TEORIA DOS TRÊS ESTÁGIOS DE DECADÊNCIA

Milton Pires

A ideia de que "é o dinheiro que move o mundo" é atraente. Marxistas e capitalistas concordam com ela. Psicanalistas dizem que da posse do dinheiro depende a realização de impulsos básicos ligados à sexualidade e à agressão, historiadores dizem que conflitos começaram por causas econômicas e assim por diante.

Como o dinheiro, a posse do capital, estabelece dentro da sociedade o seu poder perante o indivíduo comum? Aí as coisas já não nos parecem tão claras, não é?

Digo ser através das guerras ou da atividade política que a vida em sociedade encontra sua "regulação", sua capacidade de gerir-se em si mesma e talvez, como gostam de dizer os marxistas, de fazer-se a "redistribuição do capital". Toda política nasceu, neste sentido, como uma alternativa à "barbárie" que foi, antes de tudo, econômica.

Algum tempo já faz que não encontro em mim mesmo a vontade de escrever alguma coisa sobre política no Brasil. Esta mesma "falta de inspiração", de vontade de discorrer sobre um panorama que é cada vez mais policial do que propriamente político, veio acompanhada por um interesse crescente no que diz respeito à economia. Nada sei sobre economia. Dela, pouco mais do que a cotação do dólar e o volume de negócios na bolsa de valores me são compreensíveis.

Acredito, por outro lado, numa teoria que aqui quero expor mesmo duvidando muito da sua originalidade: é a regulação da vida em sociedade através da economia o último e mais perigoso dos estágios de decadência de uma civilização e é ela, em si, o prenúncio da barbárie como substituição da politica.

Quero crer, antes de tudo, que sociedades bem constituídas e governadas tem por princípio a ideia de trazerem para o campo da cultura os seus principais debates. Questões sobre aborto, casamento, homossexualismo, uso de drogas e crenças religiosas podem, ao meu ver, provocar acalorados debates em países (por exemplo) da Escandinávia sem que isso represente o reflexo de uma crise política e, muito menos, econômica.

Embora eu não acredite na separação entre cultura, política e economia como aspectos reguladores da vida, cada vez mais me sinto tentado a estabelecer entre elas uma hierarquia...uma espécie de valoração capaz de me fazer crer numa espécie de transição...numa espécie de gradiente de risco em direção à guerra civil em toda sociedade que migra da cultura para economia (passando pela política) a sua tábua de decisões (se é que alguma pode existir) sobre como viver em paz.

Acusem-me ou não de um "kantismo" tardio de quem faz a apologia da "paz perpétua": não há, digo eu, mais cultura alguma no Brasil capaz de nortear a ação política. Não há mais ação política capaz de controlar a atividade econômica naqueles níveis em que mesmo os mais ferrenhos opositores de uma "economia política" imploram por uma ação do Estado.

Está o Brasil (e é este o ponto central do artigo) "atirado à economia" e digo ser este o prenúncio da barbárie como alternativa à política na conclusão de quem acredita numa "Teoria de Três Estágios da Decadência" de uma nação que começa destruindo valores para terminar dependendo de uma "bolsa de valores".

Tempo é necessário para mostrar se estou certo ou não. Todos nós estaremos aqui para ver: vai ser rápido.

9 de novembro de 2015.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 10/11/2015
Código do texto: T5443625
Classificação de conteúdo: seguro