A VELHA DEMOCRACIA

A democracia é um sistema de governo, inventado em Atenas na antiga Grécia. (demo=povo) Kracia (governo). Como todo sistema, nasceu imperfeito, mulheres, estrangeiros residentes, escravos não votavam. Mesmo assim foi um sistema revolucionário, que garantia da liberdade civil, a liberdade de expressão, liberdade de se formar ou aderir a organizações e eleições livres permitindo, assim a participação do povo diretamente na escolha dos dirigentes da nação.

Muitos foram os seus inimigos ao longo da história da humanidade, fazendo-a submergir em alguns países por longos períodos pela imposição de regimes totalitários, mas ela nunca morreu e permaneceu viva, renascendo sempre mais a frente, como uma força renovadora e aglutinadora, da vontade e da esperança dos povos.

Há concepções diferentes de democracia, com maior ou menor grau de desenvolvimento ou variantes, mas o espírito de liberdade preconizado pelos gregos ainda permanece. Ela tem evoluído lentamente e hoje, os contornos dos seus conceitos são bem mais nítidos e portanto, bem mais aceitos pela maioria dos povos da terra. Embora não seja perfeita, ela é ainda o melhor sistema de governo. Rui Barbosa, nosso decano, dizia com propriedade, que uma democracia ruim ainda é preferível a uma boa ditadura.

Infelizmente a evolução da democracia não é linear e está sempre correndo perigo. Ela também está sujeita a revezes e sabotagem de grupos interessados em desvirtua-la para impor, na forçação de suas regras, suas ideias pela manipulação dos seus conceitos e assim manter-se no poder, burlando a consciência do eleitor, célula “mater” da democracia.

Isso em geral é feito, pela exploração lúdica das incapacidades de interpretação da realidade por parte do eleitor e pela exploração de suas fantasias e incitamento de suas frustrações com o oferecimento de soluções inverossímeis e irreais, cooptando-se assim, maquiavelicamente sua capacidade de decidir por si mesmo.

Isto é histórico na política da américa do sul e foi arma de políticos como Perón, Getúlio, Antônio Lopes de Santa Anna no México, os Somoza na Nicarágua, mas raras vezes foi levado com tamanha profundidade como recentemente, pelas esquerdas latinas, com a criação de lideranças carismáticas, mitificadas e um conjunto de promessas ilusórias. Normalmente, estas políticas se perdem pelo populismo que levam os seus agentes a praticarem políticas emergenciais e se descuidarem da estruturação da economia para eliminá-las. Crises econômicas sempre se sucedem, levando à perda da popularidade dos líderes e a eclosão de denúncias, pelos grupos opositores que tentam derrubá-lo, com base no clamor popular.

A democracia, embora não seja a razão das revoltas, acaba voltando.

Eu comparo a democracia como sendo uma espécie de sistema imunológico de um país. Ela é que pode nos livrar dos vírus da arbitrariedade, da arrogância das seitas, do populismo mentiroso e do autoritarismo dos grupos radicais. Ela impõe normas às vezes duras, mas necessárias ao bom andamento das instituições.

Contudo, o organismo democrático é de natureza lenta e leva um tempo enorme para expulsar os vírus que o atacaram. Às vezes não os eliminam completamente e passam a conviver com eles no seu organismo de forma controlada. Trata-se de um processo depuratório, similar ao organismo humano que quando invadido por microrganismos, reage atacando-os com os seus leucócitos imunitários, por meio da criação de anticorpos. Muitas vezes, acumula-os num canto e juntos formam um tumor que às vezes é expelido pelo próprio organismo em forma de pus.

Outras vezes, dependendo da sua natureza, precisam ser extirpados cirurgicamente ou com tratamento químico da alopatia. O certo seria, fortalecer o próprio organismo para que combata o mal que lhe aflige como ensinam os Chineses, mas isso exige paciência demais.

Assim é a democracia no país. Grupos radicais se instalam, professam seus credos, participam de eleições, criam organizações, avançam, governam cidades, estados, mas se provada sua natureza antidemocrática, acabam destruídos de alguma forma, pelas próprias instituições democráticas ou pela vontade popular. Não sem antes, causar enormes estragos ao organismo mãe.

Algumas vezes, acontecem intervenções não naturais, como aconteceu conosco em 1964, quando tivemos as indesejáveis intervenções militares, que atuaram como se fossem um tratamento quimioterápico, destruindo os grupos radicais de esquerda orientados por Moscou, mas deixando sequelas indeléveis na alma do país, porque o poder tem sua sedução e lá ficaram eles por 20 e tantos anos, retardando o avanço da democracia, esta lição que demanda um aprendizado contínuo e constante para evoluir.

Estamos num processo depuratório atualmente em nosso país. A esquerda comandada pelo PT, luta com todas as forças para voltar ao poder e prosseguir com seu projeto de democracia marxista, mas parece que tem um inimigo formidável a frente. A rejeição crescente da classe média, unida nas redes sociais, de correntes políticas contrárias ao projeto e a força inesperada do poder judiciário, com apoio de grande parte da sociedade na sua luta para punir os políticos corruptos dos quais, incluem vários políticos de diferentes matizes, mas predominantemente os que militavam no poder até a pouco, incluindo-se aí, Lula, o ex-presidente, hoje a esperança única da esquerda na retomada do poder.

Parece que por linhas tortas, a velha democracia vai superando os solavancos e trombadas e vai avançando por estes trópicos. Um milagre a longevidade, deste sistema, um presente dos Deuses gregos para a humanidade!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 03/01/2018
Reeditado em 03/01/2018
Código do texto: T6215897
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