Os princípios das quatro principais direções políticas.

Apresentação

Nos últimos anos, como resultado da efervescência política que surgiu junto com a crise de representatividade que assola o país, exaltaram-se longas discussões e debates fanáticos, entre direita e esquerda. A partir do segundo turno das eleições de 2014, viu-se na sociedade civil brasileira, uma polarização fanática, entre os favoráveis à reeleição de Dilma Rousseff (PT) – Partido dos Trabalhadores, e os eleitores de Aécio Neves (PSDB)- Partido da Social Democracia Brasileira. Amizades foram desfeitas, brigas e discussões iniciadas e a internet como uma espécie de octógono, foi o palco do "MMA" maniqueísta(1) de nossa democracia burguesa(2).

A política brasileira deixava de ser debatida no veludo teórico e cientifico dos doutores, cientistas e comentadores de jornais, e passava para o cotidiano do povo, tomando o lugar do futebol e da novela; estando presente no bar, na padaria, no ônibus e principalmente no Facebook. De fato, é de se louvar que num país onde o próprio debate político é tão fechado e afastado da sociedade civil, detendo um caráter elitista e acadêmico, passar a estar presente no dia-a-dia da população. Porém, neste processo, tendo as redes sociais como fomentadora de tal debate, pouco de conceitos foram incorporados em tal polarização, pois a nossa era digital mais dissemina informações e ignorância do que propriamente conhecimento. Com isso, este debate que adentra a sociedade civil, mesmo que importante, ao carecer de conhecimento, disseminou um fanatismo maniqueísta e reprodutor de ignorâncias. A política tomou o lugar do futebol, sendo polarizada em dois grandes times rivais com suas torcidas "organizadas", que se enfrentam incessantemente na arena do Facebook.

Evidencia-se aí, uma notável passagem de um completo analfabetismo político para um analfabetismo funcional político, do povo brasileiro. Debate-se hoje sobre a política, mas este debate não passa da mera escolha de um lado. Afinal, neste debate que há, o que realmente entende-se por esquerda e direita, é a mera reprodução de ignorância espalhada na internet.

Neste cenário, surge a necessidade de buscar os originários princípios das direções politicas debatidas na nossa sociedade civil. Afinal, de onde vem direita e esquerda? E no seu surgimento, como fundamentou-se suas ideias? O que cada visão política defendeu em sua origem e como os partidos se situam utilizando-as? Esquerda e Direita, são ideologias fechadas em si, ou há nelas divergências internas?

Esse texto tem como intuito trazer o fundamento pioneiro da divisão direita-esquerda, seus ideais e suas distintas visões políticas, buscando colaborar melhor para o debate político, além de, ao divulga-lo, utilizar a internet não para espalhar a ignorância como fazem, mas sim, fomentar um melhor debate a partir do conhecimento.

Para tal, foram utilizados como base deste texto, autores que estudam as principais divergências políticas, tanto do confronto esquerda-direita, quanto das próprias divergências dentro destas duas direções. São eles, o analista político Yuval Levin, com o livro "O grande debate: da esquerda e da direita", o cientista social, Sérgio Norte com o livro “Bakunin: sangue, suor e barricada”; além de livros dos autores revolucionários, Karl Marx com Friedrich Engels e Mikhail Bakunin.

Introdução

Nesta vasta ignorância do debate político, pouco se sabe realmente como surgiu as principais direções políticas que temos em disputa. Principalmente o fato de haver dois campos políticos: o palco burguês, da democracia liberal, que busca prevalecer os interesses econômicos de uma minoria proprietária; e o “subterrâneo político”, que busca destruir o primeiro e instaurar a emancipação dos trabalhadores. Nesses dois campos, há distintas direções politicas que se enfrentam; como as divergências entre conservadores e progressistas – no palco burguês; e os revolucionários Anarquistas e Comunistas – no subterrâneo (a sociedade civil).

Mas o termo esquerda-direita, merece melhor contextualização. Surgido na pós-Revolução Gloriosa da Inglaterra, de 1688, esta divisão política adentrou o parlamento inglês, distinguindo aqueles que defendiam um maior poder à tradição monarquista (os da direita) e os que reivindicavam maior poder à representatividade parlamentar (os da esquerda). Neste sentido, a direita representava os conservadores que desejavam manter a tradição hereditária de um rei como o centro do poder, e os progressistas que reivindicavam, através de ideais iluministas(3), a igualdade e a liberdade política contida no estado de natureza do homem.

As divergências entre esses dois polos políticos, exacerbou-se com as revoluções Francesa e Americana, posteriores, onde que, enquanto os conservadores da direita viam nelas um radicalismo extremo e desnecessário; os iluministas da esquerda enxergavam uma insurreição racional do povo.

Essas revoluções varreram o domínio centralizado da monarquia absoluta e hereditária para estabelecer o domínio representativo da sociedade burguesa. Com isso, surgiu uma nova definição da divisão esquerda-direita.

Com o estabelecimento da burguesia (os detentores de propriedade) no poder, o cenário político foi novamente afastado da sociedade civil e da divisão de classes presente nela, assim a polarização política estabeleceu-se entre duas facções burguesas em busca de poder. Neste sentido, o que vemos como disputa política na democracia burguesa, não é propriamente a luta de classes (entre burgueses e trabalhadores, presentes na sociedade civil), representada no termo direita-esquerda, mas sim a representação de duas facções burguesas, cujo, os ideais não eram e não são de derrubar a ordem de desigualdade social vigente, mas no máximo remediá-la e harmoniza-la.

Deste modo, não há propriamente uma esquerda no palco político da democracia burguesa brasileira, já que o seu máximo de ideal progressista são meras reformas. A verdadeira esquerda, dita revolucionária, está presente na sociedade civil, num subterrâneo politico, onde sua busca não é adentrar o palco democrático burguês, mas sim, procurar derruba-lo para reivindicar uma verdadeira democracia social.

Mas, se o debate é entre dois polos políticos, esquerda-direita, por que se anuncia "quatro direções políticas"?

Primeiro, porque é necessário distinguir o que, na ordem burguesa de democracia, é dado como esquerda-direita, que renega a divisão de classes, buscando harmoniza-la. Neste texto, trata-se a esquerda e a direita presente no palco democrático burguês somente como Direita, pois não reivindicam progressos, mas o mantimento da ordem de exploração vigente; a Esquerda, aqui, é caracterizada somente como as correntes políticas que estão por fora da democracia burguesa, e que, enxergam a divisão de classes da sociedade civil, além de reivindicarem uma completa revolução.

Dando nome aos bois: entende-se aqui como Direita – liberais, conservadores da ordem do capital e os sociais-democratas, estabelecidos no palco político burguês; e como Esquerda – os revolucionários comunistas e anarquistas, que estão fora da polarização burguesa, sendo rechaçados como extremistas. Neste sentido, temos então quatro direções políticas que melhor descreveremos, a seguir:

Direita

(Liberais–conservadores e Sociais-democratas)

No livro “O Grande Debate”, Yuval Levin, se fundamenta na ideia burguesa de esquerda-direita e ao invés de refletir sobre a real divisão social (a divisão de classes), reflete sobre a ilusória divisão burguesa. Porém, ainda sim, o autor caracteriza a distinção do fundamento progressista burguês contra a monarquia e do conservadorismo a favor da aristocracia, ele, estuda os dois principais pioneiros e debatedores da divisão esquerda-direita, o conservador, Edmund Burke e o progressista liberal, Thomas Paine. Pensadores que fundamentam, atualmente, a direita e a esquerda presente no palco político burguês.

A principal semelhança entre Thomas Paine e Edmund Burke, que os definem neste texto como Direita, está em suas defesas à ordem capitalista que surgia em sua época, " [ambos] começaram com altas esperanças em relação ao capitalismo(...)" (LEVIN, 2017, p.137). Os dois também, se iludem com uma economia livre, principalmente Burke, cujo, acredita que: "Uma economia livre ajudaria a sustentar a estabilidade da sociedade e, por conseguinte, sua riqueza – parte da qual poderia (e deveria) ser usada para auxiliar os pobres." (IDEM).

A diferença entre os dois autores fundamenta-se nas opostas visões políticas: Thomas Paine defende o racionalismo político, influenciado pelos ideais iluministas, utiliza os princípios da essência humana como a igualdade natural dos homens para reivindicar nações racionais: "Está na hora de as nações serem racionais, e não governadas como animais, para o prazer de seus cavaleiros." (LEVIN, 2017, p.167). Edmund Burke leva em conta, em sua visão política, os costumes herdados e as emoções humanas. Para o autor: "A política deve se ajustar não ao pensamento humano, mas à natureza humana [as emoções], da qual a razão é apenas uma parte, e de modo algum a maior." (LEVIN, 2017, p.146). Burke, ainda rechaça os racionalistas políticos ao dizer que:

"O legislador teria ficado envergonhado com o fato de o rude fazendeiro saber bem como separar e usar suas ovelhas, cavalos e bois e ter suficiente bom-senso para não abstraí-los e igualá-los todos como animais, sem fornecer a cada espécie a comida, o cuidado e o uso apropriados, ao passo que ele, o economista, guardião e o pastor de sua própria família, sublimando-se em um aéreo metafísico, estava resolvido a nada saber sobre seus rebanhos, além de que são homens em geral." (BURKE)

Este dizer de Edmund Burke evidencia uma certa visão hobbesiana, em tratar os homens como animais instintivos, carentes de uma possível razão natural, do qual, Paine defende.

As divergências entre os autores tornam-se ainda mais fortes com suas opostas visões perante a Revolução Francesa. Para Paine, a razão humana deve sobressair-se perante a história, não que deva renega-la, mas o que se deve levar em conta não são os fatos que dela decorrem, e sim o que há de essencial da natureza humana, que faz parte de todos os períodos históricos, como, principalmente a igualdade natural entre os homens. Deste modo, Thomas Paine usa "a política racional para argumentar que somente um reinicio radical [tal qual, a Revolução Francesa] a partir dos primeiros princípios poderia redimir um governo ilegítimo." (LEVIN, 2017, p.192). Já Edmund Burke, dá maior valor aos fatos históricos, o autor, dá mais ênfase para a prescrição do que para a razão, assim se baseia "na prescrição para defender uma reforma lenta e incremental(...)" (IDEM).

Deste modo, Thomas Paine como um liberal iluminista, enxerga a Revolução Francesa como uma reivindicação ao estado de natureza do homem, onde todos eram naturalmente iguais. Para ele, "falar de revolução era falar de destituição, de se livrar do peso de gerações de mau governo e iniquidade, deixando apenas a sociedade, essencialmente em seu estado natural." (LEVIN, 2017, p.194).

Contrário à tal visão, Edmund Burke, trata a Revolução na França como um atentado radical, onde que: "anula as verificações de moderações e os incentivos a ela, libertando os espíritos desenfreados." (LEVIN, 2017, p. 204). Para o autor: "Ao separar a vida política de toda a prescrição e instituir o radicalismo iluminista como uma espécie de religião de Estado, a revolução vai além dos limites de qualquer necessidade e instaura um sistema incorrigível – um governo tão cheio de problemas fundamentais que jamais poderá ser bom." (LEVIN, 2017, p.203).

Diante de tais afirmações, fica claro a divisão e o entendimento político dos principais pensadores, que estavam na origem da divisão esquerda-direita burguesa. Enquanto o liberal iluminista Thomas Paine, buscava o reinicio total, reivindicando a igualdade natural dos homens e propondo maior valor ao sistema representativo, do qual "Cada homem é proprietário do governo e considera necessário entendê-lo. É de seu interesse porque afeta sua propriedade." (LEVIN, 2017, pp.167,168). Edmund Burke, busca não a revolução, mas mudanças graduais, as reformas, onde que: "A reforma não é uma mudança de substância ou uma modificação primária do objeto, mas a direta aplicação do remédio à doença relatada." (LEVIN, 2017, p.211). Diferente de Paine, Burke, não busca um reinicio a partir da natureza humana, mas enxerga uma rede de obrigações entre as gerações, que devem ser levadas em conta. Segundo o autor, as gerações presentes têm obrigações perante as passadas, que é manter as conquistas tradicionais para as futuras gerações. Para ele, o governo deve ser grato a estrutura que há e não buscar destruí-la, mas no máximo remediá-la.

Assim distingue-se e dá-se origem à divisão direita-esquerda no cenário político burguês. O conservador metódico e o liberalista revolucionário. Burke da direita e Paine da esquerda.

No presente texto, são tratados como Direita, por não darem o devido crédito à luta de classes presente na sociedade civil. Ambos autores, trataram a pobreza como um mero descaso político e não como um resultado estrutural sócio-histórico-econômico. O revolucionário Thomas Paine, mesmo que com tal status, progressista, trata a pobreza como uma injustiça social, causada por “distorções (as vezes necessárias, as vezes evitáveis) do igual direito de toda a humanidade aos frutos da terra(...)”, e que, por violar, consequentemente, os direitos à liberdade e à escolha, deve ser remediada pelo Estado – preservador, segundo Paine, dos direitos naturais. Deste modo:

“Para corrigir esse erro, o governo tem um papel na mitigação da miséria e no fornecimento a todos de algo próximo à chance igualitária de crescerem por seus próprios méritos” (LEVIN, 2017, p.142).

A ideia de tratar a pobreza como uma obrigação social do Estado, vai fundamentar o liberalismo do Estado de Bem-Estar Social(4), que são os mesmos ideais presentes nas propostas de partidos sociais-democratas de nossa política, como o PT.

O conservador, Edmund Burke, “reconhece que a economia moderna relega algumas pessoas á pobreza desesperadora ou a posições degradantes(...)” (LEVIN, p.138). Mas teme que remediar tal situação, cause mais danos, por conta de acreditar que “as pessoas miseráveis são mais vulneráveis aos deslocamentos econômicos(...)” (Idem). O autor, defende que a pobreza é uma obrigação privada, não pública, cujo, deve ser suprida por instituições de caridade apoiadas pelos abastados e nobres. Segundo ele: “O governo não pode assumir esse cuidado, pois fazê-lo jamais funciona e, no processo, perturba a ordem social.” (LEVIN, p.138). Esta sua preservação da ordem social, mesmo que enxergando suas falhas, determina seu caráter conservador. E a ideia de destinar os direitos (que segundo Paine, deveriam ser garantidos pelo Estado) à iniciativa privada, vai moldar os ideais dos partidos neoliberalistas (compreendidos como direita) de nosso país, como exemplo o PSDB.

Outra diferença essencial, entre os dois autores, está em suas opostas visões de nação. Paine era completamente desprovido de apelo patriota e não tinha qualquer preocupação com os deveres para com a pátria, ele buscava a causa universal da liberdade, colocando os princípios naturais de bem-estar humano “acima da mera identidade nacional”. Esta identidade nacional “encorajava os preconceitos nacionais”, já a defesa dos princípios naturais “promove a sociedade universal”. Para Burke: “A nação é o meio pelo qual a ordem é estabelecida, mantida e tornada bela.” (LEVIN, p.136). Além do mais, para o autor, não há princípios universais, pois segundo ele, cada nação possui, historicamente, trajetórias e instituições próprias, que fornecem ao povo algo único a ser reverenciado. Em suas palavras:

“Nosso país não é meramente uma localidade. Ele consiste, em grande medida, na antiga ordem em que nascemos” (BURKE)

Essa visão nacionalista vai desembocar nos ideais dos partidos ditos de extrema-direita, de nossa politica, que reivindicam a ordem e a tradição nacional e exacerbam preconceitos – tal qual a bancada dita evangélica e a bancada da “bala”. Ainda sim, essa visão forte de nação vai estar presente, com maior ou menor ênfase , em todos os discursos políticos de praticamente todos os partidos – É a ilusão imposta pela democracia burguesa, a favor do mantimento da dominação de classes e do imperialismo(5).

Diante da exposição acima, vemos quais foram os fundamentos da polarização política e como seus ideais, atualmente, ainda estão presentes nos partidos “concorrentes” da democracia burguesa em que estamos. Enquanto os ideais de Paine podem ser vistos nos partidos ditos sociais-democratas, no Brasil, que tratam o Estado como preservador dos direitos e mediador das contradições capitalistas – Exemplo, o PT; os ideais de Burke, com seu caráter conservador perante a nação, mas libertário perante ao mercado, vai estar presente tanto nos partidos conservadores como o PSC – Partido Social Cristão, quanto nos partidos liberais com maior viés conservador, tal qual, o PSDB. É deste modo que, constitui-se o palco teatral e maniqueísta de nossa política liberal, a falsa concorrência de duas facções burguesas, que não buscam acabar com a ordem do capital, mas sim ou mantê-la forçosamente ou meramente reforma-la, para que de modo harmonioso prossiga a dominação de uma classe sobre a outra.

Ao meu ver, são todos de Direita! E agora, onde está a real esquerda? Nela há divergências internas? Vejamos a seguir:

Esquerda

(Comunistas e Anarquistas)

Se compreendermos a esquerda como o lado revolucionário da política, notaremos que não há esquerda, propriamente dita, em nosso palco político burguês. Se há ou se algum dia houve, não se sustentou ou não assume grande importância, por conta da estrutura política burguesa, constantemente, lhe impedir. A real esquerda está na área subterrânea deste palco burguês, muito mais aproximada do espaço que o sustenta; a sociedade civil.

Este campo subterrâneo surgiu junto com a tomada de poder pela burguesia. Com a revolução industrial e o estabelecimento do poder representativo burguês, assim como em todo processo histórico, emergiu-se também a sua negação; a sua antítese – a resistência proletária (a resistência dos trabalhadores). Sob o nome de Associação Internacional dos Trabalhadores, em 1864, formou – se esse campo subterrâneo, que tinha por objetivo propagar mundialmente a revolução dos trabalhadores e o fim da exploração burguesa.

Porém, como em todo palco político, na Internacional, as perspectivas revolucionárias não eram (e não são) de um completo consenso, e nela também, haviam duas correntes que disputavam um melhor caminho para trilhar a revolução, eram as perspectivas comunistas – defendidas por Marx e Engels; e as perspectivas anarquistas, defendidas, não apenas, mas principalmente por Bakunin. Este texto busca prevalecer as teses de cada autor, para melhor designá-los, ignorando suas confusas acusações, que são atualmente tão exacerbadas e que tanto os dividem.

Os revolucionários, Marx, Engels e Bakunin, possuem a mesma base filosófica – o materialismo histórico-dialético, suas teorias partem de indivíduos reais produzindo a história e não de especulações abstratas como acreditam os idealistas. Conforme expõe Bakunin: “(...) não são individualidades abstratas, são os indivíduos agindo e vivendo que fazem a história. As abstrações só caminham conduzidas por homens reais.” (BAKUNIN, 2002, p.59). E que, Marx e Engels, complementam: “Esta concepção da história, portanto, tem por base o desenvolvimento do processo real da produção, e isso, partindo da produção material da vida imediata;” (MARX/ENGELS, 2001, p.35). Deste modo, os "filósofos da práxis(6)" , buscam compreender a materialidade (a realidade), isto é, o modo como os homens vivem e como produzem suas vidas, rejeitando qualquer positivismo ou idealismo religioso – ideais que perpetuam a ordem capitalista, a dominação burguesa e tornam todas a criações humanas como o Estado, o mercado e Deus, superiores aos próprios homens. Como exemplifica Bakunin:

"Até o presente momento toda a história humana nada mais foi senão uma imolação perpétua e sangrenta de milhões de pobres seres humanos a uma abstração impiedosa qualquer: Deus, Pátria, poder do Estado, honra nacional, direitos históricos, liberdade política, bem público." (BAKUNIN, 2002, p.60).

Utilizando-se do materialismo os autores permanecem "constantemente no terreno real da história.", da qual, "não explica[m] a prática segundo a ideia, explica[m] a formação das ideias segundo a pratica material." (MARX/ENGELS, 2001, p.43). Com isso, compreendem que a história não se move num constante processo evolutivo, mas sim num constante desdobramento dialético, como explica Bakunin: "A história nos aparece então como a negação revolucionária, ora lenta, apática, adormecida, ora apaixonada e possante, do passado. Ela consiste precisamente na negação progressiva da animalidade primitiva do homem pelo desenvolvimento de sua humanidade." (BAKUNIN, 2002, p. 20). Sob esta concepção, de que a história é movida por suas negações intrínsecas, os revolucionários, notam as lutas de classes: Tanto em Karl Marx e Friedrich Engels, ao dizerem que: "Até hoje, a história de toda a sociedade é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e aprendiz – em suma, opressores e oprimidos sempre estiveram em oposição, travando luta ininterrupta(...)" (MARX, 2012, p.44); quanto em Mikhail Bakunin: "Desde a origem da sociedade histórica, até nossos dias, sempre houve, e em todos os lugares, exploração do trabalho forçado das massas, escravos, servos ou assalariados, por alguma minoria dominante, opressão dos povos pela Igreja e pelo Estado." (BAKUNIN, 2002, p.18).

Essa mesma interpretação histórica da sociedade, vai caracterizar esses filósofos como críticos do capitalismo. Mesmo que reconheçam a força revolucionária burguesa durante a história, são ferrenhos críticos da ordem vigente e buscam colaborar teórica e praticamente para a sua completa destruição. Eles criticam desde o sistema econômico e político, ao religioso e social, demonstrando como cada um desses espaços fortalecem o domínio burguês.

Para estes revolucionários, na sociedade burguesa, é a economia que determina todas as outras esferas sociais, deste modo, é somente modificando a divisão econômica e a desigualdade, a ela inerente, (entre proprietários dos meios de produção: os burgueses; e os não-proprietários, trabalhadores que vendem a força de trabalho: os proletários) que a revolução social pode se consolidar.

Embora haja diversas ofensas e críticas árduas, entre ambos, principalmente acusações de nacionalismo, ora de Bakunin à Marx; ora de Marx à Bakunin, os revolucionários da filosofia da práxis, são vigorosos críticos à ideia de nacionalismo, tão presente em nossa política. O comentador Sergio Norte, evidencia a compreensão do internacionalismo de Bakunin, após sua fuga da Sibéria, na seguinte passagem: "Bakunin logo se apercebe dos estreitos limites do nacionalismo e dedica-se a um trabalho internacional de organização e propaganda revolucionária." (NORTE, 1988, p.51). Já em Marx e Engels, é possível notar o internacionalismo e a crítica ao nacionalismo mais presente em suas obras, ao dizer que, o avanço econômico sob o domínio burguês, globalizou as relações econômicas, e assim: "Para grande pesar dos reacionários, ela (a burguesia) arrancou o solo nacional debaixo dos pés da indústria.", fazendo com que: "Em lugar da velha autossatisfação e do velho isolamento local e nacional, surgem relações abrangentes, uma abrangente interdependência das nações". (MARX\ENGELS, 2012, p. 48). Deste modo, os comunistas refutam as acusações burguesas, de que o comunismo acabaria com as nações, e revelam que: "Os trabalhadores não têm pátria. Não se pode tirar deles o que não têm."(MARX\ENGELS, 2012, p. 65). Marx e Engels, ainda, evidenciam que somente com a universalização da história, isto é, o fim da concepção de história nacionalista, que a revolução social pode surgir: "a libertação de cada indivíduo em particular se realizará exatamente na medida em que a história se transformar completamente em história mundial."(MARX/ENGELS, 2001, p.34). E assim, escrevem no fim do Manifesto do Partido Comunista, um dos principais meios para a revolução proletária; o internacionalismo:

"PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNAM-SE!" (MARX\ENGELS, 2012, p.83).

A distinção das duas correntes revolucionárias se acentua mais, nas opostas formas de configuração para a revolução social. A primeira divergência entre os revolucionários, surge em relação à classe que moverá esta revolução. Marx e Engels, vai destina-la a classe proletária, pois seguindo o movimento histórico-dialético: foi esta classe que surgiu junto com a burguesia, nos pátios das grandes manufatureiras e das grandes industrias burguesas, deste modo, a burguesia "não apenas forjou as armas que vão matá-la, mas gerou também os homens que vão empunhar essas armas: os trabalhadores modernos, os proletários"(MARX/ENGELS, 2002, p.51), assim, para os autores comunistas: "De todas as classes que hoje confrontam a burguesia, apenas o proletariado constitui uma classe verdadeiramente revolucionária." (MARX/ENGELS, 2002, p.54), e tratam o lumpemproletariado(7), como o "apodrecimento passivo das camadas inferiores da velha sociedade" do qual, "por sua própria situação, ele se revelará mais disposto a se deixar comprar por conspirações reacionárias." (MARX/ENGELS, 2002, p.56).

Bakunin, ao contrário, vai alargar esta concepção e incorporar os camponeses e os lumpemproletários, como a classe revolucionária, conforme expõe, o comentador Sérgio Norte: "Bakunin rejeita o exclusivismo operário na revolução social e trabalha com o conceito de uma unidade entre os oprimidos contra a dominação burguesa". (NORTE, 1988, pp.84-85). Segundo o autor, não são os lumpemproletários que têm tendência a se tornarem reacionários, isto é, contra a revolução, mas sim os próprios operários urbanos; os proletários, do qual, os dividem em dois níveis:

"em primeiro lugar uma aristocracia operária já separada, privilegiada por altos salários e tão impregnada de valores burgueses que só se diferenciam dos mesmos pela sua posição, porém nunca pela sua tendência; em segundo lugar 'este proletariado em farrapos de quem os senhores Marx e Engels falam com o mais profundo desprezo, injustamente, pois é nele e somente nele, e não na camada aburguesada da classe operária, onde encontramos o espirito e a força da futura revolução social.' " (NORTE, 1988, pp.85-86).

Mas o real divisor de águas entre os autores comunistas e anarquistas, isto é, a essência de suas diferenças que, consequentemente, marcam seus distintos rumos de revolução, reside nos meios para que esta aconteça. Estes meios estão intrinsecamente acompanhados pelas suas experiências nas épocas em que viveram. Enquanto Marx e Engels estudavam de perto o desenvolvimento industrial da Inglaterra do século XIX; Bakunin, observava uma Rússia industrialmente atrasada. Sob estas vivências pautaram-se seus divergentes meios para a revolução social.

Marx e Engels, enxergavam no avanço das forças produtivas o terreno fértil para o desenvolvimento da resistência dos trabalhadores, para os autores: "O desenvolvimento da indústria, todavia, resulta não apenas na multiplicação do proletariado; comprimido em massas maiores, esse proletariado ganha força também, uma força que passa a sentir em maior medida.", deste modo, "Os interesses e as condições de vida dentro deste proletariado se equivalem cada vez mais, à medida que as máquinas vão apagando as diferenças no trabalho e, quase por toda parte, o salário é reduzido a um patamar baixo." (MARX/ENGELS, 2012, pp.53-4). O avanço das forças produtivas estimula, ainda, o crescimento dos meios de comunicação, o que por sua vez: "põem os trabalhadores das mais diversas partes em contato uns com os outros."(MARX/ENGELS, 2012, p.54). Ou seja, permite o internacionalismo e o surgimento de uma história mundial.

Bakunin via o oposto, sendo um expresso critico aos avanços, tanto científicos quanto econômicos, proporcionados pela burguesia. Interpretava tais avanços, mais como alargadores do domínio burguês do que propriamente como um terreno para a sua destruição, conforme expõe: "Na organização atual da sociedade, os progressos da ciência foram a causa da ignorância relativa do proletariado, assim como os progressos na indústria e no comércio foram a causa da sua miséria relativa. Tanto os progressos intelectuais como materiais contribuíram, pois, para aumentar sua escravidão." (BAKUNIN, 1979, p. 37). Assim, o anarquista, diz que um meio para a revolução é o combate e a rejeição à ciência burguesa, porém, no sentido de que: "ao destruir a ordem social que delas faz patrimônio de uma ou várias classes, [possam] as reivindicar como um bem comum de todo o mundo." (IDEM).

Com isso, ao vivenciar os avanços industriais na Inglaterra e os caracterizarem como o terreno para a força revolucionária, Marx e Engels, interpretaram os países desenvolvidos como os mais próximos à revolução. Destinando aos proletários desses países alguns pontos de orientação revolucionária, presente no Manifesto do Partido Comunista. Enquanto que Bakunin, por estar em contato com seu país natal industrialmente atrasado, a Rússia, e que, por interpretar os avanços burgueses como novas formas de antolhos, possuía maior confiança "na potencialidade revolucionária dos países industrialmente atrasados da Europa no século XIX." (NORTE, 1988, p.14), conforme comenta Sérgio Norte.

Outro ponto de divergências entre os revolucionários, dá-se pelo modo de instrução revolucionária, ou seja, como as massas oprimidas podem organizar-se para a revolução.

Para Bakunin, o essencial para a instrução revolucionária é a auto-organização dos trabalhadores, assumindo uma posição crítica ao potencial libertador da ciência, mesmo que compreendendo sua importância na transformação social, rejeitava a ideia de que os mais sábios deveriam conduzir as massas, pelo risco de haver um despotismo cientifico, assim, seria "preciso dissolver a organização especial dos homens de ciência pela instrução geral, igual para todos e para todas, a fim de que as massas, cessando de ser rebanhos conduzidos e tosquiados por padres privilegiados, possam controlar a direção de seus destinos." (BAKUNIN, 2002, p.64). Deste modo, o anarquista, exige "para o povo a instrução integral, toda a instrução, tão completa quanto o permite a capacidade intelectual do século, a fim de que acima as massas, não possa existir nenhuma classe que saiba mais do que eles, que os possa dominar e explorar." (BAKUNIN, 1979, p.32). Como tal instrução integral não é possível no estado atual de dominação cientifica pela burguesia, Bakunin completa:

"Que se emancipe primeiro o povo, e ele se instruirá por si próprio." (BAKUNIN, 1979, p.51).

Já para os comunistas, Marx e Engels, a instrução dos trabalhadores, deve ser conduzida pelos próprios comunistas, conforme está expresso em seu Manifesto: " Os comunistas são, portanto, na prática, a porção decisiva dos partidos dos trabalhadores de todos os países, a força sempre a impulsioná-los adiante; eles percebem na teoria antes do restante do proletariado, as condições, o curso e o resultado geral do movimento proletário." (MARX/ENGELS, 2012, p. 59).

O anarquista também enxerga a necessidade de uma parte decisiva na organização proletária, porém, não por conter maior saber cientifico, tal qual Marx e Engels caracterizaram os comunistas, que para ele formaria uma "aristocracia da inteligência" e uma nova classe dominante pós-revolução, mas que "como uma 'mão invisível' ajuda, aliada aos movimentos populares, todas as formas de autogoverno, de descentralização, conselhos populares e para que mesmo depois do triunfo da revolução permaneça atenta e crítica em relação a qualquer tendência autoritária que ameace a autonomia popular." (NORTE, 1988, p.68).

Para finalizar suas divergências, o que vai determinar e dividir o movimento revolucionário até hoje, são as opostas visões da tomada de poder.

Os comunistas, Marx e Engels, destinam como o primeiro passo para a revolução proletária a tomada do poder político, "alçar o proletariado à condição de classe dominante", onde que: "O proletariado usará sua dominação política para, pouco a pouco, arrancar da burguesia todo o capital, centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado – isto é, do proletariado organizado como classe dominante – e multiplicar o mais rápido possível a massa das forças de produção." (MARX/ENGELS, 2012, p.67), estabelecendo deste modo a questionada ditadura do proletariado. Segundo os autores este primeiro passo seria necessário, por conta de que a divisão social do trabalho ter também dividido os interesses particulares dos coletivos, e que, foi essa divisão que garantiu a burguesia, na forma de Estado, o estabelecimento de uma comunidade ilusória, separada dos interesses reais dos indivíduos (o atual palco político burguês). Assim:

"segue-se que, toda classe que aspira dominação, mesmo que essa dominação determine a abolição de toda a antiga forma social e da dominação em geral, como acontece com o proletariado, segue-se, portanto, que esta classe deve conquistar primeiro o poder político para representar por sua vez seu interesse próprio como sendo o interesse geral, sendo obrigada a isso no primeiro momento." (MARX/ENGELS, 2001, pp.29-30).

Mikhail Bakunin, será um ferrenho crítico a esta concepção comunista, e refutará tal ideia ao dizer que: "é preciso estar cheio de ilusões para imaginar que um operário, nas condições econômicas e sociais em que se encontra atualmente, pode aproveitar plenamente a sua liberdade política e dela fazer um uso sério e real. Para isso faltam duas pequenas coisas: tempo livre e meios materiais." (BAKUNIN, 1979, p.66). O anarquista ainda, diz que para a real emancipação dos trabalhadores, o objetivo não deve ser a tomada de poder no Estado, mas sim, prioritariamente, a emancipação econômica, assim os revolucionários devem "[concentrar] antes de mais nada todos os esforços sobre a grande questão da emancipação econômica, que deverá ser a origem de todas as emancipações." (BAKUNIN, 1979, p.52). Ele rejeita a política parlamentar ou a composição do proletariado em um partido, reivindicando não a dominação política, mas buscando maior espaço dos ideais de emancipação econômica na opinião pública, da qual, a concebe como "a educadora dos homens por excelência; donde resulta que, para moralizar os indivíduos, é preciso moralizar antes de mais nada a própria sociedade, é preciso humanizar a sua opinião ou a sua consciência pública." (BAKUNIN, 1979, p.46). Deste modo, Bakunin, não enxerga que a dominação política do proletariado, em forma de Estado, garantirá o prosseguimento da revolução. Pois, para o anarquista "todo aquele que domina está sempre sujeito a abusar", com isso, escreve em uma carta destinada ao jornal La Liberté, em 1872, que: "a política necessariamente revolucionária do proletariado há de ter como objetivo único e imediato a destruição dos Estados – a menos que esteja sonhando com o Estado universal, isto é, a servidão universal. Tal como fazem os grandes imperadores e os papas - já que o Estado, por seu próprio caráter, é uma ruptura desta solidariedade e, portanto, uma permanente causa de guerra.". E completa que o "Estado significa dominação e toda dominação pressupõe a sujeição das massas e, portanto, sua exploração em benefício de alguma minoria dominante." (BAKUNIN, 1872).

Neste sentido, Bakunin é mais radical e sua luta revolucionária pauta-se completamente no subterrâneo politico, diferente de Marx e Engels, que buscam a conquista do poder político para garantir que a revolução se consolide. Entretanto, com as diversas insurreições no decorrer da história, como a Comuna de Paris em 1871 e a Revolução Russa de 1917, nota – se que Bakunin, foi mais assertivo, no ímpeto revolucionário. Na Comuna, com a extinção do Estado, os proletários efetuaram o que o anarquista tanto pregava: a auto-organização, sem a necessidade de uma parte intelectual decisiva, do qual Marx e Engels, destinavam aos comunistas; tendo estes, aliás, que reconhecerem a força de auto-organização que as massas possuíam, em seus livros: A Comuna de Paris e A Guerra Civil na França. Outro acerto do anarquista, expressa-se na Revolução Russa, sendo na época um dos países mais atrasados da Europa, a Rússia, foi o único país a implantar uma revolução social.

Mas na questão da consolidação da revolução, a história e o fim desses eventos revolucionários, apontam para um maior acerto de Marx e Engels. Por exemplo, a Comuna de Paris, por não deter poder político e consequentemente militar, viu-se esmagada pelas forças estatais; e na Rússia, com os bolcheviques, pela falta de industrialização, ou seja, pelo atraso de suas forças produtivas que o país sofria, não conseguiram competir com os estadunidenses pelo internacionalismo dos ideais revolucionários.

Contudo, ainda sim, foi a Revolução Russa de 1917, que conseguiu respingar em nosso solo, esses ideais revolucionários. Tanto ideais anarquistas presentes em sindicatos e propagados, principalmente, pelos operários estrangeiros das fábricas que aqui surgiam, quanto ideais comunistas que formavam partidos proletários como o Partido Comunista Brasileiro - PCB, através de incentivos soviéticos. No decorrer da história, obviamente, esses ideais foram por muito distorcidos, sendo destinados à uma nova forma de fanatismo, o que colaborou ainda mais para o fortalecimento da exploração burguesa e para o distanciamento de uma possível revolução.

Conclusão

O véu burguês ainda nos cega de forma cada vez mais velada e ao mesmo tempo espetacular. Divulgando ter criado uma nova ágora, a lá, Grécia antiga, com a internet, a burguesia, manteve-nos ainda mais em seu veludo fechado da ignorância, nos prendendo neste mundo das ideias, onde nem mesmo os argumentos e debates possuem algum fundamento. Nesta luta de cegos de ódio e de ignorância, defendem-se interesses políticos muito distantes dos reais problemas sociais que vivemos.

Sob esta sociedade de espetáculo-midiático, onde o marketing se tornou a maior arma política, nossa participação limitou-se à meros espectadores que debatem entre si, assistindo passivamente as diversas tragédias do palco teatral burguês. Essa falsa participação que ao invés de inserir-nos no debate político, mais nos afastou deste, fazendo-nos debater pelos comentários de Facebook, ideais que não são os dos trabalhadores produtores das riquezas deste mundo, mas dos dominantes que os exploram.

Conforme podemos observar, no texto, os ideais de esquerda e direita no palco teatral político, são meras disputas burguesas, que pretendem consolidar a exploração de classe e não a destruir. Deste modo, devemos ao máximo renega-lo, deixar de destinar-lhes nossas expectativas, pois essas serão copiosamente frustradas. Nossos empenhos devem ser destinados à resistência presente na sociedade civil, nos movimentos sociais e de luta, pois, são esses que contêm o germe revolucionário. E mesmo que haja divergências entre comunistas e anarquistas, devemos melhor compreendê-las, para que melhor utilizemos as armas revolucionárias de cada teoria.

Atualmente, poderíamos chamar Marx e Engels de ingênuos, pois, pensando eles que os avanços das forças produtivas proporcionariam também os avanços da comunicação, e que, esses avanços permitiriam a unificação mundial dos trabalhadores e, consequentemente, o aumento de sua resistência; vemos hoje, o oposto, tal qual acreditava Bakunin, esses avanços aumentaram mais ainda a nossa escravidão. O pior é que nos colocou sob uma escravidão-participante, da qual, torna-se ainda mais imperceptível.

Mesmo que nos engaiolem nesse palco teatral, através da internet, esta, ainda com o poder de nos interconectar, também pode estabelecer um subterrâneo político, tal qual, a Associação Internacional, porém, para isso é necessário o que o anarquista Mikhail Bakunin, já nos demonstrou: a instrução integral. É necessário que disseminemos o conhecimento e utilizemos essa interconexão globalizada para fortalecer a revolta popular. Não podemos negar que a internet, também nos proporcionou levantes memoráveis, como o Movimento de 2013 e a Primavera árabe. Mas para se tornar de fato um campo de resistência e de organização proletária, devemos condicioná-la a uma maior instrução.

Apenas com um estabelecimento instruído de um subterrâneo político, seja na internet, seja na materialidade da sociedade civil, é que mitigaremos o ruinoso palco político burguês e sua enfadonha exploração.

Notas:

1 - Maniqueísmo: O maniqueísmo é o mero julgamento de valor entre bom e mau. Muito presente na ignorância do nosso debate político.

2 – Democracia Burguesa: Forma de democracia voltada para o mercado. Onde prevalece a dominação de uma classe proprietária sobre outra trabalhadora. A democracia burguesa suprime todas as liberdades individuais em prol de uma única - o livre comércio.

3 – Ideais iluministas: O iluminismo é uma corrente filosófica-política-social, oriunda do século XVII, da qual, destina à razão toda a essência humana. Os iluministas reivindicavam a liberdade natural do homem e foram ferrenhos críticos as monarquias absolutas. Seus pensamentos políticos se tornaram clássicos da política moderna.

4 – Estado de Bem-Estar Social: O Estado de Bem-Estar Social, trata- se de uma forma de governo que compreende o Estado como o preservador e fomentador dos principais direitos básicos, para que os indivíduos possam disputar em igualdade as oportunidades do mercado.

5 – Imperialismo: O imperialismo trata-se da dominação econômica e política uma nação sobre as outras. Tal qual, os Estados Unidos, hoje.

6 – Filosofia-Práxis: Diferentemente dos clássicos da filosofia, que buscavam apenas utilizar a ciência para interpretar o mundo, os filósofos da práxis, buscam utiliza-la para transforma-lo. Seus objetivos são de unificar teoria e prática.

7 - Lumpemproletários: "São camponeses, marginalizados, operários que compõem o 'santo populacho e santa canalha'." (NORTE, 1988, p.30).

Referências

BAKUNIN, Mikhail. O socialismo libertário. São Paulo: Global, 1979.

______________. Deus e o Estado. Trad.: Plínio Augusto Coelho. 2002.

LEVIN, Yuval. O grande debate: Edmund Burke, Thomas Paine e o nascimento da esquerda e da direita. Trad.: Alessandra Bonrruquer. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2017.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã. Trad.: Luis Claudio C. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

___________________________. Manifesto do Partido Comunista. Trad.: Sergio Tellaroli. São Paulo. Editora Schwarcz. 2012.

NORTE, Sergio A. Bakunin: sangue, suor e barricadas. Campinas: Papirus, 1988.