O socialismo moreno

De repente Gilmar Mendes se torna um dos pontas-de-lança da esquerda, socialista desde sempre. Por bater escancaradamente de frente contra o procurador Janot, que acaba de apresentar denúncias contra Lula, Dilma, Palocci, Vaccari e outros. Além do que presumivelmente nesses dias pode alegar contra Temer.

Talvez Mendes preferisse que certas questões permanecessem sob o tapete. De alguma forma ele não se dá conta de que o trabalho do MPF e da PF, com base no instituto da delação premiada, conseguiu fazer com que viesse a público as malas e caixas cheias de dinheiro escondidas num apartamento em Salvador, que estariam sob o manuseio de Geddel Vieira Lima, ex-ministro do PT em certa ocasião. Não consegue ver também a participação, já anunciada há algum tempo, de integrantes brasileiros do Comitê Olímpico Internacional em ilícitas negociações de desvio de dinheiro público, possivelmente comandadas pelo ex-governador Sérgio Cabral, a partir da escolha, mediante propina, do Rio de Janeiro como sede dos últimos Jogos Olímpicos, com a oportuna e milionária movimentação financeira daí decorrente. E não enxerga nada demais, ou a menor possibilidade de obstrução de justiça, nas gravações mantidas entre Temer e Joesley Batista, realizadas em horário inoportuno. E uma mala com R$ 500 mil saindo de um restaurante e entrando num carro.

A essas revelações, dentre outras, que não podem deixar de ser do interesse de todos, o ministro do STF prefere qualificar como um desastre. Situando no núcleo dessas descobertas o procurador Janot. Como se fora horrível o povo tomar conhecimento disso tudo. Como se nada disso devesse ser apurado e os possíveis implicados em tais acontecimentos, como já é habitual em nosso país, continuassem impunes.

Essa performance de Mendes, que já começa a ficar desgastada, tem chances de agradar aos intransigentes defensores de lideranças tidas como esquerdistas, com possíveis implicações em atos escusos de desvio de dinheiro público e outras ilicitudes. Considerando-se que, para tais pessoas, tudo deve ser apurado, desde que não estejam envolvidos políticos ou integrantes do partido de sua preferência.

Rio, 06/09/2017

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 06/09/2017
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