A DESGRAÇA TUPINIQUIM

As Capitanias Hereditárias constituíram um sistema adotado pela Coroa Portuguesa, e foi instalado no Brasil em 1534. Por esse sistema, o território brasileiro foi dividido em 15 faixas de terras, cuja posse e domínio foram concedidos aos nobres de confiança do rei D. João III (1502-1557). As Capitanias eram transmitidas de pai para filho, e as pessoas que recebiam essas concessões eram chamadas de donatários, os quais administravam com pleno poder os seus imensos lotes de terras. Estamos no ano de 2019, passaram-se, portanto, 485 anos, e os estudantes brasileiros, são informados pelo sistema de ensino, que o regime monarquista foi sucedido pelo republicano, estabelecendo a democracia, e o voto popular para eleger os seus governantes. Grave engano, porque na verdade os eleitores sempre irão votar em donatários, na sua versão atualizada. Vejamos.

A astúcia, a malícia, a perfídia, o sofisma, a safadeza e a “cara de pau”, são atributos intrínsecos e imanentes dos homens do mundo todo, e certos brasileiros “privilegiados” por uma grande e variada miscigenação, herdaram um pouco de cada um deles, formando um tipo altamente potencializado e exímio na sua articulação. Com esse arsenal de ingredientes, todos integrados na essência da sua estrutura, esses brasileiros especiais, habilmente, escamotearam a realidade ao longo de todo esse tempo, e mantiveram de forma sutil e subjacente, o mesmo regime de Capitanias Hereditárias, vigente até o dia de hoje, ludibriando facilmente o povo, como fazem com as crianças, os prestidigitadores e os palhaços nos espetáculos circenses. Os donatários de 1534, amparados pelo decreto da monarquia, transmitiam a posse e o domínio das suas terras aos seus herdeiros, portanto, amparados legalmente. Mas na “república” não existe mais esse decreto, e não há mais a concentração de poder da monarquia, portanto, somente o exercício daqueles atributos todos, sintetizados na astúcia, puderam substituir o decreto, e manter o desejado sistema de Capitanias Hereditárias até 2019, ainda que seja compulsória a admissão de sócios. E foi o que aconteceu, de forma sutil, para escapar da percepção popular, que está mais focada no futebol, no carnaval e nas diversões com os seus celulares.

Cada governo eleito trata de preencher todos os postos estratégicos, além dos ministérios, com pessoas da sua confiança e do seu relacionamento, e com a manipulação dos “concursos” cria e preenche os cargos mais importantes e bem remunerados, com parentes e amigos, cujos empregos são vitalícios, não podendo ocorrer dispensas pelos governos posteriores. Dessa forma, toda a estrutura de todos os governos, que se revezam na tomada do poder, está sempre formada pelos parentes e amigos, que também cuidam de incluir os seus herdeiros e amigos pelo mesmo sistema. Os parentes e amigos que ficarem de fora, por falta de cargos, de uma ou outra forma, manterão relações de interesses com o sistema, facilitadas pelos que estão do lado de dentro. Dessa forma, mesmo os governos anteriores mantêm algum poder, de forma permanente, ainda que no presente o governo seja exercido até pelo seu adversário. Para consolidar este fantástico paraíso ocupado pelo setor público, como um todo, encravado no meio da miséria que o circunda, temos uma específica, bondosa e parcial legislação, criada pelos próprios donatários, que protege toda a estrutura perdulária sustentada pelo dinheiro público. Assim, temos em 2019 e teremos infinitamente, o mesmo regime de Capitanias Hereditárias de 1534, porém, agora com sócios, e sem decreto. Esse sistema funciona em TODOS os setores que formam o que chamamos de “governo”, e o seu custo chama-se “Desgraça do Brasil”, pois, além do seu altíssimo custo financeiro, torna a administração extremamente ineficiente, exercida pela inabilitação, incompetência e pela segurança na manutenção do emprego vitalício, ocupado pela má fé da indicação e não pelo mérito do seu ocupante. Para agravar ainda mais o caos instalado, os felizes donatários geralmente comandam um poderoso sistema de corrupção, assaltando os cofres do Estado por meio das quadrilhas por eles mesmos instaladas no seu governo. A roubalheira acaba atingindo um volume exponencial, e nem a maior carga tributária do planeta consegue sustentá-la, e chega o momento em que a economia, que é independente de utópicas ideologias, acaba explodindo, denunciando a incompetência e a má fé dos donatários e seus comparsas.

Curiosamente, às vezes, em decorrência de imprevistos ou ações isoladas que escaparam dos limites da redoma, ocorre a explosão de denúncias mais amplas da corrupção e das falcatruas que ocorrem no governo. Mas, como TODOS fazem parte, de uma ou outra forma, da grande e poderosa quadrilha, o próprio governo da ocasião, organiza um grande espetáculo, chamado “Me Engana Que Eu Gosto”, construindo a aparência de que todos os criminosos serão punidos exemplarmente, na expectativa de que o povo se contente com o imbróglio, e quando a fumaça se dissipa, ninguém foi realmente punido, pois TODOS eles são “farinha do mesmo saco”, e se alimentam no mesmo coxo.

Felizmente para os donatários e seus comparsas, o povo é semelhante ao elefante, aquele paquiderme ingênuo, dócil e preguiçoso, que não sabe a força que possui, pois se soubesse, ele seria o dono do circo. Recentemente, os caminhoneiros, ordeira e pacificamente, deram uma bela lição ao governo, ensinando também o povo, que sem perder de vista os interesses do País, quando necessário deve repetir a lição, com muito maior amplitude. Não há donatário que resista. Além disso, as eleições criam sempre a oportunidade para que se faça a limpeza, lembrando a frase do escritor português Eça de Queiroz: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo”, até encontrar um donatário íntegro, provavelmente um alienígena.

Enquanto isso, do lado de fora, ao relento, disputando as sobras da mesa farta, milhões de cidadãos humildes, subnutridos, semialfabetizados, subservientes, semi vestidos, sub-integrados, maltratados, enganados, espoliados, marginalizados, desempregados, a maioria deles submersa na ingenuidade, se ofendendo e se agredindo entre si, iludidos pelas falsas ideias de ideologias utópicas que nunca serão, de fato, praticadas, e pela astúcia dos arrogantes donatários, que de tempos em tempos serão substituídos por outros donatários, todos da mesma espécie e se protegendo mutuamente, dentro do esquema de contínuo revezamento... Ad infinitum.

Como desmontar o sistema de Capitanias Hereditárias? Esta é uma pergunta para os ingênuos gladiadores que dão espetáculos nas arenas, ferindo-se uns aos outros, para o divertimento dos donatários e seus comparsas, acomodados confortavelmente na orgia das suas mordomias... Os únicos que poderiam desmontar essa “máquina infernal”, se é que eles existem, devem estar incluídos no "TODOS", anulando quaisquer possibilidades para acabar com o “conforto” que eles mesmos estão também desfrutando...

O Brasil e a Argentina estão no rumo da Venezuela, para a implosão do continente sul-americano, e a seguir, disputar com o continente africano o “Campeonato da Miséria”!

Os nossos descendentes, e inclusive os descendentes dos próprios donatários, quando o “barril de pólvora” explodir, certamente sentir-se-ão “orgulhosos”, e agradecerão aos seus antepassados, (nós todos) pela “integridade ética e moral”, e pela grande “sabedoria” que nortearam o patriotismo e lhes conferiu uma sábia antevisão do futuro da nação tupiniquim.

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 18/05/2019
Código do texto: T6650267
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