ALCEU ROSOLINO - TANGO, MATEMÁTICA E ELETROTÉCNICA

Apreciador de livros de matemática, bom dançarino de tango e dono de uma sabedoria enciclopédica, Alceu Rosolino esbanja carisma e simpatia ao longo de seus 88 anos

Quando o assunto é “filhos ilustres”, a pequena São Manuel, cidade localizada na região central do Estado de São Paulo, tem motivos de sobra para comemorar. De lá surgiram importantes nomes que fizeram e continuam fazendo história mundo afora; entre eles o ex-governador de São Paulo, Laudo Natel; Mário Martins de Almeida, um dos mártires da Revolução Constitucionalista de 1932 (ver matéria na página 16); Alice Soares de Toledo, mãe da rainha Silvia, da Suécia; Otávio Augusto, o Diógenes da novela global Avenida Brasil; Emílio Surita, apresentador do humorístico Pânico na TV; a dupla caipira Tonico e Tinoco; e ainda Alceu Rosolino, o mais ilustre diretor do SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo.

Técnico em Eletrotécnica, ex-professor e escritor, Alceu Rosolino é dono de uma sabedoria enciclopédica, capaz de passar horas dissertando sobre qualquer assunto. E a paixão pela matemática e eletrotécnica não é por mero acaso; já na infância começou a se familiarizar com as “engenhocas” tecnológicas da época graças a seu pai, o agricultor italiano João Rosolino, um aficionado pelo rádio, que instalava e comercializava modelos da marca Telefunken, antes mesmo da alemã Siemens produzi-los no Brasil. O negócio prosperou, pelo menos até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, quando a importação de peças tornou-se praticamente impossível. Não demorou, então, que eclodisse a ideia de se criar uma estação de rádio não oficial – a PRI-6. Nela, ainda adolescente, Alceu Rosolino assumiu a função de operador. Mesmo em caráter experimental, a iniciativa foi um sucesso, e a emissora prosperou até que o governo federal baixasse uma lei impedindo que cidadãos estrangeiros se tornassem proprietários de veículos de comunicação – João Rosolino não era naturalizado, diga-se de passagem.

Na década de 1970, Alceu Rosolino mudou-se com a esposa e filhos para São Paulo, onde trabalhou em diversas empresas do ramo de eletricidade, eletroerosão e refrigeração. Formou-se como Técnico em Eletrotécnica pela Escola Técnica Getúlio Vargas, licenciando-se também em Ciências Físicas e Naturais. Duas décadas mais tarde, aposentado, interessou-se pelo Decreto nº 90.922/1985 ao participar das reuniões do SINTEC-SP. Não tardou para que o presidente Wilson Wanderlei Vieira o convidasse para fazer parte da diretoria da entidade; contudo, abalado pela morte da esposa e acreditando estar “muito velho” para assumir tal responsabilidade, declinou do convite, mas sem se afastar das atividades relacionadas ao movimento sindical. Em 1992, após palestrar num seminário de engenharia em Maceió (AL), ele repensou a proposta e passou a fazer parte do quadro efetivo do sindicato. Foi secretário geral até 2002 e, atualmente, ocupa o cargo de diretor-adjunto.

Láureas e homenagens – De seu acervo literário pessoal composto por mais de 500 livros técnicos, Alceu Rosolino aponta uma publicação de 1896, que resgata a construção da Torre Eiffel, em Paris. Contudo, quem o conhece destaca as obras de sua própria autoria: Física e Resistência de Materiais, Aterramentos em Eletrotécnica, Mecânica de Fluídos e Pequena História sobre a Formação Técnica no Brasil (título provisório), todos com a chancela do SINTEC-SP.

Diante de tamanha aptidão vocacional e comprometimento ao longo das décadas, nada mais natural que recebesse inúmeras láureas em reconhecimento por seu trabalho como profissional técnico e ações filantrópicas, como a “Medalha do Mérito do Sistema CONFEA/CREA” e “Cidadão Emérito de São Manuel”, respectivamente em 2007 e 2010. “Isso quer dizer que em algum momento da minha vida eu fiz a coisa certa”, brinca, salientando ser herança do pai, que sempre se mostrou engajado em ajudar o próximo. A mais recente homenagem, no entanto, aconteceu por ocasião de seu 88º aniversário, comemorado no dia 31 de março. O ambiente e a trilha sonora não poderiam ser mais propícios: o Circolo Italiano, um dos restaurantes mais tradicionais de São Paulo, ao som da Tarantella Napoletana e outras canções típicas da Itália. Companheiros de trabalho, familiares e demais convidados fizeram questão de comparecer para lhe dar os parabéns; entre eles Francisco Antonio Feijó, presidente da CNPL – Confederação Nacional das Profissões Liberais. “Quando alguém me pergunta sobre a minha formação, imediatamente eu respondo: ‘Sou, também, Técnico Industrial em Eletrotécnica, com orgulho’”, salienta Alceu Rosolino, recordando cada detalhe do passado, feliz da vida no presente e otimista em relação ao futuro. “Sou uma pessoa muito satisfeita com a vida. Meus filhos se formaram e estão bem encaminhados, e agora eu acompanho a evolução profissional dos meus netos”, conclui.

Jogo rápido

Prato predileto: cheio.

Música: instrumental, clássica.

Personalidade: meu tio João Corce e os inventores do transistor; pois, graças a eles é que temos computadores pessoais, telefones celulares, e muitos equipamentos eletrônicos compactos e baratos.

Livro: já li tantos, mas sempre apreciei os livros de matemática.

Trabalho: é a vida, quem não trabalha não vive.

Sonho: trabalho.

Saudade: duas, da minha mãe e minha avó.

Lugar predileto: minha casa, não existe lugar melhor do que a nossa casa.

Alceu Rosolino por Alceu Rosolino: um cara comum, que foi bom dançarino de tango e não tem certeza se é merecedor de tantos méritos, mas as coisas vão acontecendo... e vão.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 153

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/3912045

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