PODRES PODERES
 
Sempre tive simpatia pelo sistema parlamentarista de governo. Acho que seria uma tentativa válida para um país como o Brasil, cuja história está vinculada ao caudilhismo, ao autoritarismo e ao messianismo, que afloram toda vez que o pais enfrenta dificuldades políticas. O atual sistema, centrado num Poder Executivo forte, secundado por um Legislativo corporativista e faccioso, e um Judiciário, que não raras vezes, transborda das suas funções de freio e contra peso ao poder de um e outro, para servir a facções políticas, reflete a deformação que a vontade das pessoas que os exercem lhes provoca. É o que está ocorrendo no país no momento atual. Elegemos um chefe do Executivo que pensa poder fazer o que bem entende por conta dos votos que recebeu em uma eleição, na qual pouco mais da metade dos habitantes do país votaram. E ele, que recebeu menos da metade do eleitorado habilitado a votar, acha que sua vontade representa o total da população, e tudo o que ele pensa ser o melhor para o país é, de fato, o que deve ser feito. Por outro lado temos um Parlamento temendo que  o espírito messiânico do Presidente desemboque num autoritarismo que ninguém deseja que se repita no país. Por conta disso, morde de um lado e assopra de outro, criando insegurança jurídica e turbulência política. Correndo por fora dessa raia temos um Poder Judiciário com membros muito ciosos das suas prerrogativas. Seus integrantes, especialmente os do Ministério Público, da Magistratura e da Polícia Federal, depois do advento da Lava a Jato, conquistaram tanto território nessa guerra de poder, que agora dificilmente abandonarão trincheiras sem luta. E, principalmente alguns ministros do Supremo, juntamente com os integrantes do Ministério Público (o que já é uma tendência natural deles), só ouvem os próprios egos, e a cada dia, jogam mais lenha nessa fogueira de vaidades.
Não são outras as razões dos embates que estão colocando os meios políticos do país em polvorosa, dificultando a realização das reformas que o país precisa para sair do pântano de atraso em que se encontra. Assiste-se a uma guerra surda entre lideranças, como se a razão dessa gente estar lá, exercendo os poderes que lhes foram conferidos, fosse a assunção de um protagonismo egocêntrico e vaidoso, e não o cumprimento da função constitucional de cada um, que deveria ser exercida de forma harmônica e complementar entre eles. Exemplo desse exercício de egoísmo corporativo que os podres poderes da nossa República nos estão dando é o absurdo projeto de lei que foi aprovado pela Câmara dos Deputados, limitando as autoridades policiais e judiciárias no exercício das suas funções constitucionais. Esse projeto é uma clara reação dos políticos contra a atuação das autoridades policiais e judiciárias, que com a Operação Lava a Jato, começaram a incomodar os congressistas, já que uma grande parte deles está envolvida em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Como disse, sou fã do Parlamentarismo, com voto distrital e partidos políticos fortes, com programas definidos. Mas antes que esse regime seja instituído é preciso uma profilaxia no sistema, para que possamos, de fato, eleger verdadeiros representantes do povo, e não apenas carreiristas que só querem defender interesses próprios e dos lobbies que os elegeram. Com isso também talvez possamos fazer uma limpa no Judiciário, com eleições diretas para os principais cargos, acabando com as indicações comprometidas e compromissadas com as pessoas e os esquemas a quem elas servem.