As dores da humanidade

Padre Geovane Saraiva*

Em cada celebração do banquete nupcial do Cordeiro, ou Ceia Pascal, de Jesus com seus discípulos, faz-se presente e atualiza-se o que Cristo realizou, no presente da salvação, dom e graça para a humanidade. Ao se recordar o passado, que se faz presente na vida das pessoas, antecipa-se o futuro, na forte expressão que se repete em cada eucaristia: "Ele está no meio de nós".

A partir da Solenidade da Exaltação da Santa Cruz (14/09) e da memória de Nossa Senhora das Dores (15/09), veio à minha mente que, no Cristo Ressuscitado, se encontra a síntese da existência humana, recordando-me das aulas do Monsenhor Urbano Zilles sobre o Tratado da Escatologia, há mais de 30 anos. Pensei no aniquilamento ou suplício da cruz, mistério a envolver o homem e todo o universo. Por maior que seja seu amor próprio, ele é chamado a externar com um "não" ao absurdo das trevas da morte, passando a sonhar com a utopia do reino, indo em direção à reconciliação de todas as coisas em Cristo.

É a criatura humana que é chamada a viver, tendo por base a esperança cristã, ao mesmo tempo em que a vida de Deus quer se manifestar, na certeza de que a ressurreição se dará no futuro, pelo prenúncio pascal da cidade celestial, no salvífico pulsar, longe de toda e qualquer frustração. É a expectativa a nos interpelar, deixando claro que a opulência e a concentração de enormes fortunas são empecilhos ao absoluto de Deus, no sentido da realização a se antever pela fé (cf. Lc 9, 25). Que aprendamos a ofuscar o que é efêmero e acidental, em nome de Jesus levantado, lá no alto da cruz, ao revelar seu sinal e gesto redentor, seu senhorio e amor para conosco.

Na imagem de Nossa Senhora das Dores, ou da Piedade, temos, diante dos olhos, a salvação da humanidade, pela metáfora do seu corpo ensanguentado, ao sujar as mãos da Mãe de Deus, oferecendo-se a nós no alimento da Eucaristia. Antecipa-se, de verdade, Jesus no meio de nós, pelo caminho doloroso de Maria: na profecia de Simeão; na fuga para o Egito; no Jesus que se perde no templo; no caminho do Gólgota; na crucificação; no Jesus descido da cruz; junto à sua sepultura, muito além de sete dores: as dores da humanidade. Amém!

*Padre, Jornalista, Colunista e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE. Da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 16/09/2018
Reeditado em 16/09/2018
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