Uma questão de coerência – parte 2

Após questionar se há coerência em entregar a administração do Estado a pessoas sem a devida competência, passamos a aprofundar essa questão.

Ora, uma empresa requer que o administrador tenha noção de gerenciamento, e que se cerque de pessoas que tenham habilidades específicas para melhor gerir o negócio. Assim, há o advogado nas questões jurídicas, o contador para a contabilidade, um especialista para a linha de produção da empresa, e assim sucessivamente. Mas acima de tudo, o administrador precisa ter noções básicas para saber se aquelas decisões são as corretas. E é preciso saber gerir pessoas.

Na esfera pública essa ideia deveria ser aplicada. E a função de assessoria caberia aos ministros, ou seja, especialistas em áreas específicas para melhor implantar as metas em determinado setor. Se pensarmos bem nisso, veremos que, por consequência, não é necessária a existência de tantos ministérios.

Ao chefe de governo cabe saber gerir esses setores, administrar a necessidade de cada um deles, para que haja harmonia em sua equipe e gestão racional dos recursos. É assim que um administrador de empresas faz.

Ora, observemos a república brasileira desde 1889. Desde o golpe que destituiu a monarquia o que vemos foram inúmeros rompimentos da ordem legal, sempre por grupos políticos que defendiam apenas e tão somente o interesse de seus grupos. A intenção de cada grupo sempre foi a perpetuação no poder, sem pensar na gestão eficiente do Estado. Ora, quantos rompimentos ocorreram desde a implantação da República? Primeiro foram os presidentes militares, depois veio a política do café com leite. Então houve o golpe e a criação do Estado Novo de 1930. Em 1945 outra mudança que terminou em 1964 com a aclamação social contra a política do governo e um regime militar. Nova mudança em 1985, e desde então a derrocada de um país que chegou ao ponto de não ter lei, como é o que vivemos hoje.

É radicalismo dizer isso? O que vemos então? A lei é efetivamente aplicada? Ou vemos uma série de casuísmos baseado no interesse de grupos?

A República brasileira é marcada por isso, a busca pela satisfação de interesse próprio, do grupo que a domina. Nas lideranças não há alguém capaz de gerir a coisa pública com vistas a melhoria do país. Não é uma política voltada ao interesse público. É voltada somente para a satisfação do grupo que a elegeu.

É diferente se observamos no regime monárquico brasileiro. Desde a emancipação de Portugal, não houve nenhum golpe. Isso dava estabilidade ao país. Havia a possibilidade de planejamento, de organização. A liderança era preparada, desde a infância para gerir. Não para satisfação de seu interesse, mas para cumprir a necessidade do país.

Tanto é verdade que no caso emblemático da escravatura, apesar de o imperador ser contra, ainda assim respeitava a lei que grupos contrários insistiam em manter. Grupos contrários que dariam voz a República…

Se para gerir uma empresa é necessário estudo, dedicação, reflexão, organização, imaginem o que é necessário para administrar um país? Não é apenas o poder econômico de um grupo, nem a eloquência de um discurso, muito menos a pose. É mais do que isso. É necessário entender as pessoas dentro de seus limites, é preciso ter visão das forças que movem as pessoas. É preciso conhecer a alma humana.

Um líder preparado, como dizia Platão, que para ser o líder foi instruído para conhecer-se, de saber que não será servido, mas que deverá servir ao país. Será o exemplo e terá de dar sua vida como testemunho do que falou. Suas palavras serão consequência de sua ação. Assim foram os imperadores que passaram pelo Brasil. Tinham formação intelectual e conheciam seu povo. Davam testemunho do que faziam e defendiam.

Será assim a nossa república?