SE NECESSÁRIO, USE AS PALAVRAS

FRASE ATRIBUÍDA A: Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como “São Francisco de Assis”

“Pregue o evangelho em todo tempo. Se necessário for, use palavras”.

Que me desculpem os que citam diariamente esta frase do religioso, católico romano do final do século 12 e início do 13. Mas não dá para concordar totalmente com tal frase, que me foi passada, pela 1ª vez, pelo amigo e parente CMC.

Aqui o frade está preterindo as palavras, onde elas devem ser priorizadas, pois a pregação (proclamação = “kerigma”, no grego) realizada pelos apóstolos e discípulos durante toda a era primitiva das Igrejas cristãs, cujo início partiu de Jerusalém, tendo sido também ordem expressa de Jesus. (“E disse-lhes: ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” – Mc 16.15).

O Mestre por excelência, em seu ministério fazia uso de um tríplice campo de trabalho (ou tríplice ministério) em cujo teor se via, além do ensino e das curas, a proclamação (Mateus 9.35). E isto ficou bem claro para quem lê tanto os evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas do Novo Testamento que o necessário era fazer uso das palavras mesmo!

O testemunho, sabemos, tem duplo sentido ou objetivo: o VIVENCIAL (exemplo de vida ou ação) e o ORAL (com palavras). Um e outro são bem vindos na Bíblia e sempre andando lado a lado. Não se cogita, na Palavra de Deus, de priorizar um e preterir o outro. As palavras têm poder e grande significado também na fé (ou na religião). Elas são fundamentais. Ambos são importantes e válidos. O Verbo (“palavra”) (no grego, o Logus), diz o evangelista João, "era Deus, e estava com Deus" (na criação) – João 1.1-3, 14). “O Verbo se fez carne e tabernaculou entre nós”, tudo foi registrado em Palavras, sendo uma das definições da Bíblia – “o registro das revelações de Deus”!

(Há um texto no VT que nos aponta palavra e ação CLARAMENTE JUNTAS: em Refidim, quando o povo de Israel lutava, sob a liderança de Josué, no vale, enquanto Arão e Hur seguravam, em oração, os braços do octogenário Moisés – Êxodo 17.8-14). O episódio mostra que enquanto oravam e mantinham as mãos de Moisés erguidas, o povo de Israel prevalecia na batalha contra os Amalequitas, ferrenhos inimigos de Israel, descendentes de Ezaú.

Até na vida secular se diz corriqueiramente: “Quem não se comunica, se trumbica”.

Já dizia meu avô materno: “Fala homem, para que eu te conheça”. (Um homem absolutamente calado pouco ou nada se dá a conhecer!)

Paulo escrevendo a Timóteo (2 Tm 4.2a) disse: “Pregue a palavra” ...

Jesus, ensinando a parábola do Semeador diz que o semeador saiu a semear, ou seja, a pregar, uma vez que, no Evangelho de Lucas (Lc 8.11) está explícito que a SEMENTE É A PALAVRA DE DEUS! Aqui (no texto lucano citado), vê-se a priorização da palavra, não se vê aqui, preterimento ou escanteio das palavras. Nos “Atos dos Apóstolos” (At 18.9), aprendemos: “Fala e não te cales”. Havia e há necessidade de se expandir o evangelho para os povos e isto se faz com palavras orais ou escritas!

Sabemos que “há momentos em que as palavras não resolvem”, porque o que fez Jesus no Calvário foi demonstração de amor, gesto e ação de profunda graça e misericórdia dEle pelos pecadores e que, em seu TRAJETO PARA O GÓLGOTA NÃO HOUVE PALAVRA ALGUMA PROFERIDA POR ELE, mas sobre o MADEIRO, no estertor da cruz, ali mesmo, em seu altar de morte, Ele proferiu sete (07) frases – as famosas “Sete Palavras da Cruz” (ou sete frases da cruz) e que foram cruciais para salvação dos que nEle creem, a começar com o malfeitor Dimas, em outra cruz ao seu lado direito. Ficando patente que Jesus, na cruz, não usou somente gestos, MAS TAMBÉM PALAVRAS! Vejamos: no fragor da morte, Ele bem podia dispensar as palavras! Estava morrendo, por quê usar palavras? Ele não as dispensou! Principalmente para com o malfeitor à sua direita!

Aprendemos também, que a “fé vem pelo ouvir e ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10.17).

Quem quer ter fé no coração, a indicação melhor é ouvir a Palavra de Deus!

Temos ciência ainda de como se dá, no INÍCIO DA CONVERSÃO de alguém, cuja sinonímia se depreende com os seguintes termos teológicos (alguns) e bíblicos (outros), esparsos em vários textos neo-testamentários, a saber: ressurreição espiritual, renascimento ou novo nascimento, nascimento do alto, regeneração, justificação, salvação em sua primeira fase, revificação espiritual, tornar-se nova criação (ou criatura). TODOS ESTES ATOS AQUI CITADOS, acontecem simultaneamente, ou seja, no momento da CONVERSÃO (mudança radical de vida, do grego “metanóia” com seus vários sentidos) e são sinônimos entre si, ocorrendo tudo isto com a antecedência indispensável de OUTRA AÇÃO, claramente preceituada na Palavra de Deus, qual seja, a ação de OUVIR a Palavra de Deus. Veja João 5.24:

“Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE as minhas palavras e crê naquEle que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. E ainda Efésios 1.13: ... “Em quem também vós estais, depois que OUVISTES a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; ...”.

Do ponto de vista de Deus, não há salvação sem derramamento de sangue (Hb 9.22); e do ponto de vista dos homens, não haverá salvação, SEM OUVIR (a Palavra pregada), sem a fé nesta mesma Palavra e neste Deus (João 5.24 e Hb 11.6).

Na maioria das vezes em que se lê a palavra EVANGELHO, este termo está sempre ligado aos seguintes, que nos passam a ideia de uso das palavras, a saber: ANUNCIAR, PROCLAMAR, PREGAR, TESTEMUNHAR e outros. O anúncio da Palavra de Deus faz toda a diferença!

Contei a palavra EVANGELHO, na “Concordância Bíblica Exaustiva”, de Oséias Gomes de Oliveira – Editora ACADÊMICO – 1ª Edição de junho de 2012, e, então, constatei que EVANGELHO, com estes sentidos citados acima, aparece 84 vezes.

O EVANGELHO está mais para os mencionados termos (ANUNCIAR, PROCLAMAR, PREGAR, TESTEMUNHAR e outros) do que o SILÊNCIO ou SEM PALAVRAS! Basta rever João 5.24; 17.20, Efésios 1.13, Romanos 10.17 e outros textos afins, onde aprendemos que a fé só “brota” ou emerge, onde a semente da Palavra foi semeada nas mentes e corações. Sem a Palavra de Deus, é impossível haver salvação! Tal como alguém já disse em seu valoroso sermão: “Jesus é o pão vivo; os sermões, palestras, etc são o pão interpretado e a Bíblia é o pão escrito”.

Ah! Já ia me esquecendo. Contei inúmeras vezes a história de Jesus para as crianças, usando o “Livro sem palavras” (que mostra 5 ou 6 cores, cada uma com um significado da história da salvação por Jesus! Mas este livreto precisa, para que fique conhecido das crianças ou dos demais ouvintes, QUE ALGUÉM, que esteja com ele às mãos, faça uso das palavras, pois sem as palavras, qualquer história contada ou lida perde o sentido! As palavras tem seu lugar e poder! Amém!

Muniz Freire, 14 de janeiro de 2016

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