Ex-namoradinha
                                               21/05/2020


O que é pior que uma mulher cínica num arrombo de chilique? Duas cínicas, ou várias cínicas juntas? Calma, minha leitora amiga, não há necessidades de trepar pelas paredes como uma lagartixa profissional antes da hora, calma... Muita calma nessa hora.

Adegesto Pataca Texugueiro é um suicida, aliás, já é um defunto com os algodões nas narinas, só não se livrou do corpo ainda, pois a decisão é taxativa e definitiva. Pensou em quatro possibilidades de se livrar daquele corpo repugnante, aquele peso. Amarrar uma pedra no pescoço e saltar da ponte, Saltar do prédio mais alto da cidade, se jogar na frente da locomotiva ou beber veneno.

Com o veneno de matar rato suficiente para liquidar 1003 ratos no bolso, saiu de casa, à sua frente, o prédio mais alto da cidade, 57 andares mais a casa de máquinas. À esquerda a ponte que cruza o rio Paraíso das Adúlteras, à sua direita a estação Ferroviária Abner Acheropita Agnus Del-Rei.

Errei, o suicida não entra agora, ele vai suicidar, calma gente, mas não é nessa parte do texto. Sabe quando a mente anda na frente arrastando o corpo? Assim estão os dedos das mãos, se arrastando no teclado.

A pandemia, é da pandemia que quero discorrer. Aliás, esse flagelo que arrasa as massas, já se tornou um bichinho de estimação para mim, trato-a como uma cadelinha, pela manhã dou-lhe leite no pires, leio o jornal como se alisasse o dorso de um gatinho abandonado na rua, ouço o telejornal como se fosse minha amante sussurrando no pé dos meus ouvidos seus segredos mais sórdidos.

Todo mundo já sabe, e como! Que nosso escolhido da pátria não tem papas na língua, trata seus subservientes e oponentes a chutes, dedo no olho e a pontapés. Pois bem.

Detectado por seus asseclas e pelo excedente do corpo social por ser beligerante, o elegido diz: Sou sim, e daí? 24 horas por dia a criatura distribui bifas, sopapos, pontapés, pedradas e aviltamentos a torto e a direito. Mas não é do lado bom do nosso mandão que quero articular, mas de um ser, de um afetado que se embrenhou a trabalhar para o capitão.

A pessoa dedicou urdir para o beligerante; passou a vida inteira, isso mesmo: começo, meio e fim, uma vida longa e próspera na arte, no mundo da arte, no mundo da cultura.

Nunca, o conceito medíocre foi dado a ela, nem mediano, nem bom ou muito bom, mas excelente. O interessante é que, nesse mundo das artes, das culturas, a pessoa reconhecida como excelente, é também reconhecida como inteligentíssima, ela chegou ao ponto de ser venerada! muitos beijaram-lhe as mãos, outros os pés.

As pessoas olham pra cabeça dela e na hora sentenciam: Inteligência ali é mato, tem inteligência pra no mínimo, umas cinco encarnações, tem pra dar e pra vender.

Outro dia assistindo o telejornal pensei de mim para mim mesmo, William Bonner é um ator ou é um boneco de ventríloquo, ou nem uma coisa nem outra? Mas não é do bisbórria da tevê que quero falar, é dela, da mulher que já foi venerada como uma deusa.

Outrora elevada a namoradinha do Brasil, a mulher que a inteligência é igual a mato, sua inteligência age em qualquer lugar e a qualquer tempo, o sol pode estar rachando aroeira, o ar árido como três desertos do Saara, nada abala ou intimida sua inteligência.

Aqui não cabe julgar a ex-namoradinha do Brasil, não, aqui não, mas a torcida do flamengo fica remoendo como um suicida indeciso: Meu Deus do céu! Por que a ex-atriz foi trabalhar lado do antagonista da cultura, ao lado do beligerante que é um iletrado em sapiência à arte e à cultura?

Seria a secretária de cultura uma sátira? Ou uma crapulosa? Ou uma ousada, afoita e pernóstica? não! não! e não! Talvez seria uma ignomínia ou um paradoxo às avessas da cultura!

O desfecho do suicídio de Adegesto Pataca Texugueiro foi uma tragédia exponencialmente humilhante, morte é morte, ponto! Mas têm mortes que nunca deveriam ser reveladas, deveriam ser guardadas a sete chaves, um mistério, digamos um dogma virginal. Adegesto Pataca Texugueiro foi atropelado por uma carroça conduzida pela esposa apelidada de 'a caolha', mas de caolha ela não tinha nada.