O sentido está com o emissor

"Um sujeito em posse de uma imagem comportar-se-á em muitas situações como uma pessoa que está percebendo o objeto correspondente", [Berlyne, O pensamento e sua direção] sem diferenciar o OBJETO mental da Coisa Real de que foi criado. Quando se aceita o óbvio - o que está na mente, mundo interno, é mera interpretação do que está de fora, mundo externo - a interpretação correta - e pronta a ser destruída se a compreensão da Realidade o exigir - seria que a pessoa está percebendo o OBJETO criado pelo USO de uma Coisa Real, mas não a Coisa Real de que derivou, a qual pode ou não pertencer a um mundo ausente. De fato, é não senso discutir com o indivíduo que alucina serem inexistentes suas visões ou as vozes ouvidas: nada pode ser retirado do Inconsciente que ali não tenha sido colocado; não há possibilidade de recuperação do material armazenado nos neurônios sem que haja estimulação elétrica interna ou externa, impondo sempre a análise se o que se toma por alucinação não seja apenas produto de uma descarga elétrica neuronal. Do ponto de vista individual, as alucinações são Coisas Existentes, reais, pois estimulam seu aparato cerebral e mental; do ponto de vista cultural, são irreais, pertencentes a um "mundo ausente", e a dificuldade é determinar se o que estimula o sistema nervoso é Real e pertencente ao mundo concreto, ou pertencente ao Mundo Ausente, determinação que só é possível pela destruição das evidências de sua existência, e isto se torna impossível em um sistema que insiste na Palavra como o fundamento do mecanismo de pensar. No caso de OBJETOS MENTAIS para os quais se julga não existir uma Coisa Real que o tenha derivado é preciso lembrar que a obsessão da certeza nasce da obsessão da dúvida: é impossível negar a quem tem alucinações - que são criadas a partir da internalização de suas vivências - serem elas reais, referentes a OBJETOS reais, criados a partir do USO de Coisas Reais, que apenas podem não estar presentes no mundo no momento em que se alucina, mas se delas se criou um OBJETO pelo USO são Coisas que, no mínimo, já existiram e foram vivenciadas. Não importa o quão distanciadas do que crê ser real o receptor da mensagem portadora do que se diz uma alucinação, é preciso verificar não apenas as vivências de quem alucina, mas interpretações a elas dadas, o que depende de assentir ao sistema de significação, normas e valores de quem alucina e não outro SSNV externo à sua mente; depende de saber que o que ele expressa com palavras como descrição do que alucina é expresso com palavras que, embora com os mesmos fonemas, tem um significado diferenciado, acrescido que foi do sentido necessário para se integrar na compreensão que aquele que alucinou tem do mundo, e procurar o sentido de cada uma delas no contexto entre as palavras e entre seus significados e os campos situacionais vivenciados por aquele que alucinou: o sentido de todo discurso humano está com quem o emite e não com quem o recebe.

Gilberto Profeta
Enviado por Gilberto Profeta em 12/06/2019
Código do texto: T6670906
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