Perdas e ganhos

São poucas as pessoas que estão de fato preparadas para a perda. É preciso um equilíbrio muito grande ao se deparar com os revezes aos quais todos estamos sujeitos. Em uma campanha eleitoral há muito mais derrotados do que vencedores, em uma partida de futebol ou noutro jogo qualquer haverá alguém que perde para que o outro vença. A própria vida nos impõe perdas significativas, como a de um ente querido que parte ou morre. E assim sucessivamente perdemos e ganhamos grandes ou pequenas coisas todos os dias. Após a vitória é sempre mais fácil, alegria, comemoração e cumprimentos pelo resultado positivo, já na derrota...

Mas os psicólogos são unânimes ao afirmarem que precisamos tirar aprendizado das perdas para que possamos ser vencedores posteriormente. Para isso, nas suas explicações, fazem sempre uma análise retroativa sobre o assunto. A primeira perda já acontece ao nascermos, perdemos o contato direto com a mãe ao ser cortado o cordão umbilical. Depois perdemos a infância, os colegas de escola, perdemos a adolescência, perdemos a juventude, as paixões, a motivação, o desejo, os dentes, os cabelos, e por aí vai.

Até aqui a discussão está muito abstrata, concorda? Mas será por que é tão difícil reagir às perdas e como isso se dá? Temos que considerar que tudo na nossa vida é efêmero, passageiro. A partir da premissa de que as perdas são inevitáveis e necessárias até, para nosso crescimento pessoal, fica mais fácil a abordagem do tema. Temos o hábito discutível de nos apegarmos com todas as nossas forças em bem materiais, a cargos e posições sociais e nos esquecemos facilmente do que realmente importa que são as pessoas. Não que devamos nos apegar incondicionalmente às pessoas. Isso está relacionado ao apego, que se associa com o orgulho e frequentemente com o ego.

Esse conjunto de fatores somados a uma perda provoca em muitos momentos reações extremas. É comum em qualquer tipo de disputa as pessoas se agredirem verbal e até fisicamente sem respeitar o ponto vista do outro. O ser humano briga, ofende e até mata por apego, por orgulho, pelo poder e por não saber perder. O ideal é que não tenhamos tanto apego, dessa forma encararemos a perda como natural, não sem tirar as devidas lições. O outro tem direito de ganhar tanto quanto eu. O Budismo prega o não apego às coisas e às pessoas e sim à essência, ao bem.

A Psicologia tem a seguinte visão sobre a reação das pessoas diante da perda: primeiro acontece o choque, o abalo, o desespero e o atordoamento. Nesse primeiro momento diante da notícia podemos reagir com apatia ou com agitação. Em seguida há a negação, a descrença na notícia ou no fato. A pessoa não acredita no que aconteceu. Trata-se de uma defesa psicológica para fortalecimento da pessoa para ela poder dar continuidade. Depois há a dúvida entre a aceitação e a não aceitação do ocorrido e após, acontece a revolta com a situação, às vezes com alguém, com ela mesma ou até com Deus. Segue-se a tristeza ou até depressão com mais ou menos intensidade, varia de acordo com o apego ou com a situação de perda. Finalmente vem aceitação, quando se percebe que não há outro jeito senão seguir em frente.

Não sou adepto de nenhum radicalismo. Não precisamos ser frios, meticulosos e calculistas, mas ao mesmo tempo não podemos ser apaixonados desvairados e inconsequentes. Devemos passar por todas essas fases mencionadas acima, sem ficarmos muito tempo em nenhuma delas. Com exceção da perda por morte de uma pessoa querida, todas as outras situações apresentam um aspecto positivo, um ganho que deve ser percebido além da perda. Perdemos o conforto do útero materno mas ganhamos a vida. Perdemos a adolescência e a juventude em contrapartida ganhamos experiência e assim sucessivamente. Que saibamos tirar aquilo de bom que as nossas derrotas nos proporcionam, e pode acreditar há muitas lições e ensinamentos nelas.