Entre o saber e a ignorância: o desafio de pensar /ᐠ。‿。ᐟ\
Vivemos em um tempo marcado pela velocidade. A informação está em toda parte e chega com rapidez. À primeira vista, parece uma vantagem. Afinal, nunca tivemos tanto acesso a tantas vozes e dados. Mas isso realmente nos torna mais informados ou apenas mais confusos?
As redes sociais abriram espaço para que qualquer um se manifeste sobre qualquer tema. Basta um clique e lá está a opinião. Mas será que todas as opiniões têm o mesmo peso? Muitas vezes, o que vemos são opiniões rasas, frases prontas e debates vazios. E, nesse turbilhão, como separar a verdade da ilusão?
UM MUNDO EM RUÍDO
Estamos afogados no lamaçal do barulho. Todo mundo se arvora em especialista, sem a mínima disposição para estudar. Basta postar algo e pronto, a pessoa vira autoridade. Contudo, nunca tivemos tantas oportunidades de aprendizado acessível. Livros, cursos e debates estão a apenas alguns cliques de distância, permitindo que muitos aprofundem seus conhecimentos de forma autônoma. Mas a questão permanece: alguém que nunca leu Paulo Freire, Hanna Arendt ou Caio Prado Júnior pode, realmente fazer, uma crítica profunda sobre suas ideias? Não estou dizendo que a ignorância é um pecado. O problema está em rejeitar o aprendizado e fechar portas para novas perspectivas.
A SUPERFICIALIDADE TEM UM CUSTO ALTO
A desinformação é como um veneno: invisível, mas potente. Um estudo do MIT revela que as notícias falsas têm 70% mais chances de viralizar do que as verdadeiras. Elas são mais fáceis, chamativas e rápidas de consumir. Já a verdade exige reflexão, paciência e tempo. Optar pelo caminho fácil não só alimenta a ignorância, mas fortalece narrativas distorcidas que afetam a política, a sociedade e até o meio ambiente.
E há o pior: a onda de ódio que tomou conta dos debates. Sem argumentos sólidos, muitos partem para o ataque. Insultam, ridicularizam, tentam calar o outro. Chamar cientistas, pensadores, professores de 'elitistas' ou intelectuais de 'desconectados' resolve algo? Claro que não. Apenas empobrece o debate e sufoca o pensamento crítico.
Nas redes sociais, tudo se resume a um jogo de "nós contra eles". Não há espaço para a discordância. Mas será que isso deve ser uma regra absoluta? Ainda existem lugares onde o debate respeitoso e enriquecedor acontece, onde diferentes perspectivas são ouvidas. Como resolveremos problemas complexos se continuarmos simplificando tudo ao extremo? Estamos perdendo a capacidade de pensar de maneira profunda, e isso é perigoso.
A FALTA DE PROFUNDIDADE
Quando nos contentamos com respostas rápidas e imediatas, estamos realmente construindo conhecimento ou apenas reafirmando certezas frágeis que se desintegram com o primeiro questionamento mais sério? Trocar o saber sólido por opiniões superficiais não só desvia o caminho da verdade, mas também enfraquece a democracia.
O problema é que, quando é mais fácil desacreditar a ciência do que entender a complexidade de um fenômeno social ou ambiental, perdemos a racionalidade. E nesse ponto, todos saem perdendo. No entanto, nem todo conhecimento precisa ser acadêmico ou técnico. Experiências de vida, percepções empíricas e o saber popular têm seu valor e podem enriquecer os debates. O desafio está em equilibrar intuição com fundamentação, opinião com fatos.
IGNORÂNCIA É REJEITAR O SABER
Por isso, resistir à ignorância é um dever. E como fazer isso? A resposta está na leitura, no estudo, na reflexão e, acima de tudo, na humildade intelectual. Questionar antes de afirmar. Buscar antes de opinar. O conhecimento não se impõe, ele é construído. E isso exige tempo, esforço. Mas é esse esforço que nos liberta.
Em tempos em que a verdade parece estar à venda e a opinião fácil predomina, pensar se tornou um ato de resistência. O conhecimento é poder — e mais do que nunca, precisamos desse poder para enfrentar os desafios à nossa frente. A questão é: estamos dispostos a buscar esse poder ou vamos continuar nos afogando na lógica do imediato e do superficial?
ESTUDAR É RESISTÊNCIA
Resistir à ignorância é um ato de liberdade. O saber exige dedicação e paciência. Mas é o único caminho para manter nossa mente viva, para não sermos engolidos pelas certezas vazias do imediatismo. Quando buscamos o conhecimento de forma verdadeira, estamos não apenas entendendo melhor o mundo ao nosso redor, mas também fortalecendo as bases da sociedade e da democracia. Cada livro, cada reflexão, cada momento dedicado a questionar é uma resistência contra a superficialidade que ameaça nossa capacidade de pensar.
No fim, isso é o que nos torna mais humanos: a coragem de duvidar, aprender e crescer. Não se trata apenas de entender o que está ao nosso redor, mas de nos posicionarmos ativamente na construção de um mundo mais justo e reflexivo. Para isso, precisamos saber ouvir, estar abertos ao diálogo e reconhecer que o aprendizado vem de múltiplas fontes. Estamos dispostos a trilhar esse caminho, a assumir essa responsabilidade e, acima de tudo, a resistir ao raso em nome do profundo? Porque, ao final, o conhecimento não é um luxo. Ele é a chave para a transformação real e para a democracia que queremos preservar.
PS: A área de comentários do RL é um espaço plural para troca de ideias, valorizando o debate respeitoso e construtivo. Opiniões ofensivas, grosseiras ou chulas serão imediatamente apagadas para manter um ambiente equilibrado e produtivo.
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Ricardo. A era da superficialidade. Jornal de São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.jornalsp.com/era-da-superficialidade. Acesso em: 19 mar. 2025.
PEREIRA, José. Opiniões e fatos: o desafio da informação na internet. O Globo, 2024. Disponível em: https://www.oglobo.com/opinioes-e-fatos-na-internet. Acesso em: 19 mar. 2025.
SILVA, Carla. Redes sociais e a formação de opiniões: entre o like e o saber. Correio da Bahia, 2023. Disponível em: https://www.correiodabahia.com/redes-sociais-e-formacao-de-opinioes. Acesso em: 19 mar. 2025.
COSTA, Fábio. O impacto das fake news na democracia. Folha de São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.folhadsp.com/fake-news-democracia. Acesso em: 19 mar. 2025.
MARTINS, Ana. Da informação à ignorância: o papel da mídia na formação de opiniões. Jornal do Nordeste, 2025. Disponível em: https://www.jornalnordeste.com/informacao-ignorancia-midia. Acesso em: 19 mar. 2025.