CARTA AOS ESPÍRITAS – O Nascimento do Espiritismo do B.

Milton Pires

Meus caros irmãos e irmãs espíritas,

Muito me desgosta, e receio causa, iniciar dirigindo a vocês linhas em que, num só texto, hão de se misturar fé e política. Lembro que difícil seria, para um membro de qualquer religião, não só para os espíritas, escrever o que se segue pois a natureza própria do discurso kardecista transcende a mundanidade da política. Necessário é, pois, antes de começar, justificar brevemente as condições que me levam a discutir o Espiritismo Brasileiro em termos políticos.

“Toda fé que não for capaz de contemplar a razão está fadada ao fracasso”. Imagino ser essa a mensagem maior deixada por Kardec capaz de nos fazer refletir, do ponto de vista filosófico, sobre a importância de certos temas materiais na nossa doutrina. Do ponto de vista histórico, necessário é lembrar que foi um mundo sem Deus que permitiu o surgimento de realidades como Cuba e Coréia do Norte, e que foi uma sociedade fanatizada pela fé, destituída de qualquer razão material, que criou condições para o terror no Iran.

Meus amigos, não escreverei sobre quem governa o Brasil nem sobre qual Partido Político produz nesse momento a tragédia do nosso povo. Considero “minha missão” discorrer sobre um certo tipo de discurso que, pretendendo ser político, tornou-se religioso, à medida que vendeu à nossa Nação a ideia de que o Reino de Cristo pode ser esse aqui na Terra. Entendo ser minha obrigação, como ex-marxista, alertá-los que aproxima-se um tempo em que a Lei da Justiça, Amor e Caridade, cuja aplicação até hoje ficou tão longe do coração dos homens, mais fraca há de ficar quando se comungar com o dogma de que toda “justiça é social”, que o “amor é burguês” e que a “caridade é hipocrisia”. Lembro ainda que, cada vez mais, aumentam na internet e principalmente nas redes sociais, o número de mistificadores empenhados em divulgar falsas mensagens, meias-verdades, e questionáveis “princípios” cuja finalidade nada mais é do que espalhar, dentro do Movimento Espírita Brasileiro, a cisão e a polêmica que mais tarde hão servir ao movimento revolucionário que varre o país. Um triste exemplo foram as supostas “lições” ou “comunicações” sobre a homossexualidade, tema do qual o verdadeiro espiritismo jamais e se ocupou, e que agora vem distorcer os princípios da nossa doutrina.

Necessário será entender que aproxima-se do nosso país um tempo de grande perigo não só para o espiritismo como para qualquer outro tipo de fé. Não é sem o legado de Kardec que o Brasil corre o risco de ficar, mas sem a mensagem de qualquer religião. Homens e mulheres, verdadeiros espíritos de baixíssimo grau, tomaram nas mãos o destino da nossa sociedade. Não há em seus corações nenhum reino do “por vir”..nada é transcendente na sua visão de mundo que acredita possuir, só ela, a chave para o paraíso aqui na Terra e que encontrou na “luta de classes” o verdadeiro motor da História. Não esperem, meus irmãos e irmãs, caridade vinda dessas pessoas. Não há lugar para o espiritismo em suas vidas já dirigidas pela Revolução. Atentos fiquem às suas tentativas de introduzir no debate espírita os temas que lhes são caros e fundamentais no sentido de destruir a família, de entregar a Pátria e esquecer Jesus. Em nome da “democracia” e da “liberdade de pensamento” esses falsos espíritas aproximam-se da Doutrina como uma legião das sombras que vem para disseminar o ódio, para semear a polêmica e cultivar o conflito. Chegada a hora é, pois, de afastar-se dessas pessoas tanto nos centros espíritas como na Federação para que não seja perdido o legado de Kardec e a mensagem de Jesus Cristo não seja transformada, dentro do espiritismo, em uma nova Teologia da Libertação..para que não surja a “reencarnação sem preconceitos”...as “cotas raciais nos centros espíritas”...a “mediunidade ao alcance do todos”...e para que não nasça no país, em definitivo, o “Espiritismo do B”...

PORTO ALEGRE, 4 de abril de 2014.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 04/04/2014
Reeditado em 04/04/2014
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