O FIM DA LINHA

Estamos a menos de cem dias do 1º Turno das eleições de 2022, vivendo um furacão de fatos, notícias, boatos e narrativas de naturezas diversas mas com objetivo único, a campanha eleitoral, buscando o pódio, a continuidade, a impunidade, o poder ou tão só salvar a pele.

Acredito que alguns milhares ou milhões de cidadãos conscientes, civil e familiarmente responsáveis e com os neurónios mais ou menos alinhados, estejam estupefatos ante o quadro que se apresenta no que se refere a candidatos, negociações partidárias, financiamento e propaganda.

Dois tópicos sobressaem nesse verdadeiro teatro de Ionesco, a qualidade intelectual, histórica e moral dos dois candidatos favoritos e a gritante ausência de um projeto mínimo de governo que ofereça um vislumbre de como pretendem tirar o país do buraco constitucional, político, econômico, social, educacional e moral em que se encontra.

Como podemos imaginar que um país continental com imensos recursos minerais, hídricos e florestais, com quase oito mil quilômetros de litoral atlântico coalhado de praias belíssimas com fabuloso potencial turístico, com invejável potencial hidroelétrico, eólico e solar, com mais de duzentos milhões de habitantes pacíficos e laboriosos e fronteiras amigáveis, se situe em vergonhosos índices de educação, inovação, renda per capita e um humilhante 9º lugar mundial nos países com maior desigualdade social.

E mais, como podemos entender que essa enorme massa humana aceite um regime político “de fato” que subjuga 90% dessa população aos interesses e privilégios de uma casta dominante composta de governantes, parlamentares, juízes, militares, empresários, banqueiros, líderes religiosos, proprietários e jornalistas da grande imprensa, rádio e televisão e todo tipo de agregado ao Poder de plantão, tudo isso com a camuflagem de uma tal de democracia representativa e a cobertura retórica de uma constituição leniente e um sistema legal elaborado pelos beneficiários diretos e, ainda, se proponha a escolher uma das duas vias postas, para continuar e com certeza piorar essa situação.

Finalmente, como aceitar que no meio desses mais de duzentos milhões de cidadãos, não exista um, só um, um ou uma, que tenha mais condições cívicas, intelectuais e morais para administrar e representar o país melhor do que o primeiro colocado nas pesquisas, o sindicalista analfabeto, ambicioso, esperto, velhaco e corrupto que surfou na onda de prosperidade mundial para em vez de catapultar seu país, financiar correligionários estrangeiros dentro de um amplo projeto de poder e riqueza que ilusoriamente pretende concretizar com o apoio da escumalha política que ainda sonha com o resto do espólio da Viúva.

Ou então, um indivíduo minimamente normal e decente com interesse no progresso do seu país e o mínimo de sensibilidade para as necessidades de educação, saúde, emprego e alimentação de seus concidadãos, melhor do que o energúmeno que busca a reeleição a qualquer custo, solapando o pouco que restava de justiça, decência e respeito democrático, corrompendo tudo o que toca e levando, descaradamente, o país para o caos, o enfrentamento e a guerra civil.

É estarrecedor constatar o apodrecimento da sociedade brasileira corrupta e a passividade da faixa mais honesta, assistindo impávida à desintegração de uma nação pelo comportamento de suas elites.

Ambição, cobiça, arrogância, vaidade, preguiça, crueldade, insensibilidade, inveja e estupidez são nódoas que acostumam a sujar o caráter pessoal, mas quando todas se concentram em indivíduos que detêm o poder de uma nação, a tragédia se situa num horizonte bem próximo.

O mal de nossos homens públicos persiste, a falta de visão estratégica de futuro, a troca do interesse nacional pelo puramente pessoal e familiar e o insaciável apetite por privilégios e recursos públicos além da eterna cegueira pelas legítimas demandas sociais, é que permitem a total disfunção sociopolítica que vivemos.

Das inúmeras aberrações constitucionais que impedem o funcionamento civilizado e normal do estado brasileiro, eu indicaria as três, talvez, mais importantes: Constituição; Reeleição e Composição do STF.

Não pretendo reprisar as críticas pessoais à Cidadã que já formulei em vários textos neste Recanto, mas simplesmente trazer um fato à reflexão: Estados Unidos, nação nascida de uma colónia que chegou ao século XXI como o país mais próspero, poderoso e importante do mundo; Quantidade de constituições = 1; Idade = 235 anos; Artigos = 7; Emendas = 27.

Brasil, nação nascida de uma colónia que a pesar de território quase igual e recursos naturais superiores chega ao século XXI como país em desenvolvimento com seríssimas deficiências sociais, especialmente em educação, saúde e até alimentação: Quantidade de constituições = 7; Idade 33 anos; Artigos = 250; Emendas 116.

Acho que dispensa argumentação o fato de nossa Carta ser inadequada para promover o desenvolvimento de um país como nação civilizada (No “Meu Pé de Jabuticaba – Galho II, “Opinião sobre a Cidadã” e “Triste Cidadã” neste Recanto, poderão apreciar melhor minhas restrições).

Eu sempre disse que Fernando Henrique manchou sua biografia e excelente primeiro governo com duas pragas, Reeleição e Gilmar Mendes e embora Gilmar seja um vírus insidioso que corrompeu definitivamente o sentido de justiça no país, é a reeleição que acabou com a possibilidade de um político trabalhar corretamente durante todo seu mandato e aumentou a frequência e volume dos recursos públicos para as campanhas, haja visto o exemplo do atual presidente que começou sua campanha pela reeleição em 1º/01/19, e nela persiste usando como desculpa para sua ergofobia as continuadas viagens de propaganda eleitoral com palanques e motociatas.

O modelo do STF, copiado como sempre, da Suprema Corte americana, mais adaptado ao jeitinho brasileiro, elitista e flexível com as oligarquias dos poderosos, funciona mais como um tribunal de recursos no qual a elite se sente protegida, do que como uma instância constitucional, até porque a Carta é bastante leniente e prolixa, não levando a grandes embates interpretativos, mas é no julgamento de decisões e crimes atribuídos a políticos detentores do feudal “foro privilegiado” que o tribunal exerce sua plena competência e é aí que se verifica a absurda impropriedade, OS JUIZES SÃO ESCOLHIDOS POR AQUELES QUE SERÃO POSÍVEIS RÉUS, dentro de uma esdrúxula fórmula de “maiores de 35 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada” que ultimamente não tem sido muito acurada. Tudo bem, nada impediria de um ministro fazer parte da Turma que iria julgar seu padrinho, se invocasse o ético instituto da Suspeição, mas...ética na justiça tem sido ultimamente fruta muito rara, por isso essa santa senhora de olhos fechados e balança na mão está vilipendiada e humilhada atualmente por todas as esferas judiciais que vendo a conduta errática do órgão maior, entenderam que a coisa não vá a sério.

Resumindo, o país se acha à deriva sem um timoneiro nem tripulação preocupados com o rumo, preocupados sim, com a perpetuação no poder, com a elaboração de normas legais que facilitem o assalto aos cofres públicos sem ter que recorrer à máscara e ao trabuco, com mais normas que garantam a perpetuidade no poder, dificultando o acesso de novos candidatos, com mais leis que blindem quaisquer descuidos dos corruptos e facilitem a destruição de algum desavisado político ou funcionário que tente denunciá-los, preocupados com garantir a sucessão dos filhotes das oligarquias e o aumento de impostos adequado à formação do pecúlio deles, preocupados em manter o baixo nível educacional para evitar que o voto inteligente venha um dia a mudar o status quo e, finalmente, estimular a extração e comercialização dos recursos naturais não renováveis sem se importar minimamente com as gerações futuras.

É isso aí, concidadãos, estamos vivendo num país dominado, explorado e escravizado por uma elite corrupta, ambiciosa, cruel e abjeta e se pretendem contestar-me ou confrontar-me, façam antes uma rápida pesquisa, levantem a carga tributária nacional e a comparem com a renda per capita média e comprovem que vivemos num país NO FIM DA LINHA.

Um Velho na Janela
Enviado por Um Velho na Janela em 04/07/2022
Reeditado em 05/07/2022
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