SALVADORES DO BRASIL: O MITO E O PAI LULA
Política no Brasil é sempre um grande Fla x Flu. Uma disputa acirrada que vale a sua torcida, seu coração, participação e voto. Nosso país é o único no mundo que conta com três copas a cada 4 anos: eleições em que escolhemos presidente, governador, deputados e senadores, quando o clima começa esfriar é a vez das eleições municipais. Depois de toda essa emoção, a copa de futebol realmente perdeu sua importância. Ficou chata.
Quando foi a última vez que soube do rompimento de uma amizade por que o encaixe técnico do time foi vergonhoso? Quando foi a última vez que parentes se evitaram por que a estrela do time não rendeu o que deveria? Isso ficou no passado. A competição que faz nosso rosto corar e nossa raiva se exaltar é outra. Mas sejamos justos, futebol, novela e religião ainda são expressões que movimentam o destino das multidões.
Não por acaso muitos diretores esportivos se lançam na política com espetacular sucesso, superados apenas pelos pastores-coches. Classe que realmente goza de amplo pestrígio no universo político seja pelo poder de transformar ovelhas em votos, seja pelo apoio em temas que exigem manifestação popular afora o poder de transformar ouro em mais ouro ainda.
No comando de massas de homens e mulheres devotos ao Deus que sempre recorre aos fenônemos das coisas terrenas para mostrar sua força; estão bispos, missionários, profetas e pastores. Todos clamando ao Deus que parece submisso à vontade de seus servos, inclusive escolhendo presidentes, deputados, senadores, prefeitos. Sim! Por pouco Jeová não decide distribuir santinhos ou fazer vídeos em véspera de eleição. Deus também tem sua torcida mesmo sendo soberano do mundo.
Dados, pesquisas, resultados, atuação parlamentar, articulação politica, propostas legislativas, direcionamento econômico, projetos para tantas reformas, NADA disso importa a não ser que sirva para garantir minha torcida! A não ser que me torne uma voz ainda mais eloquente do espectro político que defendo...esse que vai salvar o país dessa corja - corja que sempre depende da minha bandeira porque eu também sou decadente para eles.
Cada vez precisamos mais de um salvador porque as ideias dão lugar à cega esperança de dias melhores. Um homem que realmente mereça nosso voto para mudar esse país. De um lado o Messias patriota e honesto - um mito que fez uma grande revolução sabe-se lá aonde. Do outro, Pai Lula, um guerreiro sofredor que venceu tudo, inclusive o cárcere, para liderar o Brasil rumo à superação da pobreza pela centésima vez.
Os argumentos de um e de outro não servem pra mim. Quero fazer parte de um grupo amplo e coeso que me permita odiar o outro grupo. Que não exista diálogo com o inimigo. Que nossas discussões possam ser curtas e nós separar por um longo período . Que as divergencias sejam insuperáveis. Nosso conflito não é de ideias, é de paixões. O interesse não é pelo melhor que podemos construir juntos, mas sim pelo melhor que podemos construir quando os outros forem extirpados. Ao menos como atores políticos se elimina-los fisicamente causar enjoo aos mais sensiveis por apego à democrácia - maricas!
Assim seguimos como animais que não podem coexitir na savana, tal qual uma leão não toleraria dividir sua água com uma zebra. Enquanto nossos políticos forem ídolos, deuses e metres acima de questionamentos, enquanto o debate for declaração de guerra dependeremos sempre da figura mistíca que irá resolver tudo num passe de mágicas eliminando de vez os males que todos alimentam.