contas públicas e da política geral de estímulos ao setor produtivo, e não das pressões do momento.” (http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/caminhoneiros-em-greve-4d1gufrip6ks9y6pw6gglgz7f).

Frente às propostas, não há acordo interno entre as lideranças do movimento, que também confrontam-se entre si: “O movimento dos caminhoneiros tem uma pauta ampla, que trata de preço do frete, do combustível, do pedágio e de aumento da jornada de trabalho. Isso envolve vários ministérios e o Congresso. Há ainda muita divisão entre os líderes grevistas, o que torna difícil encontrar quem possa celebrar um acordo efetivo com o governo.” (http://www.blogdokennedy.com.br/governo-teme-que-greve-alimente-protesto-de-15-de-marco/). Isso faz com que as pessoas que se unam ao conjunto se percam, sem saber bem ao certo o que estão requerendo e de quem. Nesse sentido, levo-me a pensar: quem está por trás dessa greve, os trabalhadores e seus desejos de melhoria ou os latifundiários e seu desejo de domínio e de golpe contra o governo PT, que está no poder? “A despeito da distância de tempo e da diferença das circunstâncias é inevitável lembrar que foi uma greve de caminhoneiros que levou o Chile de Allende a uma sensação de caos e que facilitou imensamente a ação golpista que resultou na ditadura Pinochet.” (http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/02/24/o-sinal-vermelho-acende-na-greve-dos-caminhoneiros/).

O descontento de muitos com a reeleição da presidente Dilma está ocasionando certas oposições que não pertencem a uma luta realmente justa e respeitosa com a democracia. Ditadura não tem nada a ver com o que vivemos no Brasil, é ignorância de quem diz essa besteira. Mas fechar vias com caminhões dizendo que só se as abrirá se o poder for entregue, isso é ditar e golpear a democracia de um país: “Sem sombra de dúvida. Esse é o nosso objetivo principal [impeachment de Dilma Rousseff]. Nós, como cidadãos brasileiros, não importa quem votou ou não votou a favor do governo, mas se [ele] não está agindo corretamente, é um direito do cidadão [protestar]: nós vivemos numa democracia.” (http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2015/02/25/caminhoneiro-protesta-nos-agora-somos-anti-pt/). Eu, da minha parte, acho que importa quem votou sim e eu não acho que o Brasil estaria melhor nas mãos do vice PMDBista Michel Temer nem do presidente da câmara Eduardo Cunha, que seriam os prováveis a tomar o poder se ocorresse impeachment.

Por isso eu concordo com o que diz a Gazeta do Povo: “Em um certo sentido, o governo federal pode, sim, ser considerado responsável pela situação. Afinal, os caminhoneiros se tornaram, como trabalhadores de diversos outros setores, vítimas da estagnação econômica do país, que agora corre o risco de entrar em recessão. Trata-se de uma reação em cadeia. Com a economia parada, produz-se menos (as demissões na indústria refletem essa realidade) e, consequentemente, cai a demanda por transporte porque não há muito o que transportar, afetando principalmente os caminhoneiros e as empresas do setor. O aumento do diesel foi apenas o estopim para a mobilização. [...] O fato de os caminhoneiros também serem vítimas da péssima condução da economia pelo governo federal, no entanto, não os autoriza a pedir privilégios e fazer demandas pouco razoáveis. E, principalmente, não os autoriza a interromper toda a economia brasileira, prejudicar o direito de ir e vir do cidadão, ou causar uma crise de desabastecimento de graves proporções, com riscos inclusive à saúde da população. Falta aos grevistas – conscientes de que cada novo dia de paralisação coloca Dilma e o Planalto mais e mais nas cordas – o senso de proporcionalidade. É urgente que eles se deem conta disso e passem a negociar sem ameaçar a sociedade com as consequências de seus atos.” (http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/caminhoneiros-em-greve-4d1gufrip6ks9y6pw6gglgz7f).

Relembrando que a greve dos caminhoneiros nada tem com relação à greve dos professores e servidores públicos estaduais, que se organizam entorno da APP-Sindicato com uma pauta segura e coerente, baseada em leis e direitos adquiridos. Uma luta do povo, que se tem a adesão partidária de alguns políticos, entretanto jamais se estruturou conforme seus desígnios. É uma luta de categoria trabalhista.

Então, peço desculpas àqueles que pensam que não me uno ao grupo de manifestantes por defender o governo ou estar do lado oposto à comunidade. Na verdade, não posso me posicionar a favor de uma guerra que não tem objetivos claros. Sobre a pauta do pedágio, tenho tratado há muito. Disponho-me, portanto, a ajudar em discussões e debates em que eu possa ser útil, para organizar a pauta, mas não a apoiar aquilo de que não se tem domínio nem bom entendimento.

Por fim: PARABÉNS A TODOS OS TRABALHADORES HONESTOS QUE SE UNEM AO GRUPO COM REIVINDICAÇÕES JUSTAS! VÃO EM FRENTE E SUCESSO!!!