REPÚBLICA DOS APADRINHADOS

Bolsonaro está preenchendo o seu ministério com uma maioria de técnicos, em detrimento dos políticos. Os governos militares também fizeram isso. De um lado é bom, de outro pode não ser. O problema é que os técnicos, quando são levados para cargos públicos acabam se transformando em políticos. E alguns políticos, às vezes se tornam bons técnicos. O problema não se encontra na profissão, mas na pessoa. No fundo, todas as crises são mais produto da falta de virtude do que de ausência de conhecimento. Não vai adiantar muito a estratégia do Bolsonaro se os executivos do  terceiro e quarto escalão, que realmente executam o serviço público, continuarem sendo indicados por padrinhos. E principalmente se os juízes do Supremo Tribunal Federal, que alguém disse (com muita propriedade) ser uma “vergonha” continuarem sendo indicados por critérios de apadrinhamento.
A Veja chamava a era Sarney de República do Maranhão. A era Collor foi a República das Alagoas. A era Lula/Dilma poderia se chamar Minasperna ou Riobuco. Qualquer nome serve, pois é tudo igual mesmo. Em todos esses (des)governos o que contou mesmo foi o loteamento do país pelos apaniguados dos políticos que o sustentam. Lembrei-me de um velho filme que assisti quando criança. O governo americano, para povoar um determinado estado (acho que era Oklahoma), dividiu o território em lotes e promoveu uma corrida entre os interessados. Ficava com os lotes quem fosse mais rápido e competente. Aqui damos lotes para os “sem terra” que vão vendê-los depois para outros “sem terra”, sem ter plantado uma única semente. Até pouco tempo atrás financiávamos sindicatos com o dinheiro seqüestrado dos trabalhadores para dar vida boa um sem número de “lideranças trabalhistas”, que na verdade não passavam de um bando de vagabundos que só representavam a si mesmos. E ainda tem gente querendo revogar a pífia reforma trabalhista feita recentemente e instituir de volta o famigerado imposto sindical. E tem também a esdrúxula legislação eleitoral que permite a formação de partidos políticos que não representam ninguém, só para beneficiar políticos sem voto com fundos partidários. Isso sem falar da famigerada lei que concede imunidade tributária aos templos de qualquer culto, sem qualquer critério ou discriminação. Até uma seita de adoradores do diabo poderá ter seu patrimônio e renda desonerada, se quiser. Não sei o que é pior. Um cabo eleitoral de políticos comandando uma repartição pública, fazendo de tudo para recompensar o seu padrinho, ou a bolivarização total da máquina pública, onde a ideologia de um partido vai ditar as regras. Tenho orgulho em ser brasileiro, mas às vezes não posso deixar de sentir uma pontinha de inveja do sistema americano, onde até o cargo de delegado de polícia local (xerife) é preenchido por eleição. Mas eu sou otimista e hei de morrer assim. Um dia este país vai ser sério.
PS. Acho que o filme se chamava Cimarron e o ator era o Glenn Ford.