A segunda Facada

Primeira facada, real, foi aquela de Juiz de Fora. A segunda, virtual, foi dada pelas costas pelo Centrão, mostrando suas garras e demarcando terreno. Contrariando todas as expectativas o Congresso, liderado pelos velhacos de sempre, aprovou o reajuste do Judiciário e, em seguida, renovou os incentivos fiscais para as montadoras. Além do rombo projetado da Previdência Social, o futuro governo central e dos Estados terão pela frente uma despesa anual, aprovada no apagar das luzes, de mais R$60 bilhões. É a bomba fiscal que vai explodir no colo do capitão.

E não adianta espernear. A demonstração de força de agora vai se perpetuar se o novo governante não atender às demandas dos partidos de centro que, unidos na chantagem política, formam um balaio de votos, essenciais para os projetos já pautados e que precisam de maioria qualificada para aprovação. Antes de começar o novo ano legislativo, já começou o esquema de barganha. Mesmo sendo explicitado que as primeiras indicações são da quota pessoal do presidente, não convenceu ninguém. O mercado político já considera que os dois primeiros ministros, Tereza Cristina e Onix Lorenzoni, são da quota do DEM.

O bom é que o presidente leito, Jair Bolsonaro, está se mostrando mais ameno com aqueles que possuem votos a serem barganhados. Os caciques estão só esperando o momento certo para dar o bote. Diretorias dos bancos estatais e dos organismos regionais têm dono desde sempre. Vai ser complicado negar reciprocidade com mais de 100 mil cargos disponíveis para saciar a sede dos políticos profissionais. O medo inicial passou. Dentro do modelo democrático, o novo presidente não assusta. É o mesmo medo que a classe média teve quando da primeira eleição do Lula, como se ele fosse comunizar o Brasil inteiro. A primeira providência do metalúrgico foi colocar um banqueiro no Banco Central e chamar os carteis e empreiteiras para os pés do trono.

Bolsonaro não vai mandar matar todos os criminosos, não vai acabar com a corrupção, não vai deixar de negociar com os vizinhos bolivarianos, não vai peitar o centrão nem se aproximar muito do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Muito menos desprezar milhões de dependentes do Bolsa Família, indispensáveis na formação do contingente de mão de obra e na recuperação da renda, providência sempre oportuna para o sistema financeiro. O que pode mudar, e muito, é o direcionamento dos investimentos. O BNDES certamente vai privilegiar a criação de empregos, com apoio para nosso lastimável saneamento básico e a conclusão de mais de 20 mil obras paradas.

O grande feito do Bolsonaro será chegar inteiro ao fim do seu mandato, sem mexer na ordem democrática, fazendo todas as reformas que a sociedade espera, criando empregos, dando a segurança prometida e melhorando a saúde e a educação da população brasileira. É o que seus eleitores, e não eleitores, esperam.