Antilulismo extemporâneo

No sábado, 09 de dezembro, Geraldo Alckmin, já presidente do PSDB, disparou contra o Lula, numa postura, assim me pareceu, para inglês ver, não para atingir Lula, conquanto assim desse a entender, mas para, atraindo os holofotes, apresentar-se aos brasileiros como um antipetista, um antilulista, e rivalizar-se com Jair Bolsonaro, pré-candidato a presidente da República do Brasil e um dos dois favoritos ao Palácio do Planalto (se se der um voto de confiança aos institutos de pesquisa, que não gozam de credibilidade junto à população), ou o franco favorito, até o presente momento - e esforçam-se os esquerdistas para induzir os eleitores dele a acreditarem que tal favoritismo é só fogo de palha, e irá se desfazer assim que se iniciar a campanha eleitoral, ou antes, devido às revelações (dando a público o lado negro) acerca da vida pregressa dele, as quais a mídia dará ampla cobertura. Era o alvo de Geraldo Alckmin o Jair Bolsonaro, embora não lhe tocasse no nome, e não o Lula, conquanto o condenasse, unicamente a ele, pelo desastre econômico nacional que flagela 200 milhões de brasileiros. O antilulismo do Geraldo Alckmin, e, por extensão, do PSDB, não convence os avisados, os insugestionáveis, os que aprenderam a ver o que está sob a superfície, além das aparências, de suas motivações louváveis. É um antilulismo extemporâneo, um antilulismo de fachada, de quem, sem o seu arquiinimigo, fabricado na mesma indústria que o fabricou, forjado no mesmo forno que ele o foi, não tem o que oferecer aos brasileiros, nem mesmo um discurso. Além disso, naquele mesmo dia 09, pronunciou-se, retumbante, Fernando Henrique Cardoso, que se gabou de haver derrotado Lula em duas eleições e declarou desejar não vê-lo preso, mas livre e candidato à presidência, para que o candidato do PSDB, talvez o próprio Fernando Henrique Cardoso, e não Geraldo Alckmin, como muita gente dá como favas contadas, venha a derrotá-lo. Fernando Henrique Cardoso, gabando-se de haver derrotado Lula duas vezes, realçou o antilulismo dissimulado do PSDB, antilulismo que fortalece o Lula, em vez de enfraquecê-lo, pois tal antilulismo, apresentado pelo PSDB, provoca reação dos lulistas, dos militantes petistas, dos esquerdistas radicais, os quais agitam-se, os brios feridos, as bandeiras lulistas e movem o seu exército revolucionário, cujos soldados estão, de prontidão, esperando uma ordem do comando central, na imprensa, nos sindicatos, nos movimentos sociais. Os psdbistas, brandindo os lábaros antilulistas, excitam a hordas lulistas e outras hordas suas aliadas, e o que se vê é um embate simulado, no qual os dois supostos adversários retroalimentam-se, e fortalecem-se, e do qual são excluídos todos os outros personagens - em particular o Jair Bolsonaro - que podem vir a prejudicá-los e revelar aos brasileiros a trama urdida, em comunhão de bens, por Lula e por Fernando Henrique Cardoso, pelo PT e pelo PSDB.

Ao ouvir o Fernando Henrique Cardoso gabar-se dos seus dois feitos, isto é, de suas duas vitórias em disputas eleitorais, em 1994 e 1998, tendo Lula como adversário (e ele, Fernando Henrique Cardoso, conveniente, e prudentemente, esqueceu-se - ele, presumo, sofre de amnésia seletiva - que Lula derrotou, em 2002, o José Serra, em 2006, o Geraldo Alckmin, e o poste de Lula, Dilma Roussef, derrotou, em 2010, o José Serra, e, em 2014, o Aécio Neves, estando o placar, portanto, favorável ao PT), e, mais do que isso, exibindo, obscenamente, o seu desejo de vê-lo solto, e não preso, e candidato à presidência da República, perguntei-me qual a razão de tal desejo; qual é o ganho político do PSDB se o candidato tucano derrotar Lula uma vez mais; e se Fernando Henrique Cardoso está dando um recado, presumo: ‘Eu, Fernando Henrique Cardoso, que já derrotei Lula duas vezes, posso derrotá-lo uma vez mais’. E uma pulga atrás da orelha a atanazar-me e a atazanar-me: “Fernando Henrique Cardoso talvez não queira se candidatar à presidência; talvez ele queira Lula eleito presidente, daí não lhe desejar a prisão, e provavelmente, nem a condenação dele em 2ª instância, o que o retiraria da corrida eleitoral. E Fernando Henrique Cardoso não sendo candidato à presidência, quem do PSDB o será? Se Lula candidato, candidato será o Fernando Henrique Cardoso. Talvez. Se Lula, condenado, não se candidatando à presidência, outro qualquer do PSDB o será. E quem será? O Geraldo Alckmin, o qual Lula, arrasado pelo Mensalão, e já beijando a lona, derrotou, em 2006, porque ele, Geraldo Alckmin, preferiu derrotá-lo nas urnas a vê-lo impichado. Ora, se Lula e Geraldo Alckmin candidatos à presidência, a imprensa e os intelectuais, majoritariamente, para não dizer inteiramente, favoráveis a Lula, irão dar apoio irrestrito ao candidato do PT; e o Geraldo Alckmin colherá a sua segunda derrota para o filho mais ilustre de Garanhuns. E não podemos nos esquecer que Geraldo Alckmin contará com oposição dentro de seu próprio partido, e oposição ferrenha. Ou alguém, em sã consciência, acredita que Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves, a trindade divina tucana, lhe dará apoio?”. Talvez a pulga esteja com a razão. E eleito presidente, Lula, gozará de foro privilegiado, um presente que seu amigo tucano lhe deseja dar.

E todas estas suspeitas mas reforçou um artigo, que li, ontem (13 de dezembro), de autoria de Reinaldo Azevedo. Em tal artigo, ele chama a atenção à fala de Fernando Henrique Cardoso acima aludida, e conclui que não se deve pensar que ele vem em favor do Lula. Ora, perguntei-me, por que Reinaldo Azevedo destaca tal detalhe? Não é difícil entender: Ele, ao tomar conhecimento do que dissera Fernando Henrique Cardoso, concluiu, presumo, e corretamente, que muita gente, e foi o que se deu comigo, entenderia que o príncipe dos sociólogos tupiniquins, estava vindo em defesa de Lula, para livrá-lo da cadeia, e tão logo soubera disso, tratou de, com um raciocínio lógico impecável (é uma ironia), provar que não faz sentido acreditar que Fernando Henrique Cardoso, príncipe dos sociólogos tupinambás, iria em defesa do Lula, porque seria, caso ele não seja impedido de se candidatar à presidência, difícil vencê-lo, pois ele é o maior adversário que o candidato à presidência pelo PSDB, seja ele quem for, enfrentará, e seria mais difícil derrotá-lo a derrotar os outros postulantes ao Palácio do Planalto. É verdade. É um despautério ir em favor de um adversário mais poderoso... Mas quem foi que nos ensinou que os políticos decidem segundo a lógica? Além disso, quais informações não nos fornecem para que possamos entender o que está em curso? Por que eu concluiria que Fernando Henrique Cardoso tem a intenção de ver Lula, se candidato à presidência, derrotado, e pelo adversário do PSDB? A pulga atrás de minha orelha não me deixa engolir a história fernandohenriquecardosista, e, tampouco, a reinaldoazevediana.

Digo, em poucas palavras, o que penso a respeito: 1) Se Lula é um adversário mais difícil de ser derrotado, segundo as pesquisas de intenções de voto, então, elas estando corretas, cabe ao PSDB querer, se não a prisão dele, a condenação dele em 2º instância, para não correr o risco de por ele vir a ser derrotado mais uma vez - e seria a terceira; 2) Ou, então, o PSDB, no caso em particular o Fernando Henrique Cardoso, sabe que os resultados das pesquisas de intenções de voto dados ao público não representam a realidade e tem em mãos a pesquisa que traz os dados corretos, os quais mostram um Lula inofensivo e que é o Jair Bolsonaro a maior ameaça às ambições do PSDB, e para ter alguma chance, mínima que seja, de ter o seu candidato eleito presidente, tem o PSDB de chutar o cachorro morto, Lula, para, assim, e só assim, na ausência de discurso, investindo no antilulismo, não tendo mais um Plano Real como garoto propaganda, roubar alguns eleitores de Jair Bolsonaro.

Sabe-se que o establishment não quer Jair Bolsonaro presidente. Sabe-se que PT e PSDB, dois partidos socialistas, aliados, almejam, por meios distintos, atingir o mesmo fim.

E é impossível avaliar o antilulismo extemporâneo do PSDB se não se considerar a Estratégia das Tesouras.

Escrito em 18 de dezembro de 2017

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 26/12/2018
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