Um leão apaixonou-se por uma jovem raposa e decidiu casar-se com ela. Enfrentando a oposição da própria espécie, foi até a toca da raposa pedir a mão dela em casamento.
O pai dela era um velho raposão muito esperto. Desconfiou logo das intenções do leão. 
― Quem garante que você não está querendo se casar com a minha filha somente para transformá-la num bom jantar? ― perguntou ele ao leão.
― Peça a garantia que quiser ― disse o leão.
O velho raposo pensou por alguns minutos e por fim disse:
― Eis então o que eu peço. Arranque todos os seus dentes e as suas garras e traga-as para mim. Se você for capaz de fazer isso, deixo você se casar com a minha filha.
Dito e feito. O leão foi a um dentista e mandou arrancar todos os dentes e as garras. Banguela, com as patas sangrando, inofensivo, insultado pelos seus companheiros e debochado por todos os animais da floresta, lá foi ele entregar seus perigosos dentes e suas mortíferas garras ao velho raposão.
― Eis os meus dentes e as minhas garras. Fiz o que me pediu como prova do meu amor por sua filha. Quando será o casamento ―, perguntou o leão.
― Nunca ―, respondeu o velho raposão. 
―Mas como? ― Não fiz o que o senhor pediu? Sou agora um leão inofensivo e desdentado. Não posso mais machucar ninguém. Fiz tudo por amor à sua filha. 
―Azar seu ― disse o velho raposão. ― Agora você é um leão banguela e sem garras. Não pode nem caçar. Como vai sustentar uma família? Como vai defendê-la dos perigos se nem garras tem? Um leão sem dentes e sem garras não é mais um leão. É uma aberração. É um sujeito sem identidade própria, e alguém assim não pode ser um bom marido para ninguém.
― Isso é uma tremenda injustiça ― reclamou o leão. ― Eu fiz o que fiz por amor. E foi o senhor quem pediu. 
― Esse é o problema ―, disse o raposão. Você deveria saber que o verdadeiro amor não pede a ninguém que renuncie a si mesmo por causa dele. O amor integra, mas nunca desintegra. Soma, mas não diminui. O amor pode fazer um leão mais uma raposa, mas do jeito que você está agora vocês seriam uma raposa menos um leão. Não é de casais assim que a natureza precisa. Ela quer reprodutores sadios que produzam crias fortes e sempre melhores que as anteriores.
E assim o leão se foi, triste, cabisbaixo e derrotado.
Moral da história: nunca renuncie à sua natureza. Nem por amor.
Dedico essa fábula ao presidente Bolsonaro, para lembrá-lo que ele foi eleito como leão, para governar uma selva cheia de predadores nocivos e rapaces. E cheia de raposões ávidos para transformá-lo em um bichano inofensivo.