JEJUM E ORAÇÃO
 

Eu me lembro que no início da minha conversão ao crisianismo era algo muito comum ouvirmos os Pastores da Igreja alertar os irmãos sobre a importância de não negligenciarmos o jejum e, a oração. Esse tema era muito enfatizado nas pregações como forma de incentivar os crentes na prática do jejum e da oração, a fim de que recebessemos de Deus "poder e dons espirituais" para lutarmos contra o inimigo e seu exército maléfico. Também era muito comum as irmãs convidar a Igreja toda para campanhas de jejum e oração a fim de que nós mesmos, ou outras pessoas não crentes fossem beneficiadas de alguma forma. Todavia, apesar do temor, da devoção daqueles irmãos em relação a Deus, e da sinceridade com que eles serviam a Cristo e pregavam sobre essa doutrina, pouco se ouvia falar dos Pastores e Presbíteros daquela Igreja sobre o verdadeiro significado do jejum, daquilo que isso representa para os crentes e da sua real essência para o cristianismo.

 

O significado do jejum na Bíblia

 

A palavra “jejuar” no aramaico tem o sentido de “estar de luto”. Os judeus quando jejuavam se mostravam tristes com a finalidade de conseguir algo de Deus: “Porque jejuamos regularmente se tu não atentas para isso”? (Is 58.3). O Senhor Jesus sabia disso, e tratou logo de adverti-los: “Quando jejuardes, não sejais como os hipócritas, de semblante triste, porque desfiguram o rosto com a intenção de mostrar às pessoas que estão jejuando...”. (Mt 6.16). Aqui nesse ensino de Jesus, podemos aprender pelo menos duas lições muito importantes:
 

Em primeiro lugar, a palavra σκυθρωποί skythrôpoi, “contristados” no texto original grego, indica uma pessoa com o “semblante caído” (desanimado) em função de um estado de aflição, tristeza ou descontentamento.
 

Em segundo lugar, o verbo αφανίζουσιν aphanidzousin, “desfigurar” significa “mudança de aparência”, fazer com que algo deixe de ser atraente, ou vistoso, a fim de se (tornar feio). Era exatamente assim que os judeus se mostravam quando jejuavam, com a aparência desfigurada diante dos homens, pois os sinais externos de humilhação que, normalmente, acompanham o jejum dos judeus é ficar sem tomar banho, deixar de fazer a barba ou deixar de passar o azeite da unção. Vemos que a intenção, a motivação dos judeus quando jejuavam era errada, porque eles queriam mostrar para os homens que jejuavam. Porém, o Senhor Jesus os admoestou a não fazerem assim. “Tu, porém, quando jejuardes, unge a tua cabeça e lava a tua face, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que vê em secreto, e te recompensará publicamente". (Mt 6.17,18).

 

Personagens bíblicos que jejuavam
 

Biblicamente podemos afirmar que o jejum foi ordenado por Deus e não pelos homens. “...No décimo dia do sétimo mês, humilhareis vossas almas, jejuareis e não fareis trabalho algum...”. (Lv 16.29). Portanto, como cristãos piedosos e tementes a Deus, nós devemos reconhecer isso, e compreender que a prática do jejum é algo legítimo.

 

No Antigo Testamento, Moisés subiu ao Monte Horebe e ali jejuou quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão, nem beber água, até que o Senhor lhe entregasse as duas tábuas de pedra escritas com o próprio dedo de Deus (Dt 9.9,10,18). Naquele dia, o jejum secreto de Moisés foi recompensado publicamente, pois, a glória de Deus se manifestou poderosamente! Segundo as Escrituras, durante seis dias a nuvem cobriu o monte, no sétimo dia o Senhor chamou Moisés no interior da nuvem, aos olhos dos israelitas, e a glória de Deus era como fogo consumidor no topo da montanha (Ex 24.13-18; 34.28). 

 

Os patriarcas, os profetas, os reis, e os sacerdotes também jejuavam. Elias, por exemplo, depois que um anjo lhe despertou do sono, lhe ordenou que se levantasse e comesse um pão quente que fora assado sobre pedras em brasa e tomasse água fresca, porque longa seria a caminhada. Diz as Escrituras que o profeta Elias ficou fortalecido com aquele alimento e viajou quarenta dias e quarenta noites (1Rs 19.7-18). Se os teólogos estiverem certos, Elias viajou cerca de 300 a 400 km do deserto de Berseba até chegar ao Sinai, em Horebe. O jejum de Elias, assim como o de Moisés, durou quarenta dias e quarenta noites sem comer pão e sem beber água.

 

No Novo Testamento, Jesus jejuou logo no início de Seu ministério terreno quando foi “conduzido” pelo Espírito, ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome (Mt 4.1-11). 

 

Os apóstos e, a Igreja Primitiva também jejuavam, e coletivamente (At 13.1-3), a fim de serem dirigidos pelo Espírito Deus, e assim, enviar ao mundo os primeiros missionários. Esse maravilhoso exemplo dos primórdios do cristianismo é digno de ser imitado pela igreja de hoje, principalmente quando o propósito for a ordenação de Pastores e Presbíteros para apascentar a Igreja de Cristo (At 14.23). Além destes exemplos que mencionei aqui, existiram outros personagens da Bíbla que também jejuavam! Vemos, portanto, que o jejum é uma doutrina bíblica, e por isso, entendemos que é sim um dever de todo cristão jejuar com "propósito espiritual" diante de Deus, conforme os nossos desejos e necessidades individuais.

 

"Então, chegaram os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós, e os fariseus, muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: É possível que os amigos do noivo fiquem de luto enquanto o noivo ainda está com eles? Dias virão, quando o noivo lhes será tirado; então jejuarão". (Mt 9.14,15). "Não vos defraudeis um ao outro, exceto se com consentimento, por algum tempo, para que se dêem ao jejum e oração; e ajuntai-vos novamente, para que Satanás não vos tente pela vossa falta de controle". (1Co 7.5).

O "jejum" de Daniel

 

Em 606 a.C., Nabucodonosor, invadiu Jerusalém e levou o povo judeu para o cativeiro babilônico, entre eles estava o jovem Daniel que foi levado para Babilônia, onde viveu e cresceu num ambiente de grande apostasia, idolatria, e mundanismo. Porém, Daniel decidiu em seu coração não se tornar impuro consumindo as iguarias do rei, nem com o vinho especial servido à mesa real, e solicitou ao chefe dos oficiais permissão para se abster daqueles alimentos (Dn 1.8). As iguarias da mesa do rei eram comidas sacrificadas aos ídolos. Mas, Daniel que servia ao único Deus Vivo e Verdadeiro das Escrituras, foi sábio e firme em sua decisão de não se contaminar.
 

Tempos depois, no terceiro ano de Ciro, imperador peresa, Daniel, já estava com 84 anos. Apesar da idade avançada, ele chorou, "jejuou" e orou pelo povo por 21 dias inteiros. "Eis que naqueles dias, eu, Daniel, estava chorando por três semanas inteiras. Não comi nada que me parecesse agradável, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo, até que se cumpriram as três semanas completas". (Dn 10.2,3). Hoje, porém, muitas igrejas neopentecostais adotam a forma do jejum de Daniel como pratica de "abstinência parcial" dos alimentos. Mas, esse tipo de jejum não encontra amparo bíblico. Se por um lado a Bíblia não fala nada sobre a duração (tempo), ou a frequência (dias) do jejum, por outro lado a Bíblia ensina de maneira muito clara que o "jejum" νηστεία nêsteia, é "abstinência total" de alimentos sólidos e líquidos e sempre deve ser apresentado diante de Deus (com propósitos espirituais), conforme já mostramos anteriormente.

 

De acordo com o ensino das Escrituras, podemos perceber que o jejum além da abstinência total de alimentos, é a humilhação do crente diante de Deus. Quando jejuamos esvaziamos de nós mesmos a fim de reconhecermos nossa total dependência de Deus. Muitos Teólogos e Pastores explicam que enquanto o jejum nos esvazia de nós mesmos, a oração nos reveste com poder que vem do alto. Com isso, entendemos que a prática do jejum aliado a oração e segundo a boa vontade de Deus, pode resultar em muitas bênçãos espirituais sobre os crentes para que sirvam aos necessitados.
 

Mas, infelizmente, hoje, nós perdemos muito tempo com coisas infrutíferas. Damos muito valor a show gospel, temos tempo de sobra para organizar congressos e retiros, gastamos horas e horas com "discussões e debates" que na maioria das vezes não produz quase nenhum resultado; mas, damos pouco valor, ou quase nenhum tempo para visitar os enfermos e socorrer os necessitados, não dedicamos hora nenhuma para jejuar e orar, e temos menos tempo ainda para evangelizar os perdidos que estão perecendo. Conhecimento é necessário e indispensável, mas não é o suficiente, precisamos também ser revestidos de poder. Conforme diz as Escrituras "o Reino de Deus não consiste de palavras, mas de poder". (1Co 4.20). E, poder não vem do saber, mas do alto (Jo 3.27; Tg 1.27). Portanto, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder! (Ef 6.10).

 

Sem jejuar e orar, podemos fracassar
 

Uma coisa é certa! Se a igreja de Cristo pretende lutar eficazmente contra Satanás e os seus demônios que escravizam as pessoas, a prática do jejum e da oração é indispensável e devem ser observadas. Temos que nos preparar espiritualmente para a batalha! Do contrário, poderemos fracassar, assim como os discípulos de Jesus fracassaram. Lembre-se que a Bíblia diz que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, ou seja, não é contra seres humanos, e sim contra principados e potestades, contra os dominadores deste sistema mundial em trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. (Ef 6.12).


Os evangelhos registram que no meio da multidão havia um pai desesperado, desolado que gritava por socorro. Lucas nos informa que o único filho daquele homem (Lc 9.38), estava possuído por um espírito demoniaco que tornava sua vida um verdadeiro tormento. Aquela legião de demônios se apoderava daquele menino, fazia ele gritar e outras vezes o impedia de falar, jogava-o no chão, provocava-lhe convulsões até espumar pela boca, rangia os dentes e depois o abandonava com muitos ferimentos que o estava destruindo (Mc 9.17,18; Lc 9.39). Dá para imaginar o quão terrível era aquela possessão demoníaca e o grau elevado de sofrimento daquele menino! Podemos perceber que a intenção de Satanás era matá-lo.

 

O desespero tomou conta daquele pai, que na esperança de socorrer o filho, rogou aos discípulos para que pudessem ajuda-lo, mas eles não conseguiram expulsar aquele espírito maligno (Mc 9.18). Mais tarde, em particular, eles se aproximaram de Jesus e perguntaram: "Porque não puderam fazer nada para ajudar aquele menino"? Ao que Jesus lhes respondeu: "Por causa da pequena fé de vocês" (Mt 17.19,20). Em outras palavras: "Por causa da vossa incredulidade". De acordo com a narrativa dos evangelhos, tudo indica que os discípulos não tinham muito interesse pelo jejum, nem tampouco por uma vida de constante oração (Mc 9.28,29). Por causa disso, "estavam despreparados", "sem poder" para agir. Não podiam dar a solução para o problema daquele menino, nem tampouco aliviar o sofrimento daquele pai.

 

Você acha que essa triste realidade, não acontece hoje nas igrejas? Sim, muitas vezes! Milhares de perdidos sedentos, nos visitam em nossos cultos, suas vidas refletem enorme desespero, aflição, angustia, muitos estão escravizadas pelos vícios, pela prostituição e possuídas por demônios, mas os crentes e as vezes até os pastores nada podem fazer, porque não tem entendimento, falta discernimento, não oram, não jejuam, não há poder de Deus no seio da igreja. Essa é a triste realidade de muitas igrejas.
 

Precisamos entender que existem espécies de demônios que são mais resistentes que outros. Certa ocasião, a mãe de uma jovem moça, foi ao Pastor na nossa igreja pedir ajuda, pois, a sua filha estava terrivelmente endemoniada. O Pastor, me convidou para ir com ele até aquela residência e quando lá chegamos percebemos que era uma legião, pois aqueles demônios resistiram muito. Mas, graças a Deus que estávamos preparados e pela misericórida do Senhor em nossas vidas, depois de algum tempo batalhando em oração nós conseguimos ajudar aquela jovem e expulsar aquela "casta" de demônios no poderoso Nome do Senhor Jesus Cristo.

 

O mesmo acontecia com aquele menino, pois, estava possuído por uma γένος genós, “casta” (legião) de demônios que não se daria por vencida tão facilmente. Diz a Bíblia que o menino era “apanhado” por aquela legião. No texto original grego o termo usado para explicar esse acontecimento é καταλαμβάνω katalambanô, que indica “incorporar, possuir, tomar posse com violência” (Mc 9.18).

 

Mas, graças a Deus que o Senhor Jesus estava lá! Então, aquele pai angustiado foi a Jesus e clamou por socorro: “Se tu podes fazer algo, tem compaixão de nós e, de alguma maneira, ajuda-nos”! (Mc 9.22). Jesus disse ao pai daquele menino: “Se podes”? Contestou-lhe Jesus: Tudo é possível para aquele que crê! (v.23). Existe uma lição muito importante aqui nas palavras do Senhor Jesus! Podemos notar de acordo com o seu ensino que "algumas vezes", o poder de Deus opera em nós mediante a nossa fé.

 

Então, Jesus επετίμησεν epetimêsen, “repreendeu” (expulsou) aquele πνεύματι τω ακαθάρτων pneumati tô akathartôn, “espírito imundo” e determinou que jamais voltasse a possuir aquele “menino” novamente. Mais tarde, quando Jesus estava em casa, seus discípulos lhe perguntaram: “Porque razão não fomos capazes de expulsá-lo”? E Jesus lhes advertiu: “Essa espécie de demônios só é expelida com oração e jejum”.

JESUS FAZ A DIFERANÇA.

 
 

 

Pastor Jose Junior
Enviado por Pastor Jose Junior em 25/05/2018
Reeditado em 23/09/2023
Código do texto: T6346461
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