A LANTERNA DO SUBDESENVOLVIMENTO

Acabo de voltar de uma viagem por terras de Portugal e Espanha, onde fui visitar parentes e a amigos que estão morando lá. Não tem jeito. A gente fica comparando. Qualidade das estradas, dos serviços públicos, dos produtos oferecidos á população, a educação do povo e principalmente o padrão de segurança que os cidadãos das urbes européias gozam. Tanto nas pequenas quanto nas médias cidades, é possível andar a pé, de noite, sem o medo de ser assaltado. Claro que existe esse risco, mas ele não se compara, em termos de possibilidade, às cidade brasileiras, mesmo as pequenas e pacatas comunidades do interior, que em outros tempos eram paraísos de tranquilidade. Em Madri, Barcelona, Córdoba, Lisboa e Porto, grandes cidades onde estive, notei a responsabilidade com que as pessoas, pedestres e motoristas respeitam as leis de trânsito, por exemplo. Raros os indivíduos que cruzam uma rua fora das faixas de pedestres e quase não se vê motoristas deixando de parar á vista de uma. Fiquei alguns dias em Aveiro, Portugal, hospedado com um parente que está trabalhando lá. Aveiro é uma espécie de Veneza portuguesa. Cortada no seu centro por vários canais, é uma grande atração turística que recebe muitos brasileiros. Encontrei muitos por lá. Mesmo nesta época, em que o outono está começando, e o frio começa a chegar na região, ela se apresenta apinhada de turistas. Dá gosto ver o movimento de pessoas de tantas nacionalidades, falando diversos idiomas nos restaurantes, nas lojas e nas estações de ônibus e de trens.
A propósito, viajei pela Espanha e por Portugal de trem. Que maravilha. Comboios rápidos e modernos, que estão sempre no horário programado. Em ambos os países, pode-se ir a qualquer cidade por via férrea. Eu e minha esposa percorremos boa parte da região espanhola da Andaluzia de trem. E em Portugal, andamos por quase todo o país. E nessas horas fiquei pensando na estultice dos governantes brasileiros, que preferiram desenvolver uma matriz de transporte baseada na rodovia, preterindo o transporte ferroviário, muito mais barato, eficiente e menos destruidor de ambientes. Lembrei-me que essa opção foi escolhida por Juscelino Kubitschek para atrair a indústria automobilística para o Brasil e com ela alavancar o seu sonho utópico de uma marcha para o oeste, através da construção de uma capital no cerrado. Deu certo de um lado, pois trouxe modernidade e investimentos para o país, mas de outro prejudicou uma matriz que já vinha dando certo, principalmente no estado de São Paulo,  que possuia uma grande rede ferroviária, que levou desenvolvimento a quase todas as regiões do estado. A ferrovia foi a responsável pelo povoamento e o desenvolvimento da economia paulista, e se São Paulo é hoje o estado mais desenvolvido do país, deve-se muito a esse fator.
Está mais que na hora de retomar essa discussão. A rodovia, o automóvel e o caminhão já não são mais uma boa opção para o transporte de pessoas e mercadorias, em um território tão extenso como o Brasil. Nunca foram. E agora menos ainda. Nossos governantes precisam libertar o país da escravidão das montadoras. Afinal de contas, a era dos combustíveis fósseis está no fim, e quem não se aperceber disso vai continuar a carregar a lanterna do subdesenvolvimento.