IRRACIONALIDADE E INCOERÊNCIA
 
Dilma e Collor sofreram impeachement por não saberem armar uma rede de proteção formada por deputados e senadores venais, comprados com cargos e verbas públicas. Bolsonaro está sendo mais competente nesse quesito, pois cooptou uma plêiade de políticos sabidamente ávidos por esse tipo de negociata, e construiu em torno de si uma blindagem que, seguramente, o impedirá de sofrer o mesmo castigo que os seus infelizes antecessores, ainda que seus crimes talvez sejam até mais graves. Além disso, também conseguiu nomear um Procurador Geral da República condescendente e praticamente cúmplice de todas as suas maquinações contra a ordem institucional. Augusto Arras, até agora, tem atuado mais como aliado do Presidente do que como Defensor da República. Sua desculpa, para ignorar todas as investidas que Bolsonaro tem feito contra a democracia e a Constituição do país, é a de que ele não quer “criminalizar a política.” Esse chavão já foi usado por Gilmar Mendes e seus seguidores, para garantir impunidade para criminosos de colarinho branco.
Não foi por outra razão que Arras foi reconduzido ao cargo por ampla maioria, que em votação secreta, o aprovaram para um segundo mandato. Não poderia dar outra coisa, já que uma boa parcela dos membros do colegiado que votou pela sua recondução responde a processos de corrupção ou por outras mazelas cometidas no exercício da função pública. Arras ganhou a complacência do Senado por sua oposição à Operação Lava a Jato, que ele tanto se esforçou para desmontar. Isso é fácil de entender. O que nos causa espécie é que essa operação tenha sido comandada exatamente pelo presidente Bolsonaro, que se elegeu graças à verdadeira devassa que a Lava a Jato fez no PT, tirando inclusive o Lula da parada.
 Ninguém ajudou mais o Bolsonaro na sua eleição do que os procuradores da Lava a Jato e o juiz Sérgio Moro. Mas bastou o Moro criar asas e fazer sombra para ele, que foi logo defenestrado. E em seguida desmontou a Lava a Jato, com a condução de Arras à PGR.  Evidentemente, não se pode mesmo exigir coerência nem racionalidade de políticos cuja única meta é o poder a qualquer custo. Sejam de direita ou de esquerda, são todos da mesma laia. Lula, por exemplo, já deixou bem claro que se chegar novamente ao poder a primeira coisa que fará será controlar os meios de comunicação. Isso é algo que Bolsonaro tem tentado fazer desde que assumiu e certamente fará se conseguir um segundo mandato.
Falando de incoerência e irracionalidade, o STF também não fica atrás. Manda o Senado abrir uma CPI para apurar os erros do governo no combate à pandemia do Corona Vírus e depois concede habeas corpus para os depoentes ficarem calados ou não comparecerem. Isso depois de anular os processos contra os políticos corruptos. Eles, que se dizem guardiões da lei. Será ingenuidade esperar que um dia o Brasil se torne um país sério?