De frente com a escuridão: Lidando com a depressão

Essa é uma história sobre um período negro. Um período onde nada fez sentido aos meus olhos. Um período em que eu planejei, silenciosamente, meu próprio suicídio. Uma das coisas que me segurou no momento oportuno, foi como minha mãe quebraria. Talvez naquela noite, eu não tenha feito por ela. Assim como eu, você pode estar vivendo isto agora. Este texto é para você.

Se alguém hoje me perguntar se eu conheço o inferno, minha resposta é sim. Meu querido e já falecido mestre Rav Berg sempre disse que inferno e paraíso são estados mentais e independentes do externo. De que tudo depende de como você vê as coisas. Eu tive quase um ano de depressão. Profunda depressão. Em algumas situações, me lembro muito bem de ter passado três dias seguidos na cama. Levantava, tomava água, comia uma fruta ou sanduíche e voltava para a cama. Ligava para meu trabalho e dizia que estava doente.

Mas este é o ponto: Eu estava doente, mas não fisicamente. Tal como seu corpo, a alma humana também adoece. Também Precisa de curativos algumas vezes. Também precisa de exercícios. E também precisa da sua atenção. Minha alma tinha recebido uma ferida de morte, e precisava se recuperar. Isto causou o meu breakdown. Dentre os motivos que foram vários, citarei os quase dois anos de intensos casos de abuso e bullying em uma empresa em outro país, simultaneamente com meu pai vivendo seu câncer terminal há 12.000 quilômetros de distância. Dia após dia eu vivia pessoas tentando matar a minha personalidade um pouquinho mais. E elas quase conseguiram.

Eu me sentia tão envergonhado desta situação, que eu não abria com as pessoas. Como resultado, por muitas vezes, pessoas que não tinham nada com a história de repente consideravam meu comportamento esquisito, pois inúmeras vezes eu estava tendo crises de pânico em decorrência dos eventos citados acima. Mas nunca contei para elas os motivos que me faziam não estar cem por cento no momento presente, e algumas vezes nem sequer prestando atenção. Portanto, a primeira lição é esta: Compartilhe seus sentimentos. Não estou dizendo que você precisa pendurar uma placa no pescoço dizendo "Eu tenho depressão/pânico". Mas com algumas pessoas mais próximas, é bom elas saberem. Me lembro quando eu tive uma crise de pânico no escritório já em um terceiro país e em outra empresa e ninguém percebeu, exceto uma colega de trabalho que notou que eu estava diferente. Ela me chamou para tomar um café e eu contei sobre as crises. Desde então, ganhei uma colega que é uma grande amiga. Sendo ela da minha equipe, trabalhamos melhor pois conhecemos as limitações que ambos temos. Eu poderia ter ficado quieto e com medo de ser considerado doente ou cheio de "mimimi". Pense sobre quais pessoas você deve compartilhar. Mas compartilhar é importante. Nem que seja com um profissional, como um psicólogo. Hoje, me arrependo de não ter procurado algum.

Outra coisa que aconteceu comigo, foi a perda do sentimento de ser merecedor de qualquer coisa. Na verdade, eu nem queria ter nada. Eu havia perdido o que é mais importante em um ser humano: O desejo, ou a vontade. O desejo nos move. Isto me levou a sentar por inúmeras vezes e tentar encontrar minha identidade de novo. Minhas paixões, meus objetivos, minhas habilidades. E encontrar os pontos que eu precisava melhorar também. Me analisei muitas vezes como uma terceira pessoa, de fora da situação. O que estava dando errado? Desenhei, rascunhei e de repente encontrei novas paixões. Isto foi uma parte importante do meu processo, pois saí da cama para explorar estas paixões. Pode ser escrever, desenhar, modelar, ler, cozinhar, ou simplesmente um jogo bobo. Entenda que sua alma está no hospital, você precisa se distrair dos ferimentos. Encare como ligar a TV da sua mente. Eu comecei todas estas coisas e resgatei uma antiga paixão que era desenvolvimento 3D e realidade virtual. Eu passava noites em claro modelando coisas, animando e encontrando formas de fazer algo perfeito. Isto me ajudou a resgatar não apenas o desejo por algo, mas a sentir orgulho novamente de mim mesmo. Afinal, eu tive problemas para resolver que exigiam o meu foco. Se neste estágio você conseguir sair da cama, ótimo! Não importa que você não pare de fazer uma coisa só ou falar de um assunto só. Você está num processo de cura, não queira acordar bom e saudável de uma única vez. aceite os estágios, mas se esforce apenas para ir para o próximo.

Por último, eu comecei a dar real atenção para amigos meus que eram importantes. Eu não perdia mais uma cerveja, uma corrida no parque, ou simplesmente uma ida para um café. Todos que me queriam bem viraram mais importantes que aqueles que me prejudicaram. E agora, é muito importante este conselho: Escreva na areia o nome de quem te fez mal e na rocha o nome de quem te fez bem. E não contrário, como nossa natureza nos força. O aniversário do filho do meu amigo era importante. O emprego novo da minha amiga era importante. Meus amigos eram importantes. E de repente você percebe que você também é.

Hoje, eu escrevo este texto totalmente curado da depressão. Mais ainda, não tenho mais crises. Ainda tenho um longo caminho para restaurar, perdi muito peso, meu corpo sentiu de algumas maneiras, amizades que se esfriaram, além de muito tempo perdido. Um ano perdido. Não perca tanto tempo em sua vida. Você é uma alma humana. Você têm o seu valor. Ninguém tira de você o direito de respirar. O direito de se arrepender e repensar suas atitudes. O direito de se transformar. O direito da resiliência. O direito de amar e ser amado. Morremos e nascemos várias vezes no mesmo corpo e essa é a parte linda da vida: O transformar. Existe um lugar para todos. E eu desejo que você encontre o seu. Você é importante. Ao menos para mim.

Com amor,

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 08/04/2018
Reeditado em 09/04/2018
Código do texto: T6303327
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