Lewis disse em um dos seus livros que as criaturas não nascem com desejos, a menos que exista satisfação para eles. Um bebê sente fome: bem, existe uma coisa chamada comida. Um patinho quer nadar: bem, existe uma coisa chamada água. Então existem desejos em nós que nos orientam a coisas que o próprio Deus criou, tanto naquilo que encontramos aqui nessa terra, quanto para saber que existe um desejo insaciável que nada nessa terra possa satisfazer, o desejo pelo Reino de Deus. O problema está em saciar nossos desejos com o que não sacia, de nada adianta uma taça de vinho quando a sede é de água.
"O desejo mais profundo do coração humano é ser visto pelo olhar amoroso do outro" disse santo Agostinho. Existe em nós o desejo de ser olhado de maneira peculiar pelo olhar de alguém, o desejo de ser visto como único, nos ensina o livro pequeno príncipe: "Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante." Temos o desejo de ser essa rosa, de sermos importantes simplesmente porque alguém decidiu nos ver diferente de todo mundo.
Como disse erramos em suprir nossos desejos com coisas que não saciam, a rede social nos dá a sensação de estarmos caminhando em multidão, de não estarmos sozinhos, o mundo inteiro agora cabe na minha mão. Ter atenção de milhares de seguidores, ter uma fila de pessoas esperando a resposta da minha mensagem, a sensação de ser querido por várias pessoas e ser "amado" por elas é o vinho pra quem tem sede de água. Óbvio que devemos interagir, dar atenção e aproveitar o que temos disponível, mas nos envolver com o sentimento criado pelos milhares de seguidores que temos nos rouba a oportunidade de perceber o ​olhar amoroso de um só alguém e isso faz toda a diferença. Temos trocado a oportunidade do encontro, da conversa profunda, do coração escancarado pela atencãozinha miúda de trocentas pessoas.
O desejo de ser amado por alguém, infundido em nós por Deus tem sido "saciado" pelos números que a internet dá, talvez não tenhamos visto o olhar amoroso de alguém porque estávamos preocupados demais com o número de likes, com quantas conversas temos para responder, com o seguidor novo que chegou. Escolhemos a pior parte, não vemos quem nos olhou diferente porque essa pessoa era só mais uma na multidão, quando essa pessoa nos tinha olhado com o amor que a multidão nunca vai ter.
Talvez o problema não seja que o amor não tenha chegado, mas estávamos distraídos demais para olhar alguém nos olhos, para a conversa sincera, para gastar tempo com alguém, preferimos ser multidão mesmo que ali não tenha amor profundo, ficamos com o carinho de todos ao invés do amor de um, não somos de ninguém, somos de todo mundo e isso não me alegra, me entristece.

Abra a Porta e Gabriel Antunes
Enviado por Abra a Porta em 06/12/2021
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