Sobre vacinas, jacarés, relógios parados, gado e democracia.

Segundo domingo do ano. Aqui no Brasil acompanhamos a vacinação que ocorre em vários países do mundo com os olhos ansiosos de uma criança que pela janela observa os amigos brincando enquanto aguarda autorização para sair – Se tudo der certo, antes do próximo mês começa a vacinação por aqui, apesar de todos os atrasos e falhas. Importante que a população tenha em mente que a vacinação acontecerá APESAR DE e não por causa de. Apesar dos desmontes promovidos pelo PSDB nos últimos anos através dos sucessivos ataques ao funcionalismo público, apesar do descaso do atual governo federal com a ciência e com a saúde em suas tantas tentativas de desacreditar a vacina. A vacina, no Brasil, tem sido tratada como disputa política e não como uma questão de amor à vida humana e esse fato precisa ficar explícito, afinal, ano que vem teremos eleições. Ainda bem que, como diz o ditado, até um relógio parado está acerta duas vezes ao dia e, em relação à luta pela vacina, João Dória conseguiu acertar.

E por falar em eleições o mundo acompanhou perplexo o desenrolar dos fatos nos Estados Unidos com a invasão ao Capitólio pelos apoiadores do atual presidente reluta em aceitar a derrota sofrida nas urnas – Isso, possivelmente é uma amostra do que enfrentaremos após as eleições de 2022, inclusive o próprio inominável ocupante da cadeira presidencial já deu uma pista sobre o assunto ao publicar numa rede social que “teremos problemas por aqui se não houver voto impresso”. Outra questão interessante sobre o ocorrido é perceber que nas manifestações do movimento negro, a força nacional estava ostensivamente presente – Não é estranha a ausência de segurança em um momento tão importante para os Norte-Americanos? Lá ou aqui, é muito perigoso deixar o gado solto, entretanto lá a própria direita repudiou os fatos ocorridos e Donald Trump perdeu apoios importantes dentro do partido, membros de sua equipe pediram demissão e as principais redes sociais suspenderam por tempo indeterminado os perfis do (até então) presidente. Acredito que as redes sociais precisam dar uma atenção ao que acontece aqui no Brasil, para evitar que as fake news e incitações de ódio vindas da gadolândia bolsonarista se espalhem ainda mais. De toda forma, é assustador perceber a influência que uma figura pública ainda detém sobre as pessoas – Até quando a humanidade irá buscar grandes líderes e heróis? Uma eleição nacional e um processo de transição não deveriam sofrer influencia de posts em redes sociais – São decisões que influenciam o mundo, e não disputa por uma vaga como representante de sala na quinta série do ensino fundamental. Ou será que a humanidade ainda está no ensino fundamental?

Na política nacional o assunto é a eleição para presidência da Câmara e do Senado – Parte da esquerda sinaliza para o apoio a uma chapa de centro, numa tentativa de barrar a eleição do candidato apoiado pelo atual presidente – O que tem lógica, mas ao mesmo tempo expõe o medo de não conseguir eleger um nome que efetivamente represente seus ideais. Algumas vezes é preciso dar um ou dois passos para trás antes de avançar, porém é fundamental lembrar que a união do PT com o MDB em nome da suposta governabilidade acabou desencadeando o golpe de 2016 – E quem sofre as conseqüências disso é o trabalhador brasileiro, espoliado de seus direitos trabalhistas, prejudicado em sua aposentadoria, refém de uma crise econômica e do desemprego ampliado pela pandemia. Enquanto isso, o atual presidente diz que “não pode fazer nada pois o país está quebrado” – Possivelmente se seguíssemos os passos da Argentina taxando as grandes fortunas, as coisas melhorariam por aqui. Além disso, ainda é necessário que se façam auditorias das dívidas do governo e cobrem-se os valores astronômicos devidos aos cofres públicos por milionários.

Algumas vezes me pergunto: Por qual motivo meus antepassados entraram em um navio e vieram para o Brasil. Imagino que lá em Portugal a vida não devia estar muito boa, porém agora a situação se inverteu e lá está melhor que cá. Dá vontade de pegar um avião e tentar a vida em terras lusitanas? Dá. Mas a vida dá voltas e daqui alguns anos pode ser que este gigante adormecido (desmaiado) chamado Brasil esteja em melhores condições e aí serão meus bisnetos ou tataranetos a passar aperto por lá e perguntar: O que levou minha bisavó a sair do Brasil. Melhor não arriscar – Fico por aqui mesmo, trabalhando, escrevendo e militando por um país melhor (enquanto eu ainda tiver força e paciência para isso).

Para não dizer que tudo são más notícias, uma lei foi aprovada na cidade de São Paulo e me trouxe um pequeno alento: Foram proibidos os plásticos descartáveis em bares e restaurantes. É um pequeno passo na busca por um mundo com menos lixo. Sei que muitas pessoas não confiam na higienização de pratos, copos e talheres nos bares e restaurantes, eu mesma tenho minhas restrições, mas isso se resolve carregando na bolsa um copo reutilizável e um pequeno “kit” com talher e prato. É só uma questão de costume. A saúde dos nossos mares agradece.

A segunda boa notícia é que a vacinação contra COVID-19 segue a todo vapor pelo mundo e até agora não foram identificados casos de mutação: Ninguém se tornou X-MAN nem jacaré.

Uma boa semana a todas, todos e todes. Viva o Butantã, viva a ciência, viva o funcionalismo público e #VemVacina.