Retirem as crianças da sala

Aos pais ou responsáveis por menores de idade, o conselho procede: retirem as crianças da sala, porque começaram os debates entre os candidatos a presidente da República, transmitidos pelas redes abertas de televisão. E o que se viu na primeira edição foi para desanimar qualquer eleitor, mesmo aqueles menos exigentes. Absolutamente nenhum dos oito principais candidatos que participaram do evento promovido pela Rede Bandeirantes conseguiu ser convincente em suas assertivas, quando instados sobre temas previamente estabelecidos de comum acordo entre os partidos e a emissora. A impressão que deixaram é a de que, se eleitos, vão salvar o País ao acabar com a violência, ao gerar imediatamente dezenas milhões de empregos, ao oferecer um atendimento de saúde pública de qualidade e outras demandas urgentes da sociedade. Um verdadeiro festival de bravatas (mesmo porque conhecemos a maioria deles de outros carnavais), equitativamente distribuídas entre os candidatos conforme a criatividade e a limitada capacidade de discernimento de cada um.

Como era de se esperar, determinados presidenciáveis paraquedistas não frustraram as expectativas negativas do público. Comportaram-se como reles coadjuvantes, cujas intenções se resumiram a provocações gratuitas. Esse é o caso do insípido e excêntrico Cabo Daciolo e do pretenso erudito Guilherme Boulos (este classificado como desqualificado), ambos investidos com indisfarçáveis doses de ironia, aliás, recurso utilizado também por outros participantes. A percepção do cidadão comum com relação ao pífio desempenho do esquentado Ciro Gomes, do anacrônico Álvaro Dias, do bom-mocinho Geraldo Alckmin, da indecifrável Marina Silva, do radical falastrão Jair Bolsonaro e do sem-sal Henrique Meirelles acendeu o sinal amarelo. Definitivamente, estamos num mato sem cachorro. Até parece reedição de debates antigos, porque a cantilena permanece a mesma. Mudam os protagonistas, mas a retórica é repetida à exaustão. Apresentam-se como verdadeiros salvadores da pátria, detentores da verdade e da razão, conhecedores profundos das soluções para todos os problemas da nação. Utilizam entonação de voz ensaiada e modulada, semblante sisudo, olhar compenetrado, gestos comedidos, perfeitamente sincronizados com o discurso empolado e excessivamente técnico (uma maneira eficiente de ludibriar ou induzir pessoas menos esclarecidas ao erro). Não têm um programa de governo consistente, pelo menos que atenda às necessidades imediatas da população. São propostas vagas (citações generalizadas sobre temas de extrema relevância) desconexas com o mundo real, elaboradas por marqueteiros especialistas em campanhas políticas. Então desse tarimbado grupelho sairá aquele que conduzirá os destinos da nação pelos próximos quatro anos?

Se a atual situação econômica do Brasil vai mal das pernas, muito pior ficará no futuro. O ocupante da cadeira presidencial a partir de 2019 terá dificuldades imensas pela frente, com um presente de grego explodindo nas mãos: o déficit de 130 bilhões nas contas públicas. Acrescente-se a essa cifra astronômica o gasto com pessoal se aproximando do teto, os números negativos na balança comercial, o endividamento do setor público, os mais de 13 milhões de desempregados. É condição “sine qua non” para o razoável exercício da governabilidade o apoio da maioria do Congresso, uma sintonia necessária para o andamento dos projetos do governo. As coligações bizarras entre os partidos poderá garantir (em troca de um sem-número de cargos e regalias) algum fôlego para o próximo presidente, porém o deixará à mercê dos abutres mercenários conhecidos comumente como parlamentares. O que resta ao eleitor é tentar utilizar o critério “por exclusão” ao escolher seu candidato. E em época de horário eleitoral, não se esqueçam de retirar as crianças da sala.