O MOVIMENTO SINDICAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Entidades trabalhistas, especialistas em meio ambiente e outros setores sociais discutem as mudanças climáticas e o papel dos sindicatos no processo de sustentabilidade

Promover a conscientização ambiental, despertando na sociedade brasileira a importância e a necessidade de se preservar o meio natural. Como? Fomentando o debate público sobre importantes temas: o desenvolvimento sustentável, a educação ecológica, o novo modelo de civilização e a atuação sindical na questão das mudanças climáticas decorrentes da exploração inadequada dos recursos naturais. Ou seja, encontrar alternativas para harmonizar a atividade humana com a biodiversidade, fazendo uso racional dos recursos extraídos da natureza em benefício da vida dessa e das gerações futuras. Em linhas gerais, esse é o objetivo do Congresso Internacional “O Movimento Sindical e as Mudanças Climáticas”, realizado entre os dias 19 e 21 de maio pela FENTEC – Federação Nacional dos Técnicos Industriais, em parceria com o SINTEC-SP – Sindicato Nacional dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo e o INCASUR – Instituto Internacional de Estudios y Capacitación Social del Sur. Durante três dias, líderes sindicais, professores, políticos e especialistas no assunto, entre autoridades nacionais e internacionais, estiveram reunidos no Centro de Convenções do Hotel Braston, região central de São Paulo, debatendo e discutindo o futuro do planeta e o papel dos profissionais técnicos como agentes no processo de preservação ambiental. “Perguntam-me o que sindicalismo tem a ver com o meio ambiente. Digo que qualquer cidadão tem a responsabilidade com o desenvolvimento sustentável e a ecologia. Esse é apenas o começo de uma discussão que, com certeza, será ampliada e terá um final feliz”, afirmou o presidente da FENTEC, Wilson Wanderlei Vieira, dando as boas-vindas aos palestrantes e convidados.

Diretor do INCASUR, o professor Enrique Hector Sosa elogiou a realização do evento, enaltecendo que atividades dessa natureza são extremamente importantes no sentido de expor questões sobre o tema e garantir a vida de gerações futuras. Outros participantes, agendados para palestrar posteriormente, também se prontificam; entre eles José Tadeu da Silva, presidente do CREA-SP – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo, que fez menção a Eco-92, conferência realizada há duas décadas no Rio de Janeiro, e enalteceu a importância dos profissionais da área técnica e tecnológica. “Nossa contribuição é de grande valia para amenizar os danos causados ao meio ambiente”, disse o engenheiro.

Embora a abertura oficial do congresso estivesse programada para a noite, por ocasião da posse da nova diretoria da FENTEC, extraoficialmente o pontapé inicial se deu logo pela manhã. Afinal, quando o assunto é preservação ambiental e mudanças climáticas, o tempo é muito precioso.

“Sustentabilidade em Empreendimentos Urbanos”

Arquiteta e mestre em Engenharia Civil defende empreendimento sustentável para melhoria da qualidade de vida nas cidades

“Os problemas que nos deparamos hoje não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento que estávamos quando os criamos”, alertou, de maneira enfática e parafraseando Albert Einstein, a arquiteta Patrícia de Freitas Nerbas durante sua palestra “Sustentabilidade em Empreendimentos Urbanos”. Segundo ela, que também é mestre em Engenharia Civil pelo PPGEC/NORIE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, independente do homem se preocupar ou não com sustentabilidade ou problemas ambientais, as decisões tomadas no dia a dia profissional sempre terão um impacto ambiental, proporcionado maior ou menor inclusão social e, consequentemente, refletindo na economia. “Para falarmos num planejamento sustentável, no mínimo temos que considerar o tripé econômico, social e ambiental, bem como as abrangências dos benefícios para toda a sociedade e não apenas a um empreendimento específico”, argumentou, ressaltando que a análise de custo-benefício não leva em conta apenas o lado econômico, mas também a qualidade, o conforto e o bem-estar que proporciona. Em suma, ela enumerou alguns itens a serem considerados para que haja sustentabilidade ambiental num empreendimento: edificação do entorno, materiais e recursos, qualidade do ambiente interno, energia, atmosfera e gestão de águas. Somente assim, de acordo com a especialista, será possível chegar a um equilíbrio de interesses que gere saúde, conforto e qualidade de vida em áreas urbanas sem causar danos ao meio ambiente.

Por falar do uso consciente e apropriado da água, antes da explanação da arquiteta, Rafael Bicas Franco, representante da Soletrol, explicou o sistema de aquecedores de água por energia solar, especialidade da empresa. “O sistema de aquecimento é composto pelo coletor solar, que tem a função de transformar a água fria em água quente; e o reservatório térmico, que tem a capacidade de manter a água aquecida para o uso.”

Em sua palestra, Claudio Dias, presidente da AEATE – Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Técnicos de Embu, tocou num assunto igualmente propício para se entender melhor a sustentabilidade em áreas urbanas, especialmente para quem vive na zona metropolitana de São Paulo: as compensações ambientais do trecho sul do Rodoanel, uma das maiores obras viárias do País, construída sob a chancela do DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S.A., empresa paulista responsável por construir, operar e manter todas as rodovias submetidas à sua jurisdição administrativa. Técnico em Agrimensura e engenheiro civil, o palestrante apontou detalhes sobre o sistema de reflorestamento e recuperação ambiental em terras ocupadas para a realização da obra. “A empresa teve uma preocupação muito grande com as nascentes e áreas de mananciais que, por uma questão ambiental, não podem ser aterradas”, garantiu.

“Desenvolvimento Sustentável”

Professor de la Univesidad La Habana delega aos sindicalistas o papel de agentes de transformação e encerra primeiro ciclo de palestras

“Juntos, ambientalmente preparados, somos mais fortes”, enfatizou o professor cubano Gilberto Javier Cabrera Trimino durante a palestra “Desenvolvimento Sustentável”. Mais do que um trocadilho, a frase do catedrático de la Universidad La Habana faz uma referência ao slogan da própria FENTEC – Federação Nacional dos Técnicos Industriais, sempre proferida pelo presidente Wilson Wanderlei Vieira: “Juntos, Somos mais Fortes!”. Educação, aprendizado, conscientização e cultura pontuaram a explanação do palestrante, que procurou explicar aos participantes que a sociedade necessita de uma mudança no modelo de civilização, ou seja, um novo desenvolvimento humano voltado para a sustentabilidade. “Eu sempre tenho uma pergunta muito importante: a cultura ambiental sindical é uma necessidade ou uma utopia?”, perguntou, para em seguida apontar o caminho: “Sem cultura nós não podemos fazer nada, não podemos mencionar desenvolvimento sustentável sem falar em educação para o desenvolvimento sustentável”.

Diante disso, para ele o sindicalista tem que exercer o papel de agente de transformação na implantação dessa nova corrente de pensamento, e todas as categorias trabalhistas devem identificar as prioridades sustentáveis dos povos e integrar conhecimentos com novas informações, tecnologia e recursos humanos, para assim chegar a uma produção limpa. “As entidades têm o poder do convencimento e devem alertar a sociedade, por meio da educação, para uma cultura sustentável”, destacou o professor, que ainda enalteceu o trabalho dos sindicatos que representam os profissionais da área técnica. “Como gestores de desenvolvimento sindical, os sindicatos não podem ser analfabetos; eles têm que dominar a sociedade do conhecimento, a economia do conhecimento e buscar a gestão das tecnologias. Para mim, esse sindicato [Técnicos Industriais] é muito importante em toda a América Latina, porque é um agente básico de transformação”, elogiou.

“A Importância do Parlamento na Construção do Meio Ambiente Sustentável”

Deputado federal, presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, cobra conscientização, educação socioambiental e ações práticas do governo na produção de energia

Mais do que necessário, o apoio e a participação parlamentar em assuntos pertinentes à preservação ambiental é absolutamente imprescindível. E isso traduz exatamente o teor da palestra “A Importância do Parlamento na Construção do Meio Ambiente Sustentável”, proferida por Giovani Cherini (PDT-RS). Dados apontados pelo deputado federal, presidente da CMADS – Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, mostram-se bastante impactantes, ou melhor, preocupantes: mais de 70% das cidades brasileiras não fazem separação adequada do lixo por elas produzido, e cerca de 43% não têm saneamento básico; além disso, 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água. Isso acontece, segundo ele, não por falta de recursos, mas por problemas de gestão governamental. O parlamentar revelou ainda que estão previstos R$ 45 bilhões no orçamento do PAC-2 – Programa de Aceleração do Crescimento, sendo que R$ 13 bilhões já foram investidos; contudo, das 101 obras de saneamento do PAC-1, 60% estão paralisadas, atrasadas ou ainda nem iniciaram. “É um paradigma que temos que quebrar: o gerenciamento do governo frente às questões ambientais”, reforçou, lembrando que existem, nada mais nada menos, do que 16 mil leis sobre o meio ambiente no País. “Se não houver conscientização do governo e da população, não adianta fazer leis”, lamentou, cobrando mais atitude e investimentos em educação socioambiental.

A catástrofe natural que praticamente destruiu a costa nordeste do Japão em março, danificando reatores nucleares, mais precisamente em Fukushima, e colocando o mundo sob a tensão de uma exposição nuclear generalizada, foi citada pelo parlamentar como um alerta para o Brasil, que também investe em energia nuclear. Inevitavelmente o assunto remete a Angra 1 e Angra 2, levado à audiência pública na Câmara dos Deputados, na presença do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e da PGR – Procuradoria Geral da República. “Descobrimos que as usinas não têm licença para operar, ou seja, há mais de dez anos que não se cumprem as exigências para o funcionamento da energia nuclear no Brasil”, revelou o deputado, que se mostra preocupado por não haver, em Angra, destino para o lixo atômico e plano de evacuação em caso de acidente. Na ocasião, foi assinado um TAC – Termo de Ajuste de Conduta para que, dentro de um ano, as usinas se adequem às normas internacionais.

Diante de tudo isso, permanece uma indagação: afinal, a energia nuclear brasileira é segura? “Obviamente que não pretendemos desempregar pessoas, mas não queremos que milhares morram por falta de políticas corretas”, ressaltou o palestrante, favorável à produção de energia limpa – aquela que não libera, ou libera poucos resíduos na atmosfera. “A energia eólica é limpa, limpíssima, sem nenhum perigo para a humanidade e às novas gerações. Isso é meio ambiente”, defendeu, para depois comparar: “Se o Brasil destinasse 20% do que investiu em usinas nucleares em energia eólica, nós teríamos várias usinas de Itaipu sem cobrir um hectare de água e sem poluir”. Quanto à resposta da pergunta, somente o tempo poderá dizer; contudo, fazendo uso do dito popular: “É sempre melhor prevenir do que remediar”.

“Necessidade de Envolver os Trabalhadores e as Entidades Sindicais como um Ator Social no Saneamento Ambiental”

Para o engenheiro florestal argentino Daniel Enrique Argento, o grande desafio do homem moderno é voltar a se envolver com a natureza

Engenheiro florestal, docente em Saneamento Ambiental e licenciatura em Higiene e Segurança da Universidad Nacional de Tres de Febrero, em Buenos Aires. Apesar do currículo impecável, Daniel Enrique Argento afirmou ter aceitado participar do Congresso Internacional “O Movimento Sindical e as Mudanças Climáticas” para trocar informações e aprender com os brasileiros e demais congressistas. “O nível de conhecimento transmitido é de fundamental importância para que todos possam se envolver nas questões ambientais”, discursou durante sua palestra “Necessidade de Envolver os Trabalhadores e as Entidades Sindicais como um Ator Social no Saneamento Ambiental”. A exposição foi, justamente, focada em despertar o interesse dos profissionais e seus respectivos sindicatos, para participarem mais ativamente de discussões relacionadas ao meio ambiente, por meio daquilo que ele próprio chama de educação permanente e continuada. “Esse tema deve ser debatido e incutido nessa e nas futuras gerações de maneira que as questões climáticas sejam assimiladas como forma de sobrevivência. O homem faz parte e deve estar integrado à natureza, e o desrespeito o leva à exclusão social e à marginalidade”, ponderou, com a afirmação de que é preciso compreender os aspectos emocionais em relação ao ecossistema quando se fala em meio ambiente. “Observo, sinto, penso e atuo. Daí a importância de se educar as pessoas desde a infância, fazendo-as compreender que elas também fazem parte da diversidade biológica, que é a vida”, complementou.

Por meio de uma análise comparativa de várias fases evolutivas da vida no planeta, a conclusão do palestrante é aquela presente no consciente coletivo, mas que cujas ações preventivas são praticamente inexistentes: os danos provocados pelo homem ao longo da história são os principais causadores de fenômenos naturais desagradáveis, catastróficos na maioria. “A natureza reage com desertificação, enchentes, tsunamis, e outros fenômenos”, enumerou.

O engenheiro florestal defendeu ainda ações governamentais e empresariais para se disseminar uma cultura de que a natureza é fundamental para a vida do ser humano. Para ele o ponto-chave é a educação, e ações individuais, sejam nos ambientes domésticos, na escola ou no trabalho, podem fazer a diferença; pois, o grande desafio do homem moderno é voltar a se envolver com a natureza.

“Soluções Ambientais”

Alternativas, ou soluções, econômicas para os problemas relacionados ao meio ambiente pontuam palestra do ex-presidente da SABESP

“Nós estamos num País com grande potencial para se tornar uma liderança mundial na questão do meio ambiente”, ressaltou o economista Gesner Oliveira, com bacharelado pela USP – Universidade de São Paulo, mestrado pela UNICAMP – Universidade de Campinas, e doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos. A afirmação, proferida durante a palestra “Soluções Ambientais”, é mais do que justificável; afinal, é aqui que se localiza a maior floresta equatorial do mundo – a Amazônica, com seus 5,5 milhões de km2, dos quais 60% se concentram em solo brasileiro; e o mais rico ecossistema – o Pantanal, onde milhares de espécies se reproduzem em meio a uma flora exuberante. Pela formação econômica do palestrante, a explanação, conduzida de maneira simples e bastante didática, procurou apontar algumas alternativas, ou soluções, econômicas para os problemas relacionados ao meio ambiente, focando a importância da infraestrutura para o saneamento ambiental. Claro que, para isso, os profissionais técnicos e seus sindicatos, como todas as demais categorias e entidades de classes, constituem peças importantes dentro do desenvolvimento sustentável. “O que é necessário para o Brasil realmente dar um salto rumo ao desenvolvimento?”, questionou o palestrante. “Investimentos, educação, planejamento e, principalmente, diminuição da tributação no saneamento”, respondeu, afirmando também que os impostos inibem investimentos no setor, e que cada R$ 1 supostamente investido em saneamento equivale a R$ 4 investidos em saúde.

E o ex-presidente da SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, conhece como ninguém os problemas relacionados a saneamento. Por dados estatísticos, ele apontou que mais da metade da população brasileira, cerca de 105 milhões de pessoas, não têm acesso a esgoto, cuja coleta caiu de 59,3% em 2008 para 59,1% em 2009; e 8 milhões de pessoas não usam, sequer, banheiros convencionais. “A situação sanitária brasileira é comparada pela ONU – Organizações das Nações Unidas a países como o Sudão e o Afeganistão”, apontou o especialista, salientando que a preservação ambiental é essencial para o desenvolvimento. “O governo deve se atentar a esse fato”, concluiu.

“Sindicalismo Frente às Mudanças Climáticas”

Satisfeito pelo objetivo cumprido, diretor do INCASUR elogia a realização do congresso e faz citação à música de sucesso da época da ditadura militar

Diz Geraldo Vandré num dos versos de sua composição mais famosa: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Principal hino contra os dias de chumbo da ditadura militar, a música do cantor e compositor paraibano serviu de inspiração e motivação para que Enrique Hector Sosa, diretor do INCASUR – Instituto Internacional de Estudios y Capacitación Social del Sur, passasse a militar em favor da sustentabilidade. Pelo menos foi o que ele próprio afirmou durante a ministração “Sindicalismo Frente às Mudanças Climáticas”, a qual encerrou o penúltimo dia do congresso. E, segundo ele, o objetivo de transmitir informações sobre sindicalismo e meio ambiente para os profissionais técnicos brasileiros foi cumprido. “Várias personalidades palestraram, deixando inestimáveis exemplos e ensinamentos aos participantes, dando-lhes possibilidades para enfrentar os desafios das condições climáticas”, afirmou, depois de elogiar eloquentemente a realização do evento: “Tenho certeza de que os participantes não voltarão para suas casas com o mesmo nível de consciência que chegaram, tanto no posicionamento sobre o meio ambiente quanto nas relações sindicais”.

Doutor em Ciências Políticas, o professor argentino frisou ainda que tudo o que se aprende hoje é para ser aplicado a longo prazo, para uma sociedade sustentável, justa, com trabalho e melhores condições de vida para todos. “Essa luta é pela justiça social, solidariedade, meio ambiente sustentável, por uma economia justa e qualidade de vida digna. E não acaba comigo ou com cada um de vocês; nossos filhos, netos e todos que virão darão continuidade ao trabalho”, concluiu, enfaticamente.

“Movimento Sindical Internacional”

Com vasta experiência nas relações com trabalhadores e organizações sindicais internacionais, presidente da FLATIC recorre ao passado para a construção de um futuro sindical igualitário

Antes de Carlos Gaitan dissertar sobre o tema “Movimento Sindical Internacional”, o secretário-geral da UGT – União Geral dos Trabalhadores, Canindé Pegado, congratulou-se com a FENTEC – Federação Nacional dos Técnicos Industriais, cumprimentando os organizadores do evento e enaltecendo as lutas e o pioneirismo do presidente Wilson Wanderlei Vieira em trazer à discussão temas de grande relevância para a sociedade. “A UGT dará todo apoio às propostas conclusivas do congresso, tanto pela relevância do tema quanto pelo apreço para com a FENTEC, uma das primeiras entidades a se integrar à nossa base”, declarou o sindicalista.

Presidente de honra da FLATIC – Federación Latinoamericana de Trabajadores de las Industrias y la Construcción, Carlos Gaitan apresentou uma retrospectiva histórica do sindicalismo internacional, desde sua rápida expansão a partir da Revolução Industrial, no século 18, até os dias atuais, tendo por concepção a consciência de classe e o pensamento crítico. Fomentou, ainda, uma reflexão acerca da contribuição, no momento atual, para possíveis elaborações de estratégias que poderão agregar as forças em favor dos trabalhadores. Para ilustrar sua explanação, ele apresentou duas linhas de trabalho do sindicalismo: na horizontal, dispôs as centrais e confederações nacionais; e na vertical, as federações e os sindicatos. “Temos que nos conscientizar de que somos parte de toda essa história sindical sofrida e de muitas lutas, e creio que seu prosseguimento será muito próspero. Cada país, de acordo com suas legislaturas e políticas, poderá melhorar e desenvolver ainda mais o setor sindical”, projetou, para depois emendar, com um pensamento globalizado e novamente recorrendo ao passado: “Estamos todos numa mesma base informativa sindical de políticas. Não podemos deixar de lado o passado, pois, para pensar no futuro, devemos colocar na balança todas as contradições e seguir em frente com ações necessárias para construir um sindicalismo igualitário, solidário e unido frente à realidade do mundo”. Para cumprir esse propósito, o palestrante, com sua vasta experiência com trabalhadores e organizações internacionais, conhece bem o caminho: “É de extrema importância desenvolver uma reflexão mais cuidadosa sobre o próprio movimento sindical”, finalizou.

“Encerramento dos Trabalhos e Leitura do Documento Final do Congresso”

Calorosa salva de palmas, discursos de agradecimentos e promessa de um novo encontro para o próximo ano marcam o encerramento do congresso

Durante três dias, grandes personalidades e líderes ligados ao movimento sindical nacional e internacional estiveram reunidos para discutir um problema que interessa e preocupa toda a sociedade: as alterações climáticas e os desafios de construir um mundo moderno, com mais justiça social e autossustentável. Depois de muitas explanações e debates, foram lidas e aprovadas por todos os congressistas presentes, inúmeras propostas com o intuito de definir o papel das entidades sindicais latinoamericanas frente aos desafios das mudanças climáticas, tais como:

- A educação sindical ambiental;

- Solicitação para que seja incluída na grade dos Técnicos Industriais matérias que contemplem as questões de ecologia social e humana;

- Defesa do emprego digno e sustentável;

- Defesa de uma economia verde, com trabalho e inclusão social;

- Construção de uma rede internacional de entidades sindicais, devidamente focadas e preocupadas com as mudanças climáticas;

- Cooperação e participação das Centrais Sindicais brasileiras, da CSA – Confederação Sindical das Américas, e da CSI – Confederação Sindical Internacional, visando a oferecer respostas em conjunto aos problemas decorrentes das mudanças climáticas;

- Participação, preparação e realização da Rio+20, conferência da ONU – Organização das Nações Unidas agendada para junho de 2012;

- Satisfação quanto à participação da CMADS – Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS), bem como de conselhos de profissionais e entidades sindicais de maior instância, incluindo a CNPL – Confederação Nacional das Profissões Liberais;

- Encaminhamento do documento conclusivo para os meios de imprensa, autoridades e órgãos públicos federais, estaduais e municipais, bem como para entidades internacionais envolvidas com o tema.

“Nosso congresso não se limitou e incluiu em seu conteúdo assuntos climáticos que são percebidos como um problema de amplo alcance na coletividade humana, com profundos desdobramentos econômicos, políticos, sociais e ambientais”, afirmou Wilson Wanderlei Vieira, presidente da FENTEC – Federação Nacional dos Técnicos Industriais.

Um a um, os congressistas tomaram a palavra, extremamente satisfeitos pelo nível das discussões e cientes de que, com seus conhecimentos e experiências, contribuíram significativamente com a causa abraçada pelos organizadores, representantes de uma das mais importantes classes trabalhistas: os profissionais da área técnica e tecnológica. “Estou saindo daqui com o conhecimento mais enriquecido pelas palestras ministradas nesses três dias e, com certeza, levarei esses conhecimentos aos meus companheiros angolanos”, afirmou o presidente da Federação dos Metalúrgicos e Químicos de Angola, Simão Kibeta.

Para Nilson da Silva Rocha, vice-presidente da FENTEC e da OITEC-Brasil – Organização Internacional de Técnicos, as mudanças climáticas constituem problemas de segurança nacional e internacional. “Por isso, a união das entidades sindicais da América Latina é uma necessidade. É indispensável discutir os critérios para identificar os fatores e soluções para tais dificuldades”, apontou.

Em seu discurso de encerramento, Wilson Wanderlei Vieira agradeceu pela participação de todos, ressaltando que, a cada dia, debates sobre mudanças climáticas ganham mais envergadura como temática de análise sindical. Por fim, salientou que espera contar novamente com tão ilustres convidados na próxima edição do congresso. “Esperamos ter auxiliado na compreensão da gravidade desse tema e aguardamos pelo retorno de todos para nosso próximo congresso no ano que vem, com a confiança de termos conosco muito mais representantes da América Latina”, encerrou.

Fonte: Revista da FENTEC - Edição 35

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 24/08/2011
Reeditado em 24/08/2011
Código do texto: T3179755
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