500 anos de religião no Brasil

500 anos de religião no Brasil

Alexandre Santos*

São raríssimos os homens que não acreditam na existência de Deus. Pudera. Ele existe! Deus existe e se não existisse, o homem – um ser frágil e, portanto, carente de apoio – O inventaria, tornando-O uma realidade psicológica.

Os crentes, como eu, não acreditam que a vida no universo fosse possível sem o toque divino que lhe deu constituição e dinâmica tão perfeita, cuja complexidade permanece (e permanecerá por todo o sempre) como um desafio às mentes mais argutas e brilhantes. Os crentes, como eu, veem Deus por toda a parte, confirmando a onipresença que a Igreja Lhe atribui. Para nós, crentes, Deus se manifesta através de coisas simples, como o sorriso de uma criança; através de coisas complexas, como o funcionamento dos organismos vivos; através de coisas belas, como o anoitecer estrelado; através de coisas fortes, como o tronco de uma árvore; através de coisas selvagens, como as tempestades indomáveis; através de coisas suaves, como a brisa outonal. Como explicar a imensidão do universo, a eternidade do tempo, a indescritível sensação de um carinho, a precisão dos movimentos celestes, a regularidade das estações ou a perfeição da reprodução dos seres vivos?

As respostas dos crentes convictos coincidem com as formulações dos crentes por necessidade ou por conveniência.

Mesmo aqueles que não acreditam na existência de Deus – para os quais Deus não existe – sucumbem às próprias fragilidades e terminam por inventar um deus, igualmente onipresente, onisciente e onipotente.

Os crentes por necessidade ou conveniência, passam a acreditar em um deus que lhes socorra nos momentos de dificuldade, que lhes ofereça segurança nos momentos de incerteza, que lhes ofereça esperança nos momentos de debilidade, que lhes ofereça conforto nos momentos de dor; que lhe ofereça perdão nos momentos de arrependimento; que lhes ofereça a possibilidade de vida após a morte. A crença num Deus possibilita a criação de um padrão ético que inspire uma regra geral de comportamento.

Diante da crença em um Deus, nada mais natural que o desenvolvimento das religiões, traduzindo na linguagem do homem a presença de Deus.

Homens interpretando Deus para homens. Homens traduzindo os sinais do que é belo, forte, certo, errado, justo, preciso. Homens que, falando em nome de Deus, podem indicar caminhos que levam a segurança, esperança, ética... e a Vida Eterna.

Surgiu, então, uma enorme fonte de poder. Tão poderosa, senão mais forte, que o próprio instituto da propriedade privada.

Através da religião Deus se fez homem. E se fez força. E se fez poder.

E se fez a religião – uma instituição através da qual os homens se comunicam com Deus, portal de força, de perdão, de eternidade...

E, assim, ao amor e a propriedade, a religião se juntou para compor a trindade que faz a essência do poder.

Este padrão que se reproduz por todo o planeta, também marca a história do Brasil, desde os tempos pré descobrimento.

(*) Alexandre Santos é presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural