A HORA E A VEZ DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE

Com alto índice de empregabilidade, cursos técnicos despontam como a melhor opção para quem busca qualificação profissional e oportunidades de emprego

O mandato presidencial de Nilo Peçanha durante a República Velha foi relativamente curto – ele ocupou o cargo somente por dois anos, após a morte de Afonso Pena. Contudo, escreveu um capítulo importantíssimo na história do ensino profissionalizante. Foi ele quem criou as primeiras escolas de aprendizes artífices, em 23 de setembro de 1909. A fundação do Liceu de Artes e Ofícios, que atualmente recebe o nome de CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica, é considerado o marco da educação técnica no País, um esboço do que hoje compõe a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Com o passar dos anos o ensino profissionalizante se popularizou, abrindo um grande leque de opções em praticamente todas as áreas do conhecimento e garantindo mais oportunidades a milhões de brasileiros. “Estamos vivenciando o melhor momento da educação profissional no País, ressalta Eliezer Pacheco. Apesar da opinião do secretário de educação do MEC – Ministério da Educação, e da criação de órgãos e dezenas de unidades de ensino, públicas e privadas, a procura por cursos de qualificação profissional é cada vez mais intensa. De acordo com o MEC, entre 2002 e 2010 o número de matrículas cresceu 74,9%, sendo que grande parte das vagas foram criadas de maneira a atender as necessidades específicas das empresas. Diante desses dados, o governo federal lançou oficialmente, em abril, o PRONATEC – Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica, que objetiva, principalmente, facilitar o acesso à aprendizagem técnica dos interessados que não dispõem de recursos financeiros para custear os cursos oferecidos por instituições de ensino privadas, ou superiores regulares.

Administrado pelo próprio MEC, a previsão do programa é oferecer, só na primeira etapa que se inicia no segundo semestre, cerca de 1,5 milhão de vagas. Tal escolha, no entanto, deverá ser bastante criteriosa; afinal, enquanto que para alguns cursos a concorrência chega a ser mais acirrada do que vestibulares de grandes universidades, para outros sobram vagas em virtude da baixa procura. De acordo com o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, a concorrência varia conforme a região.

O PRONATEC é, também, vinculado ao FIES – Fundo de Financiamento do Ensino Superior; e, para atender a todos os alunos, utilizará a rede do Sistema S – SESI, SESC, SENAI, SENAC. O governo acena ainda com a promessa de criar novos institutos, além de construir escolas e adequar os prédios já existentes. E claro: formar e contratar professores devidamente capacitados.

Se confirmarem todas as promessas e investimentos, aliados à “considerável” ampliação de vagas e facilidade de acesso ao ensino profissionalizante, espera-se que haja um maior equilíbrio entre a procura e a oferta de mão-de-obra especializada.

Estatísticas favoráveis – Promover a educação profissional pública dentro de referenciais de excelência, visando ao atendimento das demandas sociais e do mundo do trabalho. Essa é a missão do CPS – Centro Paula Souza, autarquia do governo paulista responsável pela administração das ETECs – Escolas Técnicas e FATECs – Faculdades de Tecnologia. Com dezenas de cursos técnicos para os setores industrial, agropecuário e de serviços, a entidade atende mais de 200 mil estudantes; números importantes, mas ainda não suficientes para suprir a carência das empresas que, no momento das contratações, têm dado preferência aos formandos provenientes de cursos profissionalizantes em vez dos recém-saídos das universidades.

Recentemente, o CPS divulgou a lista dos cursos com maior índice de relação candidato/vaga, por unidade, para o vestibulinho das ETECs e vestibular das FATECs, no primeiro semestre de 2011. Pela quinta vez consecutiva, Técnico em Enfermagem lidera o ranking dos cursos mais concorridos a nível médio, enquanto que Análise e Desenvolvimento de Sistemas tem sido o de graduação tecnológica mais procurado.

Encomendado pelo Grupo Votorantim, um dos maiores conglomerados empresariais privados da América Latina, estudo realizado pelo economista Marcelo Neri, da FGV – Fundação Getúlio Vargas, aponta que os alunos que cursam qualquer tipo de modalidade de educação profissional têm 48% mais possibilidades de conseguir trabalho do que os que optam por não fazer tais cursos. “Não queríamos saber sobre a demanda dos cursos, mas entender o impacto deles no mercado de trabalho. Por isso não consideramos quem estava estudando na época da pesquisa, somente os que já haviam pelo menos passado por um curso mesmo sem ter se formado”, explicou o pesquisador ao jornal O Estado de S. Paulo.

Profissional especializado em comunicação corporativa, Max Gehringer afirma que a maioria dos jovens brasileiros desconhece as estatísticas do MEC, para o qual dois em cada três técnicos conseguem estágio imediato nas áreas em que se formam e mais de 70% são efetivados pelas empresas. “Por isso, eles preferem entrar num curso superior imaginando que assim estariam economizando tempo”, disse. Ainda, segundo ele, o resultado pode ser percebido no contingente de jovens até 25 anos que, mesmo munidos com diploma universitário, passam por dificuldades para conseguir emprego. Assim, para quem vive o dilema da dúvida entre um curso profissionalizante ou superior, as palavras do administrador soam como valiosa dica: “O curso técnico é uma bela e larga porta de entrada para o mercado de trabalho”.

Almério Melquíades de Araújo

Professor do CPS aponta números positivos, mas admite que ainda há muito que fazer para melhorar a educação profissionalizante no País

Foto_Almério Melquíades de Araújo_Cred. Gastão Guedes

Leg: “O mundo do trabalho é dinâmico e suas demandas sofrem alterações quantitativas, geográficas e de especializações”, afirma

Coordenador de Ensino Médio e Técnico do Centro Paula Souza, Almério Melquíades de Araújo aposta no aumento da oferta de cursos para suprir a falta de mão-de-obra especializada. A instituição paulista, de acordo com o professor, tem feito a sua parte: em quatro anos, triplicou o número de vagas nas ETECs e FATECS.

Qual é a sua opinião sobre o PRONATEC – Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica, que está sendo implantado pelo governo federal e que pretende criar 1,5 milhão de vagas para cursos técnicos em 2011?

Iniciativas para o aumento das vagas no ensino profissional são, a princípio, bem-vindas. Afinal, precisamos ampliar, e muito, essa oferta. Com o PRONATEC e o Brasil Profissionalizado – criado em 2007 com o objetivo de fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica, é possível que realmente atinjamos 1,5 milhão de matrículas no segundo semestre do ano.

É uma medida eficaz para dirimir, num curto prazo, o problema da falta de mão-de-obra especializada na área tecnológica?

Pode ser. Ainda não conhecemos as metas desse projeto, muito menos sua intenção quanto ao investimento. É preciso esclarecer, no entanto, que o crescimento estrutural e a melhoria do ensino técnico no Brasil dependem mais dos governos estaduais.

Se o acesso à educação técnica, especialmente em São Paulo, tem sido facilitada nos últimos anos, por que então ainda há grande carência de profissionais especializados no setor?

O mundo do trabalho é dinâmico e suas demandas sofrem alterações quantitativas, geográficas e de especializações. Nos últimos quatro anos, o CPS promoveu um plano de expansão que dobrou o número de FATECs, quase triplicando a oferta de vagas no ensino tecnológico, ou seja, de nível superior. No técnico, ou melhor, de nível médio, o número de alunos saltou de 77 mil para 160 mil no mesmo período. Havia 126 ETECs em 2006, e hoje são 198 mais 235 extensões. No Brasil, a proporção de matrículas para ensino técnico em relação ao médio é de apenas 11% – 18% no Estado de São Paulo. Enquanto isso, em alguns países sul-americanos essa relação varia de 25% a 38%. Portanto, ainda há muito que fazer por aqui.

Nesse sentido, quais as medidas efetivas que o CPS tem tomado?

A ampliação das unidades e a proximidade com os diferentes setores produtivos e representações sociais tem permitido uma resposta rápida e eficiente a essas demandas. O CPS continua aumentando a quantidade de vagas, mas sempre visando à manutenção da qualidade. Por meio de parcerias, estamos aproveitando espaços ociosos. Desde 2009, por exemplo, a instituição mantém um acordo com a Secretaria de Estado da Educação para ocupar as escolas no período noturno; e com a Prefeitura de São Paulo para usar salas em unidades do CEU – Centro Educacional Unificado. Essa estratégia tem dado certo, e deve ser ampliada com outras instituições. Por meio dessas parcerias, são oferecidas anualmente 17 mil vagas em 111 escolas estaduais de 68 municípios, e nos 23 CEUs da capital. Cada unidade forma até três turmas de 40 alunos por semestre, submetidos ao nosso vestibulinho no processo seletivo. As aulas são ministradas por professores das ETECs, e são várias opções de cursos, que dispõem de toda estrutura montada pelo CPS.

Fonte: Revista da FENTEC - Edição 35

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 22/08/2011
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T3175530
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