Projeto Psicologia e ELA - Texto 3

ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA/DOENÇA DO NEURÔNIO MOTOR (ELA/DNM) E A SÍNDROME DO PÂNICO

Vania de Castro

Psicóloga, CRP 06/15.110

Síndrome ou Transtorno do Pânico é uma perturbação psíquica, em linhas gerais, provocada por um medo intenso do futuro, cujas raízes estão dentro da própria pessoa. A sensação extrema é que algo muito ruim acontecerá nos minutos seguintes.

Muitos autores associam a síndrome do pânico aos problemas sociais, econômicos e históricos que vivemos nos dias de hoje. E, como a comunicação de tragédias, assaltos e momentos de calamidade pública é disseminada rapidamente, isto pode gerar internamente um medo “inexplicável”, mesmo se a pessoa mora no Brasil e a tragédia ocorreu no Japão. Afinal o medo está dentro dela, porém tem o correspondente externo que são todos os acontecimentos assustadores, que provocam extrema insegurança e envolvem a sociedade atual, principalmente nas grandes metrópoles.

Muitos profissionais, familiares e amigos da pessoa que vivencia a síndrome do pânico, não acreditam que ela está sentindo o que diz sentir, mesmo diante dos sintomas fisiológicos que apresenta. E expressam pelo olhar, pelo toque ou por palavras que tudo o que está acontecendo com a pessoa é psicológico. Em prontos-socorros, por exemplo, é comum as pessoas com síndrome do pânico darem entrada para atendimento e sentirem-se totalmente desacreditadas por quem as atende. “Isto é psicológico”, sim é verdade, é psicológico e, por isso mesmo é tão real quanto uma fratura exposta. A pessoa sente calafrios, taquicardia, sudorese, tremor, entre outros sintomas fisiológicos, que são consequência do medo que ela não consegue controlar.

Agora vamos transpor a situação para a pessoa com ELA, cujos sintomas já apareceram e a impedem de fazer atividades da vida diária. A vida da pessoa com ELA está nas mãos do familiar ou do cuidador, porque a sua mão, os seus braços ou pernas e a sua voz não obedecem mais ao seu comando. Movimentos que outrora fazia sem pensar e, são movimentos comuns no cotidiano, hoje são impedidos de serem realizados pela evolução da doença.

A pessoa diz:

- Eu não estou conseguindo respirar. Sinto que vou morrer!

ELA e a síndrome do pânicoO profissional responde:

- Está tudo normal. Sem alteração nos parâmetros do Bipap.

O psiquiatra ou o psicólogo é chamado, porém não conhece a pessoa e tem a informação do fisioterapeuta respiratório, que os parâmetros do ventilador mecânico não sofreram alteração. Ele informa:

- Isto é síndrome do pânico.

Que tal nos colocarmos no lugar da pessoa com ELA, e imaginarmos o quê e como é sentir-se sem ar para respirar?

Com o intuito de esclarecer, usarei o termo EMPATIA (*) cuja definição é: “Forma de identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa”.

A palavra faz parte do trabalho em Psicologia e de várias outras áreas do conhecimento. De uma forma abrangente, significa colocar-se no lugar da outra pessoa e aproximar-se do que ela sente, o mais profundamente possível. O termo empatia evoluiu para compreensão empática, com o psicólogo humanista Carl Rogers, criador da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Compreensão empática pressupõe um aprofundamento da empatia, ou seja, vai além do significado no senso comum, é a capacidade de apreender a experiência, a vivência do outro o mais próximo do quê e como é, para a outra pessoa.

E, nós profissionais de saúde, familiares ou cuidadores, conseguiremos ser compreensivelmente empáticos com a pessoa com ELA?

Qual a nossa reação quando ela informa que está sentindo falta de ar e os parâmetros do ventilador mecânico não sofreram nenhuma mudança?

Silenciamo-nos ou acreditamos nela e vamos buscar possibilidades de ajudá-la, na resolução do profundo desconforto.

E se for psicológico? Basta dizer: - “Isto é psicológico!” E, aí, deixamos a pessoa com a sua dor, os seus medos e pronto. Afinal, “é psicológico”!

É evidente que devemos buscar saídas para a diminuição do mal-estar da pessoa com ELA. Isso é inquestionável. E, vamos usar todos os recursos para encontrar a solução, independente da origem do problema.

A vida do ser humano é preciosa, por isso, acreditar e permanecer com ele no momento da dor e do sofrimento, é a atitude que deve ser tomada. No momento do desespero, vamos cuidar da pessoa com ELA, e depois, estudar a origem do problema, se psicológico, se fisiológico, se espiritual, ou seja, de qual natureza for. Assim, e se for o caso, faz-se o encaminhamento ao profissional habilitado.

(*) Empatia, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/empatia [consultado em 28-04-2018].

Para saber mais:

A clínica da síndrome do pânico (Marcelo Pinheiro)

Da empatia à compreensão empática: evolução do conceito no pensamento de Carl Rogers (Rebeca Cavalcante Fontgalland)

https://vaniadecastro.com.br

www.comunidadeelabrasil.ning.com

https://escleroselateralamiotroficafamiliartipo8blog.wordpress.com