Diário de Santa Faustina, entrada no convento, § 7 a 14
 
 
O definitivo chamado de Deus, a graça da vocação para a vida religiosa, eu senti desde os sete anos de vida. Com essa idade, ouvi pela primeira vez a voz de Deus na alma, ou seja, o convite para uma vida mais perfeita, mas nem sempre fui obediente à voz da Graça. Não encontrei ninguém que me pudesse explicar essas coisas. Aos dezoito anos, fiz um insistente pedido aos meus pais para que me deixassem entrar num convento; mas recebi deles uma categórica recusa. Depois dessa recusa, passei a viver as vaidades da vida, não  prestando nenhuma atenção à voz da graça, embora em nada disso a minha alma encontrasse satisfação. O contínuo chamado da graça era para mim um grande tormento que eu procurava abafar com diversões. Evitava interiormente a Deus, voltando-me com toda a alma para as criaturas. Contudo,  a graça de Deus venceu na minha alma.
Numa ocasião, estava com uma de minhas irmãs num baile. Enquanto todos  se divertiam a valer, a minha alma sentia (tormentos) interiores. No momento em que comecei a dançar, de repente, vi Jesus ao meu lado, Jesus sofredor, despojado de suas vestes, todo coberto de chagas, que me disse estas palavras: Até quando hei de ter paciência contigo e até quanto tu Me desiludirás? Nesse mesmo momento, cessou a música encantadora, não vi mais as pessoas que comigo estavam (somente)  Jesus e eu ali permanecíamos. Sentei-me ao lado de minha irmã, disfarçando com uma dor de cabeça aquilo que se passava comigo. Em seguida, deixei disfarçadamente os que me acompanhavam e minha irmão, e fui à catedral de santo Estanislau Kotska. Já começava a entardecer, havia  poucas pessoas na catedral. Sem prestar (atenção) a nada do que ocorria à minha volta, cai de bruços diante do Santíssimo Sacramento e pedi ao Senhor que me desse a conhecer o que deveria fazer a seguir. Então, ou estas palavras: Vai  imediatamente a Varsóvia, lá entrarás num convento. Terminada a oração, levantei-me, fui para casa e arrumei as coisas indispensáveis. Como pude, relatei à minha irmã o que se passava na minha alma; pedi que se despedisse por mim dos nossos pais e assim, só com a roupa que tinha no corpo, sem mais nada, vi para Varsóvia.
Quando desci do trem e vi que cada um seguia seu destino, fiquei com medo e sem saber o que fazer. Para onde dirigir-me, não tendo ali ninguém conhecido? Implorei à Mãe de Deus: “Maria! Conduzi-me, guiai-me.” Imediatamente ouvi dentro de mim uma voz que me dizia que saísse da cidade e fosse a um determinado povoado, onde poderia passar a noite com segurança. Foi o que fiz e encontrei tudo como a Mãe de Deus me havia dito. No dia seguinte, bem cedinho, vim à cidade e entre na primeira  igreja que encontre e comecei a rezar para saber o que mais era da vontade de Deus. As santas Missas se sucediam. Durante uma delas, ouvi estas palavras: Vai falar com esse padre e diz-lhe tudo, e ele te dirá o que deves fazer em seguida. Terminada a santa Missa, fui à sacristia e contei tudo o que se tinha passado na minha alma e pedi que me indicasse em qual convento ingressar. No primeiro momento, o padre ficou muito surpreendido, mas depois recomendou-me que tivesse muita confiança, pois Deus me guiaria.  “Por enquanto, (disse ele) vou enviar-te  a uma piedosa senhora com quem  poderás ficar enquanto não ingressar no convento.” Quando fui ter com essa senhora, ela me recebeu com grande afabilidade. Durante esse tempo, eu procurava um convento, mas a cada porta que batia era recusada. A dor apertou-me o coração e roguei então a Jesus: “Ajudai-me, não me deixes sozinha.” Até que, finalmente, bati à nossa porta. Quando veio ter comigo a madre superiora, a atual madre geral Michaela, depois de ter uma breve conversa, disse-me que fosse ver o “Senhor da casa” e perguntasse se Ele me aceitaria. Compreendi logo que devia perguntar a Nosso Senhor. Fui à capela com grande alegria e perguntei a Jesus: “Senhor desta casa, Vós me aceitais? — Foi uma das irmãs que me mandou perguntar assim.” E logo ouvi uma voz que me dizia: Eu te aceito, tu estás no Meu Coração. Quando voltei da capela, a madre superiora logo me perguntou: “Então, o Senhor te aceitou?” — Respondi que sim — “Se o Senhor te aceitou, eu também te aceitarei.”