AEB - REFERÊNCIA ENTRE AS ENTIDADES SOCIAIS EVANGÉLICAS

Por meio de parcerias com organizações públicas e privadas, como o Mackenzie, AEB desenvolve diversos projetos humanitários e se torna referência entre as entidades sociais evangélicas

Foi em Porto Feliz, pequeno município paulista, que nasceu Otoniel de Campos Mota, em 16 de abril de 1878. Ordenado pastor em 1903 pelo Seminário Teológico Presbiteriano, ele se tornou um dos mais importantes líderes evangélicos de seu tempo, participando ativamente da fundação da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, a qual dirigiu por nove anos – de 1923 a 1932. Exerceu, ainda, as funções de professor de literatura luso-brasileira, filosofia e de teologia; diretor da Biblioteca Pública do Estado; e fez parte de importantes instituições, como a Sociedade de Estudos Filológicos, o Instituto Histórico de São Paulo e a Academia Paulista de Letras. Entretanto, foi à atividade humanitária que ele dedicou praticamente toda a sua vida. Na década de 1920, sensibilizado com a doença da filha – tuberculose, ou “peste branca” como era chamada – e de muitas outras vítimas acometidas pela mesma moléstia, transformou-se num dos pioneiros no desenvolvimento de trabalhos sociais, fundando o Orfanato Betel de Campinas e a Vila Samaritana da AEB de São José dos Campos. Surgia, então, o embrião do que é hoje uma das mais importantes e atuantes entidades evangélicas de ajuda ao próximo, cujos trabalhos estendem-se para diversas áreas: educação infantil, formação musical, atendimento a idosos, inclusão digital, profissionalização, atividades esportivas, saúde, enfim, setores que, teoricamente, deveriam ser de responsabilidade de órgãos públicos. O pastor Otoniel faleceu em agosto de 1951, aos 73 anos, mas seu legado permanece, e a AEB continua transformado milhares de vidas, tanto socialmente como espiritualmente.

Grande e bonita propriedade, com pomar, granja e horta, regada de muita tranquilidade, ideal para a recuperação de dezenas de enfermos – a maioria, evangélicos sem recursos. Assim era, nas primeiras décadas, a Vila Samaritana. A preocupação, no entanto, não estava voltada somente à saúde do corpo, mas também ao engajamento espiritual; pois, nunca é demais relembrar o popularizado provérbio latino “mens sana in corpore sano” – ou, mente sã em corpo são. Como premissa para os cuidados da alma, ali mente sã também era sinônimo de evangelismo, tanto que cultos eram realizados diariamente, além das sessões semanais regulares, sempre ministradas por eloquentes pregadores.

O trabalho da AEB ganhava notoriedade perante a sociedade e, de carona na Constituição de 1937, que garantia maior proteção social aos cidadãos, os dirigentes propuseram a ampliação do atendimento; além das vítimas da “peste branca”, também eram atendidas crianças – o Lar da Infância teve início na Avenida Angélica, em São Paulo, onde hoje funciona a sede administrativa da entidade – e idosos. Com isso, a AEB começava a se descentralizar, passando a administrar outras instituições – aliás, antes também geridas por associações cristãs –, como o Sanatório Ebenezer de Campos do Jordão, a partir de 1940, e o Hospital Evangélico de Sorocaba, dois anos mais tarde, cujo prédio foi totalmente reconstruído e equipado. Com o tempo e, por circunstâncias diversas, alguns centros foram sendo repassados a outros gestores administrativos, públicos ou privados. No entanto, o hospital, em Sorocaba, permanece com a AEB.

Comemorações – Nety Souza, 23 anos, cursa cinesiologia – ciência que estuda os movimentos do corpo humano – em Midland, Texas, e joga na liga feminina de basquete. A paixão pelo esporte começou há cerca de dez anos, quando ela se integrou à equipe de handebol da AEB, no Capão Redondo, bairro pobre de São Paulo. Devido à sua altura, logo se transferiu para o basquete e viu surgirem as primeiras oportunidades de ascensão profissional, começando pelo time de Santo André. Em visita ao Brasil, um treinador norte-americano descobriu seu talento e a indicou para a direção do Midland, onde ela foi prontamente aceita. E depois de superar todos os desafios, principalmente a saudade de viver longe da família, ela fala com propriedade aos que buscam uma oportunidade na vida: “Se você realmente tem um sonho vá em frente, não desista. É mais fácil ir e tentar do que olhar para trás e perceber que nunca tentou”, diz, em tom filosófico.

A história de Nety é apenas mais uma entre as muitas que só se tornaram reais graças à ajuda humanitária da AEB e, claro, com o comprometimento dos envolvidos. Por isso, também, que o trabalho realizado pela entidade continua firme e forte. Atualmente, são mais de mil crianças distribuídas em seis centros de educação infantil; dezenas de idosos vivendo em regime residencial; centenas de adolescentes envolvidos com atividades esportivas ou de aprendizagem musical – dali surgiu a orquestra Criar &Tocar –; jovens matriculados em cursos de formação profissional; além de trabalhos junto a moradores de rua em programas de reintegração social. Tudo isso, com a devida orientação cristã, mas sem qualquer discriminação. “A AEB atende sem distinção de crenças, nível socioeconômico, nacionalidade, idade ou sexo. Isso, de forma gratuita e oferecendo elevados padrões de qualidade na garantia da defesa dos direitos civis e sociais”, esclarece o secretário executivo da entidade, Paulo Soares Cintra.

No dia 9 de setembro, a AEB completou 83 anos de fundação, data comemorada com uma série de eventos: cultos de ação de graças, feijoada, apresentação musical e banquete para mais de 200 convidados. Além da diretoria, o jantar contou também com a presença de importantes líderes evangélicos e da política, como o reverendo Roberto Brasileiro, presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil; Hesio Maciel, presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie; o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD); e representantes dos deputados peesedebistas Fernando Capez, Vaz de Lima e Carlos Alberto Bezerra Jr., todos evangélicos. “As comemorações foram repletas de bênçãos, e o jantar marcado por alegria, amizade, camaradagem e companheirismo”, revela Paulo Soares, que considera importante a presença de parlamentares nos eventos e ações angariadas pela entidade. “A participação de representantes do poder legislativo expressa a forma legítima com que a AEB vem exercendo seus propósitos, que é tornar-se referência na elaboração e gestão de programas de interesse público que buscam desenvolver e emancipar pessoas como sujeito de direitos à luz dos valores humanos universais e dos princípios cristãos”, esclarece.

Em tempos em que a política anda desacreditada e a iniciativa de entidades filantrópicas nunca esteve tão em evidência, que mal há nessa união se é para o bem comum? Que seja, então, bem feito.

Fonte: Revista Eclésia - Edição 150

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 04/01/2012
Reeditado em 04/01/2012
Código do texto: T3422180
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