A figura da idolatria política (Collor, Lula e Bolsonaro) vai recair na figura paterna

No final dos anos 1980, na reta final da eleição presidencial, a mídia impressa fez reportagens devastadoras sobre a história pessoal e familiar do candidato que o povo estava preferindo para assumir a presidência da república, Fernando Collor.

Informou e documentou que se tratava de um corrupto, filho de assassino, membro de um clã de ladrões de dinheiro público e exploradores do povo.

Foi eleito assim mesmo e o povo só se lembrou das informações previamente disponíveis quando a economia transbordou e a corrupção se concretizou. E veio o primeiro impeachment da história do país.

Em 2002, o eleitorado nacional elegeu um político de origem operária, que paulatinamente conseguiu construir a imagem de representante e protetor dos pobres. Depois que se comprovou sua participação direta e indireta na corrupção, foi condenado na Justiça e cumpriu cadeia. Ainda assim continua adorado por multidões.

Em 2018, um político rude e inculto, já com três décadas de profissionalismo parlamentar, é apresentado como "novo" e reformador, e chega à presidência. Usa claramente os artifícios que condenava durante a campanha eleitoral, como a compra de votos e a corrupção. Mas uma boa parte do eleitorado segue prestando fidelidade cega.

Qual o traço mais comum dos três casos? Certamente a idolatria cega, a estranha necessidade humana de ser guiada, de ser liderada.

É a instintiva necessidade de fazer parte de uma tribo, de defender o seu cacique, de brandir slogans, de lutar ferozmente pela vitória, de sufocar os adversários.

A figura da idolatria há muito tempo é fruto da análise de outras áreas do conhecimento humano, como a antropologia e a psicologia. Vai recair na figura paterna, no guia que tudo sabe e tem o poder.

Será a espécie humana tão racional como se afirma?

(publicado originalmente no Facebook em 02/08/2020)