MARX NÃO TINHA RAZÃO    
 
O momento conturbado que vivemos encarece a importância de filtrar o mundo que entra em nossa mente. Se não fizermos isso ela será contaminada pelo estado geral de pessimismo, desconsolo, conformismo e até sentimentos de ódio por pessoas que sequer conhecemos pessoalmente, mas que a mídia aponta como responsável por alguma mazela que está concorrendo para criar esse ambiente degradante em que estamos vivendo.      
   Se o mundo lá fora está ruim, contaminado pela corrupção, falta de caráter, malandragem, é porque ele degradou-se primeiro em nossas mentes. Deixamos que se disseminassem, em nossos espíritos, os modelos de sucesso a qualquer custo,  desvinculados de qualquer ecologia moral. Isso está patente na proliferação das igrejas que pregam a farsa do milagre comprado, na dinâmica dos realities shows, que propagam, de forma subliminar, o culto da malandragem e da manobra subreptícia como forma de sucesso nas relações pessoais, e principalmente no comportamento mafioso dos sindicatos, partidos políticos e grupos alternativos, como os das torcidas organizadas e comunidades internautas, que se socorrem da estrutura quadrilheira para praticar seus atos criminosos.
     Quando ética, moral, responsabilidade e compromisso com a vida humana - virtudes que dão vigor ao caráter das pessoas - são desprezadas, o caos se instala na sociedade. Nossa mente não opera no vazio. Ela precisa de material para trabalhar. Se a ela dermos lixo, ela nos devolverá lixo processado; se a ela dermos uma boa matéria prima, ela nos devolverá produtos de alta qualidade. Essa é a função de um bom sistema de educação. 
    Precisamos aprender uma forma diferente de educar nossas mentes. Quer dizer: precisamos de uma educação que recupere pressupostos onde a ecologia do sistema encareça especialmente a questão ética e a moral, de forma que tanto o ambiente interno, do indivíduo, ou seja, o seu espírito, quanto o externo, o seu comportamento social, não sejam contaminados por conta desses vícios de caráter. 
    Nossos modelos culturais contemplam o pressuposto marxista segundo o qual a forma pela qual ganhamos a vida (a superestrutura) determina a forma pela qual pensamos e sentimos (a infraestrutura). Isso pressupõe que é a matéria que alimenta o espírito e não o contrário. A conclusão é que quanto mais podre o nosso ambiente externo estiver, mais deteriorado se apresentarão os indivíduos em seu caráter. É o hábito fazendo o monge e não o monge dando qualidade ao hábito.
    Está na hora de mudarmos essa forma de pensar. Se não acreditarmos que podemos ser melhores do que somos, então estamos de fato perdidos. E aí só nos restará pedir a Deus um novo dilúvio (ou outra catástrofe qualquer) para acabar com o que existe hoje e tentar começar tudo de novo. 
    Mas eu quero acreditar que o velho Marx não tinha razão. Nenhuma sociedade existiria se o nosso espírito não a tivesse projetado e não haveria matéria se Deus não a tivesse manifestado. Assim, podemos ter esperança, e começar uma mudança a partir de nós mesmos.