O escândalo da farsa

De uma hora para outra, o brasileiro passou a se escandalizar com algo que a pouco tempo aplaudia como um dever cívico: vazamentos ilegais de conversas telefônicas.

Seletividade e arbitrariedade caminham juntas, pois a primeira opera com afinidades e a segunda se encarrega de impo-la como ordem, verdade, moral e etc. Quando contaminam a política nos impulsiona gradualmente a regimes autoritários.

Moro, em abril deste ano (antes do Vaza Jato), sobre o vazamento de diálogos fora do tempo permitido: grampo em Dilma e Lula: "O problema não era a captação do diálogo e a divulgação do diálogo, mas o conteúdo do diálogo em si". 1

Moro em audiencia na CCJ: "No que se refere à minha atuação, eu mais uma vez reitero, senador, eu tenho plena convicção que agi com absoluta correção na aplicação imparcial da lei durante esse período"2

"Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?", diz Moro, segundo o site, em 2017.

O procurador concorda que os indícios são débeis, mas argumenta que investigar todos reforçaria a "imparcialidade" da força-tarefa. O então juiz retruca: "Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante."3

O verdadeiro escândalo se encontra em diversos fatos:

Na farsa de um julgamento em que o juiz atua chefiando a acusação, no caso a promotoria, dando inclusive sugestões, broncas e orientações.

Na farsa da Rede Globo que não fez neste caso nem metade do circo e do espetáculo que armou em torno da corrupção na Petrobrás. E de outras midias que se apegam a esperança que nem mesmo Dalagnoll e Moro parecem levar fé: de que os conteúdos dos materiais sejam falsos. Basta o Dalagnol entregar seu celular para a PF. Ver:4 e jogaria por terra todas estas denuncias do Intercept Brasil - isto se realmente o conteúdo for falso e fabricado para derrubar a Lava Jato, tal como muitos incautos e inocentes úteis afirmam.

Na farsa de que esta atuação do juiz com uma das partes envolvidas, orientando investigações e cobrando operações, é algo normal, ver Código do Processo Penal artigo 254.

Na farsa de Moro quando nega a autenticidade das mensagens, mas diz que não há nada demais nelas. É como se dissesse ainda que tivesse feito aquilo, estou esperando provar, não teria problema algum e sigo sem suspeições sobre o meu julgamento, imparcial...

Na farsa de quem se mostra indignado com a corrupção, mas não se importa com esta farsa judicial, com o Queiroz e relações políticas com milicianos.

Na farsa de quem se preocupava com ditadura na Venezuela importavel para o Brasil pelo PT e hoje pede fechamento de STF, Congresso e deportação de jornalista de oposição.

E por fim, de quem se escandaliza mais com suposta ação de hacker contra celulares de promotores e juízes do que contra as injustiças e moralidades reveladas nestes vazamentos. Como dizia Sérgio Moro:

"O problema não era a captação do diálogo e a divulgação do diálogo, mas o conteúdo do diálogo em si"

1https://www.conjur.com.br/2019-jun-10/moro-ministro-critico-vazamento-conversa-moro-juiz

2https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/06/19/moro-fala-sobre-grampo-de-dilma-havia-autorizacao-legal-e-nada-foi-liberado-a-conta-gotas.ghtml

3https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/19/politica/1560895434_267120.html

4 https://revistaforum.com.br/de-ferias-no-exterior-deltan-dallagnol-nao-teve-o-celular-periciado-pela-pf/amp/

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 25/06/2019
Reeditado em 25/06/2019
Código do texto: T6681315
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