A neutralidade política das Testemunhas de Jeová e o envolvimento partidário de algumas religiões cristãs

As Testemunhas de Jeová fazem parte de um grupo religioso apolítico, ou seja, neutro em relação à política partidária, às ideologias políticas e a qualquer candidato a cargos públicos.

Elas são neutras em assuntos políticos por causa de seus dogmas religiosos, baseados em interpretações de diversas passagens bíblicas, em especial, do Novo Testamento. Elas não votam em candidatos ou partidos políticos, não concorrem a cargos políticos e não participam de nenhuma ação para influenciar ou mudar governos. Acreditam que a Bíblia dá bons motivos para serem neutras.

Essas são algumas justificativas dadas pela Associação Torre de Vigia para as Testemunhas de Jeová se manter em neutralidade política:

“Seguimos o exemplo de Jesus, que se recusou a aceitar um cargo político. (João 6:15) Ele ensinou que seus discípulos não deveriam ‘fazer parte do mundo’ e deixou claro que eles não deveriam se envolver em assuntos políticos. — João 17:14, 16; 18:36; Marcos 12:13-17.

Somos representantes do Reino de Deus e temos a obrigação de anunciar a sua chegada. Por isso, somos neutros nos assuntos políticos de todos os países, incluindo o país onde moramos. — 2 Coríntios 5:20; Efésios 6:20.

Por permanecermos neutros, podemos falar as boas novas do Reino de Deus com todas as pessoas, não importa a ideologia política que tenham. Tentamos mostrar por palavras e ações que confiamos no Reino de Deus para resolver os problemas do mundo. — Salmo 56:11.

Como não há divisão política entre nós, estamos unidos em uma fraternidade mundial. (Colossenses 3:14; 1 Pedro 2:17) Por outro lado, religiões que se intrometem na política causam divisão entre seus adeptos. — 1 Coríntios 1:10”.

Assim sendo, em países em que o voto é facultativo, como nos Estados Unidos, por exemplo, normalmente, as Testemunhas de Jeová não comparecem para participar do pleito eleitoral. No caso de países como o Brasil que, em regra , o voto é obrigatório, elas comparecem. Todavia, votam branco ou nulo, demonstrando assim, serem neutras no que tange ao processo eleitoral.

Elas só comparecem às urnas no Brasil, mesmo sendo neutras, porque o voto é obrigatório; se não aparecerem receberão sanções legais como, por exemplo, deixam de participar em concursos públicos, ou melhor, não podem tomar posse como servidores públicos, não podem obter empréstimos em bancos públicos ou sociedade de economia mista, etc.

Embora não se envolvam com política, esta denominação cristã respeita as autoridades governamentais dos países, estados e municípios nos quais vivem, tomando como base o conselho do apóstolo Paulo, em Romanos 13:1, que diz: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores.”. Assim como obedecem às leis, pagam impostos e tributos, além de colaborarem com as medidas tomadas pelos governos para o bem-estar de seus cidadãos, não praticam ações que desestabilizem os governos e seguem o conselho bíblico de orar pelos “reis e [por] todos em altos postos”, principalmente quando estes precisam tomar decisões que possam afetar a liberdade de culto. — 1 Timóteo 2:1, 2.

Elas também respeitam o direito de outras religiões e credos, também de qualquer cidadão, quando precisam tomar suas próprias decisões em assuntos políticos. Por exemplo, não lutam contra a realização de eleições ou sua interrupção, nem impedem aqueles que desejam votar.

Mas, por conta de sua postura de neutralidade política e também por não adentrarem no serviço militar foram perseguidos em diversos países, especialmente no período da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha nazista. Muitas Testemunhas de Jeová foram implacavelmente perseguidas pelo Terceiro Reich, inclusive lançados em Campos de Concentração.

Essa perseguição ocorreu, principalmente, entre 1933 e 1945, depois de se recusarem a realizar o serviço militar e de se juntarem a organizações nazistas ou manterem alianças com o governo alemão.

“Cerca de 10 mil Testemunhas de Jeová – metade do número de membros na Alemanha durante esse período – foram presas, incluindo 2 mil que foram enviadas para campos de concentração nazistas. Cerca de 600 morreram sob custódia, incluindo 250 que foram executados. Elas foram a primeira denominação cristã banida pelo governo nazista e a mais intensamente perseguida ”.

Eu, como historiador, considero-as muito radicais no que se refere à sua neutralidade política e à sua participação cidadã, inclusive, em relação à sua negativa ao alistamento militar.

Mas, por outro lado, considero a neutralidade do grupo infinitamente melhor que os conchavos ordinários e a mistura abjeta que grupos religiosos têm mantido com o poder político , tornando-se pedra de tropeço, escândalo para o mundo e escárnio para a sociedade.

Por que estou afirmando isso? Porque enquanto grupos cristãos, especialmente católicos e evangélicos, têm seus nomes na lama e na lata do lixo da história por conta dos seus envolvimentos indignos com a política partidária e com políticos notoriamente corruptos, as Testemunhas de Jeová passam incólumes, não recaindo sobre elas nenhuma acusação, nenhuma suspeita e nenhuma interrogação sob sua conduta no campo político, ou seja, essa neutralidade político-partidária tem evitado muitos problemas éticos, e até criminais, envolvendo membros e líderes da instituição.

No Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, políticos não têm vez! Não fazem do local de adoração comício eleitoreiro. Não fazem do púlpito palanque político e nem usam da boa-fé dos membros como curral eleitoral. Os anciãos não enriquecem vendendo o voto da membresia, nem ganham concessão de emissoras de rádios e TV, passaportes diplomáticos e quaisquer benesses dos políticos, ao contrário do que ocorre em milhares de denominações cristãs Brasil afora.

Enquanto as demais instituições cristãs têm feito o mundo pegar ojeriza e asco do Evangelho, as Testemunhas de Jeová seguem nessa seara sendo respeitada por sua neutralidade e por não terem envolvimento político.

Cabe ao leitor avaliar qual postura é mais correta e sensata: a de neutralidade e imparcialidade desta denominação religiosa ou a da sujeição e envolvimento com a política partidária, inclusive em ardorosos esquemas de corrupção e vantagens indevidas praticadas por parte significativa dos membros e líderes das denominações cristãs que mergulham fundo no lamaçal e no charco de lodo da política nacional.

Notas:

1- Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados da Pensilvânia (antigamente denominada no Brasil de "Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados") de acordo com site oficial (jw.org), é a designação pela qual é conhecida a mais antiga das sociedades ou associações jurídicas atualmente usada pela religião cristã Testemunhas de Jeová.

2-No Brasil o voto é facultativo para os analfabetos, para os eleitores maiores de 16 anos e menores de 18 anos, assim como para pessoas maiores de 70 anos.

3- Garbe, Detlef (2008). Entre Resistência e Martírio: Testemunhas de Jeová no Terceiro Reich. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press. págs. 100, 102, 514.

4- Infelizmente tanto na sociedade e notadamente nas religiões, as pessoas são “8 ou 80”, ficam em um extremo ao outro.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 14/07/2022
Reeditado em 03/08/2022
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