Nossos tempos.

A realidade compactada e reduzida que cada um vive, é delimitada pelos valores que cada um cultuou no decorrer de sua vida, dada cada subjetividade.

O Brasil, a relativamente pouco tempo, testemunhou um furacão político, uma trágica ruptura com a alma de uma democracia ainda não de todo consolidada, um atentado contra os trabalhadores, através de um golpe que depôs uma presidenta legitimamente constituída através de uma eleição legal, sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade conforme estipula o artigo 85 de nossa constituição. Foi a grosso modo deposta, em um ato de violência institucional, por haver perdido a maioria na câmara, onde tramitavam 55 projetos de lei que propunham a terceirização e o término de um dos mais históricos símbolos dos trabalhadores, a carteira de trabalho e previdência social.

Como todos sabemos, esse golpe se articulou com atropelos constitucionais(Congresso), alicerçados por robusta contribuição jurídica( o stf, rasgou a constituição) quando por exemplo, silenciou conivente com a quebra da hierarquia, no episódio da divulgação do áudio de Dilma Roussef, onde a mídia, servindo à interesses dos grandes impérios financeiros, sendo ela própria um deles, ajudou na consecução do golpe, sendo todos avalizados pelas forças armadas.

Essa desestruturação da ordem e da legalidade democrática surpreendeu os partidos de esquerda, de um modo geral, entre eles o PC do B, apesar de que grandes pensadores do partido, sinalizavam os perigos a cada movimentação dos autores do golpe, nos bastidores da geopolítica internacional.

Pensando em termos de sobrevivência jurídica em uma regime capitalista, fascista, a grande Jandira Feghali e a Luciana Santos se encontraram com Rodrigo Maia em Dezembro no Rio. Esse encontro ocorreu no mesmo hotel onde se situava o quartel-general da campanha de bolsonaro.

Recentemente o psl de bolsonaro, declarou apoio a candidatura de Maia, para a presidência da câmara em fevereiro e isso gerou bastante desconforto entre os partidos que doutrinariamente, são oposição ao bolsonaro e a sua quadrilha no poder, mas que aventavam a possibilidade de comporem com Maia, objetivando a sua eleição para a presidência da câmara.

Entendendo que os projetos que afetam direitos constitucionais, relativos à vida e a liberdade(índios, quilombolas) , e os direitos relativos à dignidade humana, dentre tantos outros, não podem ficar no fosso de indignidade dessa concepção de mundo, gangrenada, segregadora, inumana, representada pela atual quadrilha no poder.

Assim, é vital ter espaço na mesa diretora e no comando ou relatoria das comissões, para evitar-se a dilapidação agressiva do patrimônio público e a eliminação desses direitos humanos básicos a uma existência minimamente digna, principalmente às pessoas em estado de fragilidade social.

Nesse cenário , vemos os partidos construírem os seus acordos, para minimizar as terríveis possibilidades inseridas no bojo de nossa atual conjuntura.

Essa é a minha leitura apressada que faço do atual cenátio político, o que provocou algumas reações negativas daqueles que ocupam cargos de direção no partido, aqui nesse whats.

“No espaço entre aquilo que pensamos, e aquilo que desejamos dizer, entre o que acreditamos estar falando e aquilo que efetivamente dizemos, entre o que desejamos ouvir, e o que de fato ouvimos, entre o que supomos ter entendido e o que realmente compreendemos, existem oito possibilidades de não ser entendido”.

Penso que o debate democrático dentro da perspectiva da pluralidade, da diversidade de idéias, tem que prevalecer em qualquer instância, porque senão fica sem sentido criticar-se o fascismo obscurantista, pautado por idéias pré formatadas e prontas, quando se ostenta da mesma maneira uma postura autoritária e asfixiante que não permite o debate sobre idéias, que adquirem status de dogmas. A minha fala está circunscrita a um espaço, onde presumo, têm apenas pessoas de esquerda, cujo conhecimento deveria servir de pano de fundo, para a interpretação do que hoje ocorre no Brasil.

Não estou externando a minha opinião entre pessoas hostis, avessas ao conhecimento e ao debate sadio.

A horda de fascistas que tomou o Brasil de assalto tem medo da pluralidade, da idéia divergente, porque a pluralidade ameaça a própria existência desse pensamento estagnado que os sustém.

Em última instância, são eles o pensamento do gueto, da mesquinhez. Também regimes totalitários recusam a alteridade, a empatia, homogeneizam a todos em papéis estanques e a partir dessas cristalizações, os julgamentos ocorrem a priori.

Dificílimo se fazer entender, prisioneiro desses parâmetros engessadores.

Resumindo a ópera, pensei um pouco e julguei precipitada a minha atitude de sair do partido, então decidi continuar por enquanto, conversando ocasionalmente e dando as minhas poucas contribuições de militante, mas, sempre na luta enquanto personagem cultural dessa cidade.

Em um momento em que precisaremos exercitar atitudes positivas, enquanto destino, para fazer frente aos anos tenebrosos que nos esperam, aprendi que não abrir mão de minhas próprias idéias, mesmo que as pessoas com elas não concordem, é auto-respeito. (não sou dono de nenhuma verdade, igual a todos, estou sempre aberto para novos aprendizados). E eu não concordar com uma idéia, não me torna, necessariamente, inimigo da pessoa que de mim diverge.

Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 08/01/2019
Código do texto: T6546073
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