Integração nacional: desafio de uma geração

Integração nacional: desafio de uma geração

Alexandre Santos*

Embora tenha estabilizado fronteiras claras e não enfrente questionamentos políticos ou diplomáticos, do ponto de vista concreto, o Brasil ainda não conseguiu consolidar uma verdadeira unidade nacional.

Este é um tema incômodo, mas, embora poucos admitam sequer conversar sobre o assunto, é inegável que, sobre o imenso território brasileiro convivem muitos brasis, indicando que a integração nacional é uma obra por concluir.

Levantada a lebre, os indicadores da descontinuidade aparecem aos borbotões.

Sem contar os descompassos econômicos e sociais, tradicionalmente referidos em estudos que apontam a existência simultânea de brasis com diferentes níveis de riqueza e de conforto social, amostras da falta de unidade nacional pululam em todas as áreas. Em termos ferroviários, por exemplo, a diversidade das bitolas desmoraliza a tese da unidade nacional, fazendo do País um grande arquipélago. Há um Brasil de 220 volts, outro de 110 volts; um Brasil de 60 ciclos, outro de 50 ciclos; e vai por aí. Este tipo de diversidade, que não se justifica por razões técnicas, se projeta sobre várias áreas com significativos e indesejáveis rebatimentos na dinâmica social e econômica do País.

Nunca é demais frisar que o fato de o Brasil ser um país jovem, ter dimensões continentais e ser marcado por expressivas peculiaridades regionais e locais não justifica a renitência dos elementos que comprometem a unidade .

O desejo de integrar o País, naturalmente, não pode almejar uniformidades ameaçadoras da diversidade cultural que faz do Brasil um ambiente especial. Afinal de contas, assentada em centenas de milhares de cenários que se confrontam, ajustam, completam e, às vezes, interpenetram uns nos outros formando miscelâneas complexas – e, muitas vezes, indecifráveis – e submetida a diferentes contextos políticos, sociais, climáticos, geográficos, históricos e econômicos, saboreando sotaques deliciosos, a população brasileira enfrenta e projeta várias realidades, apresentando nítidas diferenças nos modos de ver, descrever e escrever o mundo. Esta diversidade não pode ser ameaçada por nenhum projeto de integração, claro. Na realidade, um projeto de integração pode e deve preservar as diversidades que fortalecem a unidade. Veja o caso da moderna Europa, que está progressivamente mais integrada e, nem por isso, perde as identidades regionais e locais.

É difícil saber se a desarticulação que compromete a unidade nacional decorre da falta de uma decisão política para integrar o País ou, inversamente, de uma decisão para mantê-lo desconectado internamente. De qualquer forma, é certo que a integração do País – cuja implementação passa, necessariamente, por uma decisão política – enfrenta resistências poderosas. Embora só favoreça a conveniências localizadas, alienígenas e xenófilas – inclusive àquelas que visam tão somente combater a tão sonhada integração continental – muitos interesses e desinteresses tentam evitar que os brasis se conectem para construção da base essencial para a prosperidade conjunta. Na realidade, a desarticulação interna do País conta com poderosos e silenciosos partidários, inclusive alguns impulsionados por boa fé, como aqueles que, no passado, projetaram linhas férreas incompatíveis entre si para “dificultar uma eventual invasão do País”. De qualquer forma, por mais justificáveis que possam ter parecido no passado, não há como, nos dias correntes, sustentar qualquer argumento contra a articulação nacional.

Se quiser constitui um projeto de desenvolvimento inclusivo e participativo, o País precisa alcançar a unidade nacional, deixando fluir a circulação, produção e desfrute de bens e serviços de todos os tipos. Para isto, o povo brasileiro precisa rebelar-se contra os fracionamentos e rupturas; [precisa] conter, desestimular, desmobilizar e desarticular forças reacionárias; [precisa] cobrar projetos capazes de integrar os diversos brasis.

Que a unidade nacional seja um projeto acima das ideologias e cores partidárias!

Que os todos brasileiros possam desfrutar o País que é seu!

(*) Alexandre Santos é presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural