TikTok: onde danças viram sombras e crianças pagam o preço /ᐠ。‿。ᐟ\
Ninguém nega que a internet ampliou vozes, mas também escancarou silêncios abusivos. No TikTok, esses silêncios têm rostos: meninas pequenas dançando, repetindo coreografias adultas, às vezes sem entender. A exposição vem de casa, filmada por quem deveria proteger.
Milhões assistem. Alguns comentam com carinho e respeito. Outros, com segundas intenções. Há quem normalize, incentive e monetize.
Pais e mães dizem que é inocente. Alegam que todo mundo faz. Rebatem críticas como falso moralismo. Dizem que é só um vídeo, um momento.
A verdade: não é só um vídeo. É uma linha tênue entre a brincadeira e a exploração infantil. O que deveria ser afeto se transforma em performance. O corpo da criança vira vitrine.
Especialistas têm alertado. Psicólogos, pedagogos, promotores da infância. Mostram que esse tipo de exposição afeta a autoestima, o senso de identidade e a segurança emocional. A longo prazo, o impacto é profundo e duradouro.
A SaferNet apontou aumento no aliciamento virtual. O TikTok aparece com destaque. A empresa remove conteúdos, mas segue alimentando um sistema que valoriza a visibilidade a qualquer custo. E os perfis continuam crescendo.
Mulheres enfrentam outro tipo de violência. Vídeos de mães com seus filhos recebem ataques. Comentários invadem a intimidade, questionam corpos, impõem padrões abusivos.
Essas investidas não são pontuais. Agressões se repetem. Elas vêm disfarçadas de opinião crítica. Vêm com emoji, piada ou tom de brincadeira. Não é liberdade de expressão. É violência disfarçada de desabafo.
Mulheres negras, indígenas, periféricas são as que mais sofrem. Silenciadas há séculos, agora, também, enfrentam julgamentos digitais. Estão expostas duas vezes: pela imagem e pela estrutura social.
Algumas resistem. Transformam a própria imagem em denúncia. Constroem redes de apoio. Compartilham caminhos. Tudo isso consome energia. Pede coragem. E leva tempo. Nem todas suportam por muito tempo.
A resposta das plataformas é lenta. Alegam ter filtros e moderação. Dizem investir em segurança. Mas o modelo é claro: quanto mais visualização, mais dinheiro. Quem paga é quem aparece.
O Marco Civil da Internet, de 2014, já não basta. Há lacunas jurídicas legais. Projetos tramitam lentamente no parlamento. Enquanto isso, crianças continuam expostas à revelia. Mulheres continuam atacadas.
Alguns apontam os pais. Outros responsabilizam os próprios usuários. A verdade é que há uma estrutura poderosa que se beneficia da vulnerabilidade alheia. Ou seja, temos um problema estrutural.
Tecnologia é ferramenta de poder. Pode aproximar ou criar muros. Não se trata de proibir, mas de proteger. De assumir responsabilidades. De não fingir que está tudo bem.
A educação compõe a resposta. As leis também. A pressão social faz parte dela. Nenhuma sozinha resolve. Juntas, criam um caminho possível. O silêncio já não é opção. A omissão é escolha. E, nesse cenário, toda escolha importa.
PS: A área de comentários do RL é um espaço plural e aberto à troca de ideias, onde valorizamos o debate respeitoso e construtivo. Para manter um ambiente equilibrado e produtivo, opiniões ofensivas, grosseiras ou inapropriadas serão imediatamente removidas. Contamos com a colaboração de todos para promover diálogos enriquecedores e respeitosos.