O VENTO SERÁ SUA HERANÇA
 
 .Aquele que perturba a sua casa herdará o vento" (Provérbios, capítulo 11, versículo 29).
No filme “O Vento Será Sua Herança”, um advogado de Nova York é contratado para defender um professor que foi processado por ter tentado ensinar a teoria da evolução em uma escola secundária de uma cidadezinha do Tennessee, famosa pelo seu conservadorismo. O filme, baseado em um caso real, ficou conhecido como o “julgamento do macaco”. Tornou-se um embate entre as concepções criacionistas e evolucionistas da humanidade, ou seja, um conflito entre quem defende a visão bíblica da criação e as teses de Charles Darwin.
No fim o professor foi inocentado, mas o questionamento ficou e ainda hoje levanta fumaça entre os defensores das duas concepções. E parece que ele chegou agora ao Brasil. Um general, figura importante no grupo que apóia o candidato Bolsonaro, andou dizendo por aí que o criacionismo deve ser ensinado nas escolas secundárias, juntamente com a teoria da evolução. Ele propõe que a religião entre na escola secundária como contra ponto das “teorias científicas” e “orientações ideológicas”, que ele acha, “incharam” os currículos escolares de ideias estranhas á formação de um bom cidadão.
A fala desse general é um tiro direto contra a educação implantada pelos governos do PT e PSDB, que nesse quesito não diferiram muito, pois privilegiaram um currículo onde a “sociologia dos direitos humanos” foi eleita como base da educação da escola chamada progressista.
 O tema interessa porquanto há sinais de que um viés religioso terá muita importância em um possível governo Bolsonaro. A bancada evangélica já declarou seu apoio em massa a ele. E os católicos também tem sido alvo de uma campanha intensa por parte dos seus apoiadores. Ele mesmo adotou como mote de campanha uma valorização da educação religiosa como inspiradora do bom caráter do cidadão.
Não é que o Bolsonaro esteja errado em suas concepções. Talvez falte mais espiritualidade na nossa educação moderna. Penso, entretanto, que ao lado de aulas de religião, seriam muito bem-vindas as velhas e boas aulas de filosofia. E que tanto umas como outras fossem expurgadas de viés ideológicos, voltando a ser fontes de conhecimento e ferramentas de desenvolvimento do nosso espírito. Porque tanto a religião quanto a filosofia fazem parte da história do pensamento humano, e ambas são ciências sociais.
Tratar o conhecimento de forma ideológica é fazer dele arma para implantação da tirania. Crer que o homem foi feito á imagem e semelhança de Deus, como diz a Bíblia, ou é fruto de uma longa evolução, a partir de uma matriz animal, como querem os evolucionistas, é uma opção que não faz uma pessoa ser melhor do que a outra. Mas levar essa opção para um programa de governo pode fazer muito mais estragos do que planos econômicos que não dão certo.  Mostremos ao homem todos os caminhos.  E que cada um escolha o seu.